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mkt<br />
Unsplash<br />
Catadores<br />
<strong>de</strong> patinetes<br />
“Não há nada mais<br />
enganador que o óbvio”.<br />
Sherlock Holmes<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Na paisagem das cida<strong>de</strong>s brasileiras<br />
acostumamo-nos com os catadores.<br />
Catadores <strong>de</strong> papel, catadores <strong>de</strong> lixo, catadores<br />
<strong>de</strong> latinhas <strong>de</strong> alumínio <strong>de</strong> refrigerantes<br />
e cervejas, e num passado mais<br />
distante os compradores e catadores <strong>de</strong><br />
jornais velhos. Hoje uma espécie em franca<br />
<strong>de</strong>cadência diante do <strong>de</strong>bacle dos jornais.<br />
Agora, e nas noites das principais cida<strong>de</strong>s<br />
do Brasil, com <strong>de</strong>nominação pomposa,<br />
os chargers. Isso mesmo, os catadores dos<br />
patinetes largados pelas ruas, que, a soldo<br />
dos aplicativos, dão um trato nos patinetes,<br />
recarregam nas tomadas, e os <strong>de</strong>volvem<br />
nos pontos <strong>de</strong> retirada.<br />
Os chargers ganham, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />
aplicativo, entre R$ 5 e R$ 7 por patinete<br />
resgatado. O aplicativo Grin, por exemplo,<br />
paga R$ 7. Já a Yellow paga R$ 3 pelo resgate<br />
e R$ 2 pela entrega nas bases <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que e<br />
<strong>de</strong>vidamente recarregados. Da mesma maneira<br />
como aconteceu com o negócio <strong>de</strong> papel,<br />
latinhas, jornais, a briga está instalada<br />
e organizações se formando. Disputando<br />
pelo resgate dos patinetes.<br />
Em matéria recente <strong>de</strong> O Globo, um dos<br />
caça-patinetes, Mario Queiros, disse “às vezes<br />
acontecem até algumas discussões porque<br />
chegamos antes e tem gente que tenta<br />
pegar os patinetes que já reservamos...”.<br />
Cenas <strong>de</strong>finitivas <strong>de</strong> um mundo novo?<br />
Não existe nada <strong>de</strong>finitivo daqui para<br />
frente. Cenas da transição <strong>de</strong> um mundo<br />
velho para o novo, on<strong>de</strong> se formam novos<br />
costumes, que mais adiante passarão <strong>de</strong>spercebidos.<br />
Farão parte da paisagem. Mas<br />
que ganham uma dimensão extraordinária<br />
no Brasil <strong>de</strong> hoje, diante da crise econômica.<br />
Na matéria <strong>de</strong> O Globo a constatação<br />
<strong>de</strong> que muitos <strong>de</strong>sempregados encontraram<br />
na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> charger uma chance<br />
<strong>de</strong> atenuarem a secura <strong>de</strong> suas carteiras,<br />
enquanto outros, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolarem<br />
uma renda extra para completar o<br />
orçamento. Como já comentei com vocês,<br />
e agora reitero uma vez mais, <strong>de</strong>ntre todas<br />
as novida<strong>de</strong>s, a dos patinetes é uma megatolice.<br />
Bobagem monumental! Que não<br />
resistirá mais que dois ou três verões. Mas,<br />
enquanto isso, o assunto segue nas pautas<br />
das plataformas <strong>de</strong> comunicação, e nos<br />
possibilitando reflexões e aprendizados do<br />
que é, ou são, negócios <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />
Estava terminando este artigo quando<br />
chega a notícia: “Seis meses após ser lançada,<br />
operadora <strong>de</strong> patinetes Lime encerra<br />
ativida<strong>de</strong>s no Brasil. (Reuters, 9 jan, <strong>2020</strong>)...<br />
a Lime <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> atuar em São Paulo nas<br />
próximas semanas e no Rio nos próximos<br />
meses. As operações em Buenos Aires, Bogotá,<br />
Montevi<strong>de</strong>o, Lima e Puerto Vallarta<br />
também estão sendo encerradas...”.<br />
Da alegria e diversão da criançada do<br />
passado à quebração provisória <strong>de</strong> galho<br />
<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong>sempregados. Catadores<br />
<strong>de</strong> patinetes. Jornais, revistas, papel velho,<br />
latinha, e, por um curto espaço <strong>de</strong> tempo,<br />
patinetes...<br />
Muito brevemente, espero e confio, os<br />
chargers, catadores <strong>de</strong> patinetes, voltarão<br />
a se empregar, e encontrar uma utilização<br />
compatível com o capital <strong>de</strong> seus conhecimentos.<br />
Não é indigno catar latinhas, comprar<br />
jornal velho, resgatar patinetes.<br />
Mas não foi exatamente para isso que<br />
viemos ao mundo. Por outro lado, os patinetes<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, aqueles <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e rodinha,<br />
voltarão para as mãos das pessoas<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> jamais <strong>de</strong>veriam ter saído. E pondo<br />
fim a essa estupi<strong>de</strong>z e tolice que é fazê-<br />
-los elétricos. Voltarão a ser brinquedos, e<br />
motivos <strong>de</strong> alegria, felicida<strong>de</strong> e pequenos<br />
tombos das crianças. Já como transporte,<br />
os patinetes elétricos são uma temerida<strong>de</strong>.<br />
E como negócio, repito, anotem, cobrem <strong>de</strong><br />
mim daqui a 2 ou 3 anos, uma bobagem.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
22 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark