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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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se de regras e modelos pela via do poema alcançando um outro espaço, o espaço possível<br />

da liberdade e do sonho.<br />

Tomando como exemplo alguns poetas modernos brasileiros poderemos perceber que<br />

o texto se constitui como uma fotografi a ou uma pintura, em que o sujeito lírico é o elemento<br />

que une as escolhas de linguagem que forma o texto em si.<br />

Pensão familiar 14<br />

Manoel Bandeira<br />

Jardim da pensãozinha burguesa,<br />

Gatos espapaçados ao sol.<br />

A tiririca sitia os canteiros chatos.<br />

O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.<br />

Os girassóis<br />

amarelo!<br />

resistem.<br />

E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais,<br />

Um gatinho faz pipi.<br />

Com gestos de garçom de restaurant-Palace<br />

Encobre cuidadosamente a mijadinha.<br />

Sai vibrando com elegância a patinha direita:<br />

– É a única criatura fi na na pensãozinha burguesa.<br />

É pela construção do texto que se revela o sujeito do/no texto, ponto de encontro com o leitor,<br />

elemento indispensável para que o efeito leitura-tradução seja realizado, e tenha signifi cação.<br />

Algumas outras questões a respeito da poesia ainda merecem destaque, como as<br />

suas características e a diferenciação de outros gêneros literários. Vamos ver?<br />

Ezra Pound 15 resume os aspectos representativos da poesia em melopéia, logopéia<br />

e fanopéia, em que cada um desses aspectos corresponde às características rítmicas,<br />

organização/combinação de palavras (forma), e visuais, respectivamente. A fanopéia consiste<br />

na projeção do objeto na imaginação visual; a melopéia se refere à musicalidade ou ritmo; e<br />

a logopéia designa a arte de combinar palavras, dando-lhes forma e conteúdo, e provocando<br />

efeitos e associações através das duas características anteriores, a fanopéia e a melopéia.<br />

Mauro Faustino ainda ressalta dois aspectos importantes na poesia: o prosaico e o<br />

poético. Ambos estão contidos de modo implícito na escrita, considerando que não haveria uma<br />

literatura que, por mais prosaica que fosse, como por exemplo, um relatório, não contivesse<br />

sequer uma palavra, ou uma organização de palavras que não se confi gurasse como “poética”;<br />

por outro lado, não haveria uma poesia tão pura que não abordasse algo prosaico.<br />

Todavia, esclarecemos que a distinção entre a prosa e a poesia se faz por alguns outros<br />

aspectos, a saber: do ponto de vista formal citamos os aspectos concretos, ou exteriores,<br />

da poesia como a sua representação gráfi ca. Acrescente-se também o fato que o poema<br />

possui um caráter mais musical que a prosa – lembremos que no que pese a poética ter se<br />

desvinculado da música, esta ainda se faz presente, marcando a poesia através do ritmo e da<br />

rima, fl uindo e confi gurando o poema. Considerando a prosa e a poesia, ou especifi camente<br />

prosa e verso, como idéias contrastantes, observamos que ambas as formas se distinguem<br />

14 - BANDEIRA, Manoel. Op.cit.loc.cit. p. 27.<br />

15 - POUND, Ezra. Apud MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Ed. Cultrix, 1974. p. 316 e 323.<br />

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