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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS

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não tem consciência disso e pretenda uma reprodução fi dedigna da realidade. Embora o<br />

texto de Aristóteles não avance a tal ponto, admite-se que a diferença entre o texto “fi ccional”<br />

e o “histórico” ou “científi co” reside no fato que na fi cção existe a consciência do real como<br />

“construção”, enquanto que no segundo, se crê estar reproduzindo os acontecimentos com<br />

fi delidade. Ambos os discursos são, digamos assim, “construções”: enquanto o artista<br />

“constrói” a realidade de forma consciente, o historiador tradicional crê estar se reportando<br />

à realidade dos acontecimentos.<br />

Verossimilhança Interna e Externa<br />

Com relação ao texto artístico podemos observar dois tipos de verossimilhança,<br />

de acordo com o grau de “semelhança” ou “afastamento” da obra diante do mundo<br />

físico, caracterizando, assim, a verossimilhança como interna ou externa. Quando há a<br />

predominância, na obra, de aspectos físicos que se relacionam com o mundo em que vivemos,<br />

chamamos de verossimilhança externa. Por exemplo, Manuel Bandeira, no poema Evocação<br />

do Recife retrata a cidade do Recife, mesmo que em outra época, a partir de lugares reais,<br />

aproximando-se do contexto de realidade e provocando a verossimilhança externa:<br />

Evocação do Recife<br />

Manoel Bandeira<br />

Recife<br />

Não a Veneza americana<br />

Não a Mauritsstaad dos armadores das Índias Ocidentais<br />

Não Recife dos mascates<br />

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois Recife das revoluções libertárias<br />

Mas o Recife sem história nem literatura<br />

Recife sem mais nada<br />

Recife da minha infância<br />

A Rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa<br />

de Dona Aninha Viegas<br />

Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz<br />

Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras, mexericos, namoros, risadas<br />

A gente brincava no meio da rua<br />

Os meninos gritavam:<br />

Coelho sai!<br />

Não sai!<br />

A distância as vozes macias das meninas politonavam:<br />

Roseira dá-me uma rosa<br />

Craveiro dá-me um botão<br />

(Dessas rosas muita rosa<br />

Terá morrido em botão...)<br />

De repente<br />

Nos longes da noite<br />

Um sino<br />

Uma pessoa grande dizia:<br />

Fogo em Santo Antonio!<br />

Outra contrariava: São José!<br />

Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.<br />

Os homens punham o chapéu e saíam fumando<br />

E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ver o fogo<br />

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