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editorial<br />
Armando Ferrentini<br />
aferrentini@editorareferencia.com.br<br />
o título é seu<br />
Dê o leitor o título que quiser a este editorial, em um momento da<br />
nossa economia que ninguém esperava, nem mesmo juntos, todos<br />
os adversários <strong>de</strong> Jair Bolsonaro na época das últimas eleições.<br />
O que estamos vendo é um país perdido em si mesmo, com os mais<br />
altos mandatários sem saber que providências tomar para que o<br />
caos mais absoluto não ocorra, tornando o país <strong>de</strong> vez inviável.<br />
Só para lembrar o que <strong>de</strong> há muito não presenciávamos nas altas<br />
esferas republicanas, temos um presi<strong>de</strong>nte da República tecendo<br />
armas com o governador do estado mais importante da Fe<strong>de</strong>ração.<br />
O episódio que proporcionaram dias atrás, não apenas chocou a<br />
população, como criou-lhe uma insegurança total a respeito dos<br />
po<strong>de</strong>res constituídos, pois a discussão assemelhou-se a um embate<br />
verbal entre adolescentes.<br />
Logo <strong>de</strong>pois, Bolsonaro insiste em brigar com o seu ministro da Saú<strong>de</strong>,<br />
um médico íntegro que está fazendo o possível e o impossível<br />
para minorar os efeitos <strong>de</strong>ssa praga do novo coronavírus entre nós.<br />
Tudo começou quando houve aquela discordância entre o presi<strong>de</strong>nte<br />
e o governador <strong>de</strong> São Paulo a respeito da paralisação total (ou<br />
quase isso) das ativida<strong>de</strong>s profissionais e escolares em todo o país.<br />
Bastou o ministro da Saú<strong>de</strong> manifestar, embora sutilmente, sua<br />
concordância com essa tese, para ser consi<strong>de</strong>rado um fora <strong>de</strong> linha<br />
em relação ao seu chefe, o presi<strong>de</strong>nte Bolsonaro.<br />
A miscelânia em que isso se transformou leva o observador mais<br />
atento à conclusão <strong>de</strong> que todos po<strong>de</strong>m estar certos, como também<br />
que todos po<strong>de</strong>m estar errados, o que só complica a solução <strong>de</strong> uma<br />
crise <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como jamais havíamos tomado conhecimento ter havido<br />
em nosso país.<br />
Para engrossar ainda mais o caldo, criou-se inclusive <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes<br />
do novo coronavírus um embate político e factual entre o presi<strong>de</strong>nte<br />
e gran<strong>de</strong> parte da imprensa brasileira, que po<strong>de</strong> ter muitas<br />
origens, inclusive o temor <strong>de</strong>sta <strong>de</strong> que com o tempo acabe se repetindo<br />
1964.<br />
Embora uma incerteza, essa <strong>de</strong>sconfiança tem gerado atritos diários<br />
entre Bolsonaro, a imprensa e boa parte dos seus jornalistas, prejudicando<br />
<strong>de</strong> forma acentuada o noticiário diário que os meios <strong>de</strong><br />
comunicação produzem sobre as ativida<strong>de</strong>s do Palácio do Planalto.<br />
O povo, confuso, não sabe em quem mais acreditar, tal o bombar<strong>de</strong>io<br />
diário que se processa entre as partes. Po<strong>de</strong>mos até chamar<br />
isso <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia, mas se esta for apenas e tão somente isto a que<br />
diariamente estamos assistindo estamos sem saída.<br />
Já apregoamos neste espaço, em nossa última edição, que melhor<br />
seria o presi<strong>de</strong>nte renunciar, passando o bastão para o seu vice<br />
Mourão, um sujeito que <strong>de</strong>monstra constantemente estar mais preparado<br />
para o difícil cargo <strong>de</strong> conduzir o país do que o seu atual<br />
titular.<br />
Como essa hipótese é pouco provável, teremos <strong>de</strong> aturar essa situação<br />
<strong>de</strong> crise ainda por muito tempo, sem saber ao certo se os mandatos<br />
em jogo chegarão ao seu término. Até acreditamos que sim,<br />
mas isso nos reserva um tempo ainda comprido, que terá tudo para<br />
manter ou até mesmo aumentar essa beligerância entre as partes.<br />
E, assim sendo – e também como sempre –, quem sairá per<strong>de</strong>ndo<br />
seremos nós, o povo que tem <strong>de</strong> trabalhar para manter-se a si e a sua<br />
família em condições possíveis <strong>de</strong> uma vida digna.<br />
Começo a acreditar, porém, que estaremos em guerra entre nós<br />
mesmos, até o final dos mandatos dos protagonistas <strong>de</strong>ste texto, escrito<br />
por um brasileiro indignado, que esperava mais, muito mais,<br />
<strong>de</strong>sses beligerantes teatrais.<br />
***<br />
Na madrugada <strong>de</strong> quinta para sexta-feira aqui no Brasil, o mercado<br />
publicitário ficou sabendo que a direção do Cannes Lions cancelara<br />
<strong>de</strong>finitivamente a realização do famoso festival este ano, <strong>de</strong>vido à<br />
epi<strong>de</strong>mia da Covid-19, que assola praticamente toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
Fez bem a direção do Cannes Lions, liberando assim os players <strong>de</strong>ssa<br />
disputa anual que se trava no mais famoso festival do marketing<br />
e da propaganda do planeta para outras ativida<strong>de</strong>s em seus países,<br />
quem sabe até muitos criando peças e campanhas para atenuar a<br />
agonia <strong>de</strong> pessoas que têm sofrido com esse maldito e estranho vírus,<br />
contra a qual a ciência ainda não <strong>de</strong>scobriu um antídoto capaz<br />
<strong>de</strong> neutralizá-lo.<br />
Voltando ao Cannes Lions, enten<strong>de</strong>mos que foi até bom o seu cancelamento<br />
este ano, porque o que mais haveria concorrendo seriam<br />
campanhas e peças <strong>de</strong> todo o mundo publicitário, fazendo-nos lembrar<br />
que até uma <strong>de</strong>sgraça que matou muitas vidas tem o seu dia <strong>de</strong><br />
glória, ainda que inversa, em um certame nascido para recompensar<br />
a criativida<strong>de</strong> da comunicação humana.<br />
Vamos todos torcer para que essa pan<strong>de</strong>mia termine logo, tranquilizando<br />
países, seus governantes e principalmente suas populações,<br />
mesmo que os seus conflitos políticos prossigam.<br />
***<br />
Nesse retorno à normalida<strong>de</strong>, que as marcas também retornem com<br />
toda a força aos meios, lembrando que a alegria causada pela propaganda<br />
às pessoas é um bem engenhoso do capitalismo, que torna<br />
a vida mais suave, ainda que nem todos possam ter todos os bens<br />
oferecidos pelos meios através das mensagens comerciais que veiculam.<br />
Essa é uma batalha gostosa <strong>de</strong> participar, por todos nela envolvidos.<br />
A razão mais forte disso talvez resida no <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se criar o<br />
melhor e principalmente o inédito na comunicação publicitária,<br />
com a força <strong>de</strong> movimentar o consumidor em direção ao produto ou<br />
serviço anunciado, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, boas correntes <strong>de</strong> pensamento e<br />
outras formas <strong>de</strong> comunicação, lembrando a fonte inesgotável que<br />
é a capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> criar, quando o resultado em tese se <strong>de</strong>stina<br />
ao bem <strong>de</strong> todos.<br />
Quem já foi a Cannes e os poucos <strong>de</strong>stes que tiveram a curiosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> visitar uma feira <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnos armamentos enten<strong>de</strong>m a diferença<br />
entre o bem e o mal.<br />
jornal propmark - 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> 3