REVISTA SCIENTIA Nº 11
A revista Scientia em seu número 8 traz artigos na área de engenharia, gestão e direito, com foco em pesquisas que resultaram em artigos tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação. O propósito de difusão de conhecimento de um periódico científico deve ser cumprido na medida que se abre para temáticas relevantes e interdisciplinares, promovendo o diálogo entre temas e áreas diferentes, com aportes metodológicos também variados para compor a riqueza epistemológica e o seu valor como produção de conhecimento.
A revista Scientia em seu número 8 traz artigos na área de engenharia, gestão e direito, com foco em pesquisas que resultaram em artigos tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação. O propósito de difusão de conhecimento de um periódico científico deve ser cumprido na medida que se abre para temáticas relevantes e interdisciplinares, promovendo o diálogo entre temas e áreas diferentes, com aportes metodológicos também variados para compor a riqueza epistemológica e o seu valor como produção de conhecimento.
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Daniel Souza Andrade; Hilda Costa dos Santos Talma<br />
como remanescente de quilombo. Estas comunidades ainda não possuem redes de esgotos ou<br />
fossas sépticas, nem mesmo água tratada.<br />
A atividade de mariscagem é predominantemente feminina e, em muitos casos, as<br />
mulheres são as principais responsáveis pelo sustento das famílias, que dependem do<br />
manguezal e dos mariscos para obtenção da sua renda mensal, que gira em torno de 300 reais 3 .<br />
As marisqueiras relatam a diminuição de algumas espécies nas últimas décadas,<br />
principalmente, das ostras, o marisco mais valorizado e, portanto, com grande impacto na renda<br />
delas. Entre as possíveis causas dessa diminuição dos estoques naturais estão os grandes<br />
empreendimentos na região: a Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo, o estaleiro Enseada<br />
Indústria Naval e as plantações de eucalipto no entorno das áreas de manguezal. O ICMBio<br />
concorda, mas também aponta a sobrepesca como uma das causas, decorrente do aumento<br />
populacional e do número de beneficiários da Reserva.<br />
Apesar da redução das populações de ostras na área foco da campanha, afetando também<br />
o tamanho dos espécimes encontrados, as marisqueiras, por não terem outra fonte de renda,<br />
recorrem a essa espécie pela sua alta rentabilidade, retirando-a muitas vezes ainda em fase de<br />
desenvolvimento. Elas relatam que há anos atrás conseguiam tirar um quilo de ostras<br />
beneficiadas em um único dia de trabalho, mas que hoje precisam ir em média três vezes aos<br />
manguezais para conseguirem essa mesma quantidade. A produção de mariscos é vendida ao<br />
atravessador, que paga preços irrisórios, e os revende aos restaurantes e mercados de Salvador.<br />
Para se ter uma ideia as marisqueiras vendem um quilo de ostras limpas, aferventadas e<br />
desconchadas por 16 reais, e o atravessador revende por 35 reais.<br />
Para retirar as ostras elas utilizam um utensílio chamado farracho, um facão inutilizado,<br />
técnica que não agride o manguezal. As marisqueiras costumam adentrar ao manguezal em<br />
grupos, mas a coleta e a comercialização dos mariscos são individuais. Em virtude das muitas<br />
horas do dia em ambiente úmido e agachadas sobre os joelhos, é comum desenvolverem<br />
doenças ginecológicas e ortopédicas. Além disso, há sempre o risco de cortes na pele, por conta<br />
das conchas de ostras e outros bivalves, perigo ainda maior para as marisqueiras que apresentam<br />
o diabetes.<br />
3<br />
Dados obtidos pelo Diagnóstico Socioeconômico da Reserva Baía do Iguape, elaborado em 2014, sob a<br />
coordenação do professor José Ambrósio Ferreira Neto.<br />
ISSN 2525-4553 Revista Scientia, Salvador, v. 4, n. 3, p. <strong>11</strong>-28, set./dez. 2019.<br />
http://uniceusafacsal.com.br/scientia<br />
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