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edição de 6 de abril de 2020

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última página<br />

Omar Lopez/Unsplash<br />

É a cara<br />

do pai<br />

Neusa spaulucci<br />

Agora, ninguém é o pai da criança, assim<br />

como ninguém é autor da campanha<br />

#Brasilnãopo<strong>de</strong>parar. Parece que brotou no<br />

meio do asfalto, como uma planta ou uma<br />

árvore que, do nada, nasce em lugar tão<br />

inóspito e intriga tanta gente.<br />

Também intrigou o mercado publicitário,<br />

que até agora não sabe ao certo quem criou<br />

ou qual mente teve a brilhante i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criar<br />

tamanha asneira. O conceito é bom, mas<br />

completamente fora <strong>de</strong> hora e propósito.<br />

Será que uma agência faria<br />

tal trabalho neste momento?<br />

Será que alguém “letrado” na<br />

comunicação e no marketing faria<br />

algo semelhante?<br />

Ninguém assume a paternida<strong>de</strong>.<br />

Muito se falou e o jogo <strong>de</strong><br />

empurra foi frenético. Só faltou<br />

“a turma do <strong>de</strong>ixa disso”, até<br />

que alguém lúcido, como a juíza<br />

Laura Bastos Carvalho, da Justiça<br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, acatou no<br />

último dia 28 pedido <strong>de</strong> suspensão da campanha,<br />

formalizado pelo Ministério Público<br />

Estadual fluminense.<br />

Com a <strong>de</strong>cisão, a campanha não po<strong>de</strong> ser<br />

exibida em nenhum meio <strong>de</strong> comunicação,<br />

felizmente, nem nos digitais. Na verda<strong>de</strong>,<br />

não houve compra <strong>de</strong> mídia para ação. Daí<br />

fica mais difícil ainda saber quem é o pai do<br />

“belo” bebê.<br />

O conteúdo foi publicado na página do<br />

Facebook do senador Eduardo Bolsonaro<br />

(Republicanos/RJ) e também nas páginas<br />

da Secom no Twitter e Instagram, mas logo<br />

foi retirado do ar.<br />

Diante <strong>de</strong> tais evidências dá para arriscar<br />

“TrisTe país<br />

que Tem <strong>de</strong><br />

se escon<strong>de</strong>r<br />

aTrás <strong>de</strong><br />

um palácio,<br />

dianTe <strong>de</strong> um<br />

surTo sem<br />

prece<strong>de</strong>nTes”<br />

um palpite sobre a autoria da campanha, dá<br />

até para afirmar: “É a cara do pai!”. Mas, não<br />

po<strong>de</strong>mos acusar sem provas, embora essa<br />

prática tenha virado rotina em certos escalões.<br />

A criação do filme foi atribuída inicialmente<br />

à Isobar, cujo contrato com o governo<br />

terminou na última terça-feira (31) – Ufa!<br />

Escapou por pouco –, mas ela negou solenemente<br />

que tenha <strong>de</strong>senvolvido o projeto.<br />

Depois circulou no mercado que teria<br />

sido a IComunicação, que venceu pitch<br />

para aten<strong>de</strong>r à área digital do governo em<br />

substituição a Isobar e TV1, e vai administrar<br />

uma verba <strong>de</strong> R$ 4,8 milhões<br />

por seis meses.<br />

Mas a agência também afirma<br />

que não foi ela quem produziu a<br />

campanha O Brasil não po<strong>de</strong> parar,<br />

já que não po<strong>de</strong>ria trabalhar<br />

antes do início do contrato. Faz<br />

sentido.<br />

Resta, então, a dúvida e a<br />

triste sensação <strong>de</strong> que estamos<br />

numa barca furada, já que nem<br />

os prestadores <strong>de</strong> serviços têm coragem <strong>de</strong><br />

assumir a proeza ou se distanciam <strong>de</strong>la. O<br />

mercado publicitário brasileiro tem se mostrado<br />

solidário em todos os momentos e não<br />

dá para acreditar que uma agência ou um<br />

profissional tenha <strong>de</strong>senvolvido tal ação.<br />

Triste país que tem <strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r atrás<br />

<strong>de</strong> um palácio, diante <strong>de</strong> um surto sem prece<strong>de</strong>ntes,<br />

como o contágio do novo coronavírus.<br />

Essa, assim como outras tantas, não<br />

caiu bem e o governo se vê atolado em muitas<br />

ações e atitu<strong>de</strong>s que o <strong>de</strong>scre<strong>de</strong>nciam.<br />

Em um momento grave em que todos –<br />

apavorados – se unem, até gran<strong>de</strong>s marcas,<br />

que no futuro <strong>de</strong>vem merecer o respeito do<br />

consumidor, o governo não po<strong>de</strong>ria achar<br />

que está acima <strong>de</strong> qualquer coisa ou pessoa.<br />

38 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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