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última página<br />
Omar Lopez/Unsplash<br />
É a cara<br />
do pai<br />
Neusa spaulucci<br />
Agora, ninguém é o pai da criança, assim<br />
como ninguém é autor da campanha<br />
#Brasilnãopo<strong>de</strong>parar. Parece que brotou no<br />
meio do asfalto, como uma planta ou uma<br />
árvore que, do nada, nasce em lugar tão<br />
inóspito e intriga tanta gente.<br />
Também intrigou o mercado publicitário,<br />
que até agora não sabe ao certo quem criou<br />
ou qual mente teve a brilhante i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criar<br />
tamanha asneira. O conceito é bom, mas<br />
completamente fora <strong>de</strong> hora e propósito.<br />
Será que uma agência faria<br />
tal trabalho neste momento?<br />
Será que alguém “letrado” na<br />
comunicação e no marketing faria<br />
algo semelhante?<br />
Ninguém assume a paternida<strong>de</strong>.<br />
Muito se falou e o jogo <strong>de</strong><br />
empurra foi frenético. Só faltou<br />
“a turma do <strong>de</strong>ixa disso”, até<br />
que alguém lúcido, como a juíza<br />
Laura Bastos Carvalho, da Justiça<br />
Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, acatou no<br />
último dia 28 pedido <strong>de</strong> suspensão da campanha,<br />
formalizado pelo Ministério Público<br />
Estadual fluminense.<br />
Com a <strong>de</strong>cisão, a campanha não po<strong>de</strong> ser<br />
exibida em nenhum meio <strong>de</strong> comunicação,<br />
felizmente, nem nos digitais. Na verda<strong>de</strong>,<br />
não houve compra <strong>de</strong> mídia para ação. Daí<br />
fica mais difícil ainda saber quem é o pai do<br />
“belo” bebê.<br />
O conteúdo foi publicado na página do<br />
Facebook do senador Eduardo Bolsonaro<br />
(Republicanos/RJ) e também nas páginas<br />
da Secom no Twitter e Instagram, mas logo<br />
foi retirado do ar.<br />
Diante <strong>de</strong> tais evidências dá para arriscar<br />
“TrisTe país<br />
que Tem <strong>de</strong><br />
se escon<strong>de</strong>r<br />
aTrás <strong>de</strong><br />
um palácio,<br />
dianTe <strong>de</strong> um<br />
surTo sem<br />
prece<strong>de</strong>nTes”<br />
um palpite sobre a autoria da campanha, dá<br />
até para afirmar: “É a cara do pai!”. Mas, não<br />
po<strong>de</strong>mos acusar sem provas, embora essa<br />
prática tenha virado rotina em certos escalões.<br />
A criação do filme foi atribuída inicialmente<br />
à Isobar, cujo contrato com o governo<br />
terminou na última terça-feira (31) – Ufa!<br />
Escapou por pouco –, mas ela negou solenemente<br />
que tenha <strong>de</strong>senvolvido o projeto.<br />
Depois circulou no mercado que teria<br />
sido a IComunicação, que venceu pitch<br />
para aten<strong>de</strong>r à área digital do governo em<br />
substituição a Isobar e TV1, e vai administrar<br />
uma verba <strong>de</strong> R$ 4,8 milhões<br />
por seis meses.<br />
Mas a agência também afirma<br />
que não foi ela quem produziu a<br />
campanha O Brasil não po<strong>de</strong> parar,<br />
já que não po<strong>de</strong>ria trabalhar<br />
antes do início do contrato. Faz<br />
sentido.<br />
Resta, então, a dúvida e a<br />
triste sensação <strong>de</strong> que estamos<br />
numa barca furada, já que nem<br />
os prestadores <strong>de</strong> serviços têm coragem <strong>de</strong><br />
assumir a proeza ou se distanciam <strong>de</strong>la. O<br />
mercado publicitário brasileiro tem se mostrado<br />
solidário em todos os momentos e não<br />
dá para acreditar que uma agência ou um<br />
profissional tenha <strong>de</strong>senvolvido tal ação.<br />
Triste país que tem <strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r atrás<br />
<strong>de</strong> um palácio, diante <strong>de</strong> um surto sem prece<strong>de</strong>ntes,<br />
como o contágio do novo coronavírus.<br />
Essa, assim como outras tantas, não<br />
caiu bem e o governo se vê atolado em muitas<br />
ações e atitu<strong>de</strong>s que o <strong>de</strong>scre<strong>de</strong>nciam.<br />
Em um momento grave em que todos –<br />
apavorados – se unem, até gran<strong>de</strong>s marcas,<br />
que no futuro <strong>de</strong>vem merecer o respeito do<br />
consumidor, o governo não po<strong>de</strong>ria achar<br />
que está acima <strong>de</strong> qualquer coisa ou pessoa.<br />
38 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark