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eyOnd the line<br />
Jaime Lopes/Unsplash<br />
O virtual vai<br />
matar o presencial?<br />
As soluções virtuais são plenamente<br />
cabíveis nesse momento crítico<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
Começo a escrever este artigo logo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> três eventos virtuais seguidos. O primeiro,<br />
usando uma plataforma proprietária<br />
do organizador; o segundo, por intermédio<br />
<strong>de</strong> uma sofisticada estrutura, pensada para<br />
eventos híbridos, com mo<strong>de</strong>radores num<br />
palco físico, <strong>de</strong>batedores online e mais <strong>de</strong><br />
mil participantes, também online; e o terceiro,<br />
por uma live no Instagram.<br />
São alternativas válidas para esses momentos<br />
<strong>de</strong> isolamento, para não <strong>de</strong>ixar a roda<br />
parar <strong>de</strong> girar. São soluções emergenciais,<br />
mas que geram um questionamento: será<br />
que elas representam o novo normal para o<br />
mercado <strong>de</strong> eventos?<br />
O fato é que a crise gerada pela interrupção<br />
dos eventos presenciais é <strong>de</strong> proporções<br />
catastróficas, fazendo minguar uma indústria<br />
(Live Marketing/Mice – Meetings, Incentive,<br />
Conferences & Exhibitions) que representa<br />
quase 13% do PIB nacional, gerando 25<br />
milhões <strong>de</strong> empregos (diretos e indiretos).<br />
As soluções virtuais são plenamente cabíveis<br />
nesse momento crítico, mas será que<br />
elas vieram para ficar? Se a ação é virtual,<br />
não há espaços sendo locados para receber<br />
o público participante, não há alimentos e<br />
bebidas, não há <strong>de</strong>slocamentos, cenografia<br />
e muitos outros itens, além <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />
contingente <strong>de</strong> profissionais, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
prestar serviços.<br />
O contratante po<strong>de</strong>, num primeiro momento,<br />
ficar tentado a imaginar que, pela dor<br />
<strong>de</strong> uma crise, encontrou uma nova forma <strong>de</strong><br />
interagir e passar conteúdo, mais barata e<br />
mais simples <strong>de</strong> implementar. Mas será que<br />
é isso mesmo?<br />
Antes <strong>de</strong> mais nada, é preciso ter em mente<br />
que todos esses recursos já estavam disponíveis<br />
antes da crise. Por que então não<br />
eram mais usados, em vez <strong>de</strong> complexos e<br />
trabalhosos eventos presenciais? Há algumas<br />
boas razões para isso. A primeira <strong>de</strong>las é<br />
que um evento não se presta pura e simplesmente<br />
para passar conteúdo e interagir com<br />
pessoas. É muito mais do que isso.<br />
A experiência proporcionada por um<br />
evento presencial é muito mais rica e envol-<br />
vente. É muito diferente, por exemplo, apresentar<br />
palestrantes por intermédio <strong>de</strong> telas<br />
do que tê-los ao vivo.<br />
E temos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar ainda tudo o que<br />
acontece no intervalo das palestras, nas ricas<br />
interações olho no olho, na discussão paralelas<br />
do que foi exposto, no networking, na<br />
troca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias.<br />
Com certeza, há eventos que ficam na<br />
nossa memória por toda a vida, por conta <strong>de</strong><br />
uma rica experiência vivida. O certo é que as<br />
pessoas vão aos eventos presenciais em busca<br />
<strong>de</strong> muito mais do que simplesmente acessar<br />
um conteúdo, seja <strong>de</strong> entretenimento,<br />
educacional, <strong>de</strong> negócios ou motivacional.<br />
Note o comportamento daqueles que pagam<br />
ingresso para ir a um gran<strong>de</strong> show, por<br />
exemplo. Uma gran<strong>de</strong> parte do público não<br />
está lá apenas para ver um artista ao vivo,<br />
muitos estão até <strong>de</strong> costas para o palco.<br />
Estar num evento assim é viver uma<br />
experiência especial, é encontrar pessoas<br />
interessantes, além <strong>de</strong> curtir bons momentos.<br />
Ah! E por um acaso tem um show rolando<br />
ao fundo... É inegável que algumas<br />
soluções emergenciais, como o regime <strong>de</strong><br />
home office, por exemplo, estão se mostrando<br />
eficazes, até para os momentos <strong>de</strong><br />
normalida<strong>de</strong>. É claro também que reuniões<br />
corriqueiras po<strong>de</strong>m ser viabilizadas por<br />
plataformas virtuais.<br />
É certo ainda que parte dos eventos po<strong>de</strong><br />
ser cumprida virtualmente, por intermédio<br />
<strong>de</strong> soluções híbridas. Mas não imagino<br />
que passemos a confiar nas telas para nossas<br />
interações especiais com objetivos mais<br />
nobres. Até porque já estamos submetidos a<br />
uma overdose <strong>de</strong> interações virtuais no dia<br />
a dia. Passamos horas e horas mergulhados<br />
em telas. Os eventos presenciais <strong>de</strong>vem quebrar<br />
essa ditadura e representar um momento<br />
realmente especial na vida das pessoas.<br />
Que não nos enganemos.<br />
O mundo dos eventos pós-crise não será<br />
assolado inexoravelmente pelas relações<br />
virtuais, eliminando as presenciais. O mundo<br />
do futuro é híbrido: presencial + virtual.<br />
É o que espero. Até porque não aguento mais<br />
interagir com pessoas através <strong>de</strong> quadradinhos<br />
em telas.<br />
Alexis Thuller Pagliarini é presi<strong>de</strong>nte-executivo da<br />
Ampro (Associação <strong>de</strong> Marketing Promocional)<br />
alexis@ampro.com.br<br />
20 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark