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edição de 27 de janeiro de 2020

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mkt<br />

Unsplash<br />

Catadores<br />

<strong>de</strong> patinetes<br />

“Não há nada mais<br />

enganador que o óbvio”.<br />

Sherlock Holmes<br />

Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />

Na paisagem das cida<strong>de</strong>s brasileiras<br />

acostumamo-nos com os catadores.<br />

Catadores <strong>de</strong> papel, catadores <strong>de</strong> lixo, catadores<br />

<strong>de</strong> latinhas <strong>de</strong> alumínio <strong>de</strong> refrigerantes<br />

e cervejas, e num passado mais<br />

distante os compradores e catadores <strong>de</strong><br />

jornais velhos. Hoje uma espécie em franca<br />

<strong>de</strong>cadência diante do <strong>de</strong>bacle dos jornais.<br />

Agora, e nas noites das principais cida<strong>de</strong>s<br />

do Brasil, com <strong>de</strong>nominação pomposa,<br />

os chargers. Isso mesmo, os catadores dos<br />

patinetes largados pelas ruas, que, a soldo<br />

dos aplicativos, dão um trato nos patinetes,<br />

recarregam nas tomadas, e os <strong>de</strong>volvem<br />

nos pontos <strong>de</strong> retirada.<br />

Os chargers ganham, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />

aplicativo, entre R$ 5 e R$ 7 por patinete<br />

resgatado. O aplicativo Grin, por exemplo,<br />

paga R$ 7. Já a Yellow paga R$ 3 pelo resgate<br />

e R$ 2 pela entrega nas bases <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que e<br />

<strong>de</strong>vidamente recarregados. Da mesma maneira<br />

como aconteceu com o negócio <strong>de</strong> papel,<br />

latinhas, jornais, a briga está instalada<br />

e organizações se formando. Disputando<br />

pelo resgate dos patinetes.<br />

Em matéria recente <strong>de</strong> O Globo, um dos<br />

caça-patinetes, Mario Queiros, disse “às vezes<br />

acontecem até algumas discussões porque<br />

chegamos antes e tem gente que tenta<br />

pegar os patinetes que já reservamos...”.<br />

Cenas <strong>de</strong>finitivas <strong>de</strong> um mundo novo?<br />

Não existe nada <strong>de</strong>finitivo daqui para<br />

frente. Cenas da transição <strong>de</strong> um mundo<br />

velho para o novo, on<strong>de</strong> se formam novos<br />

costumes, que mais adiante passarão <strong>de</strong>spercebidos.<br />

Farão parte da paisagem. Mas<br />

que ganham uma dimensão extraordinária<br />

no Brasil <strong>de</strong> hoje, diante da crise econômica.<br />

Na matéria <strong>de</strong> O Globo a constatação<br />

<strong>de</strong> que muitos <strong>de</strong>sempregados encontraram<br />

na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> charger uma chance<br />

<strong>de</strong> atenuarem a secura <strong>de</strong> suas carteiras,<br />

enquanto outros, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolarem<br />

uma renda extra para completar o<br />

orçamento. Como já comentei com vocês,<br />

e agora reitero uma vez mais, <strong>de</strong>ntre todas<br />

as novida<strong>de</strong>s, a dos patinetes é uma megatolice.<br />

Bobagem monumental! Que não<br />

resistirá mais que dois ou três verões. Mas,<br />

enquanto isso, o assunto segue nas pautas<br />

das plataformas <strong>de</strong> comunicação, e nos<br />

possibilitando reflexões e aprendizados do<br />

que é, ou são, negócios <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Estava terminando este artigo quando<br />

chega a notícia: “Seis meses após ser lançada,<br />

operadora <strong>de</strong> patinetes Lime encerra<br />

ativida<strong>de</strong>s no Brasil. (Reuters, 9 jan, <strong>2020</strong>)...<br />

a Lime <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> atuar em São Paulo nas<br />

próximas semanas e no Rio nos próximos<br />

meses. As operações em Buenos Aires, Bogotá,<br />

Montevi<strong>de</strong>o, Lima e Puerto Vallarta<br />

também estão sendo encerradas...”.<br />

Da alegria e diversão da criançada do<br />

passado à quebração provisória <strong>de</strong> galho<br />

<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong>sempregados. Catadores<br />

<strong>de</strong> patinetes. Jornais, revistas, papel velho,<br />

latinha, e, por um curto espaço <strong>de</strong> tempo,<br />

patinetes...<br />

Muito brevemente, espero e confio, os<br />

chargers, catadores <strong>de</strong> patinetes, voltarão<br />

a se empregar, e encontrar uma utilização<br />

compatível com o capital <strong>de</strong> seus conhecimentos.<br />

Não é indigno catar latinhas, comprar<br />

jornal velho, resgatar patinetes.<br />

Mas não foi exatamente para isso que<br />

viemos ao mundo. Por outro lado, os patinetes<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, aqueles <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e rodinha,<br />

voltarão para as mãos das pessoas<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> jamais <strong>de</strong>veriam ter saído. E pondo<br />

fim a essa estupi<strong>de</strong>z e tolice que é fazê-<br />

-los elétricos. Voltarão a ser brinquedos, e<br />

motivos <strong>de</strong> alegria, felicida<strong>de</strong> e pequenos<br />

tombos das crianças. Já como transporte,<br />

os patinetes elétricos são uma temerida<strong>de</strong>.<br />

E como negócio, repito, anotem, cobrem <strong>de</strong><br />

mim daqui a 2 ou 3 anos, uma bobagem.<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

famadia@madiamm.com.br<br />

22 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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