INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
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Introdução aos<br />
Estudos<br />
Literários<br />
Bakhtin em seu Epos e Romance<br />
Depois de termos visto a questão dos gêneros literários e a especifi cidade<br />
de cada um deles, veremos agora um pouco do seu hibridismo, ou seja, como<br />
cada gênero não funciona de forma totalizante e encerrada em si mesma. Pensar<br />
o épico como uma narrativa permeada de fatos heróicos não nos impede de<br />
encontrar em sua estrutura alguns lances que, possivelmente, podem soar<br />
trágicos ou que contenham um lirismo intenso. O que é preciso perceber é o que predomina em<br />
cada gênero, percebendo sua escrita, sua estrutura, a forma como se é contada a história, para,<br />
daí, tirar as inferências sobre se tal história seria épica, trágica ou um poema lírico.<br />
No texto a seguir, a autora trabalha com alguns pensamentos<br />
de M. Bakhtin, refl etindo sobre o nascimento do romance a partir<br />
da épica e suas transformações. Para Bakhtin, o romance é<br />
um gênero que se constitui em forma de expressão inacabada,<br />
apresentando um ciclo contínuo do homem. Em seus estudos, o<br />
autor aborda o romance como “gênero que está por se constituir,<br />
levando-se em conta o processo de evolução de toda a literatura<br />
nos tempos modernos...” (1988, p. 403). Assim, desenvolve uma<br />
análise comparativa entre o romance e a epopéia e, a partir daí, vê<br />
esta última como forma de expressão da memória e o romance como forma de conhecimento,<br />
já que nele o herói passa por um processo de conhecimento de si mesmo no momento atual,<br />
no contato com as pessoas da época e suas opiniões, revelando-se como uma quebra da<br />
representação do mundo do modo fechado e defi nido do épico.<br />
Vamos a algumas reflexões propostas pelo texto que segue abaixo:<br />
A TEORIA DO ROMANCE E A ANÁLISE ESTÉTICO-CULTURAL DE M. BAKHTIN<br />
Irene A. Machado (professora da PUC-SP e autora de Analogia do dissimilar<br />
(Editora Perspectiva)<br />
(...)<br />
Considerando que o processo de interação dialógica, desenvolvido nas diversas esferas<br />
da atividade humana, gera infi nitas modalidades comunicativas, são igualmente infi nitas<br />
as espécies de gêneros discursivos que Bakhtin reuniu. Dentre esta variedade de gêneros<br />
discursivos, destacam-se os gêneros do discurso literário, mais especifi camente a prosa<br />
romanesca. É nesta modalidade de discurso que Bakhtin vai encontrar elementos concretos<br />
para a explicitação da forma signifi cante, a que aludira no ensaio anterior, pois acreditava<br />
que nos gêneros do discurso literário se acumulam, durante séculos, formas de compreensão<br />
de determinados aspectos do mundo, cujos sentidos explicitam o caráter de uma época e<br />
seu desdobramento futuro. E, segundo Bakhtin, o único gênero que soube representar toda<br />
a dinâmica desse grande tempo foi o romance. Suas refl exões sobre o romance estão de<br />
tal modo tomadas pela preocupação de desvelar, na forma enunciativa, o dimensionamento<br />
ideológico, que se tornaram um verdadeiro manifesto sobre a cultura de nossa era. Bakhtin<br />
empreende uma leitura entusiástica e apaixonada do romance, pois entende ser ele não só a<br />
síntese das representações culturais formadas ao longo do tempo, como também um embrião<br />
de procedimentos para composições futuras. O romance é um gênero que, ao debruçar-se<br />
sobre o presente, descobre um tempo que não é o seu. Este diálogo transtemporal estimula<br />
o fascínio de Bakhtin e o leva a elaborar uma das mais notáveis teorias do romance, cujos<br />
pontos principais se concentram neste ensaio.<br />
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