edição de 6 de abril de 2020

cannes lions
Festival é cancelado neste ano e
mercado brasileiro aprova decisão
Pela primeira vez na história, evento de criatividade deixa de ser realizado;
maioria dos publicitários ouvidos por PROPMARK já esperava a notícia
Fotos: Divulgação
Marcia Esteves: “Atenção está na saúde das pessoas”
Leonardo araújo*
Depois do SXSW e D&AD, entre outros,
agora foi a vez de o Cannes Lions, mais
tradicional festival da propaganda mundial,
ser cancelado pela primeira vez em
sua história. O que há em comum entre os
eventos? O motivo do fim: a crise causada
pela pandemia da Covid-19.
Cannes acontece tradicionalmente em
junho e já havia sido adiado anteriormente
para outubro. Agora, segundo comunicado,
ficou claro que os parceiros e clientes do
festival estão com apenas uma preocupação
em mente: proteger pessoas.
Segundo Philip Thomas, chairman do Cannes
Lions, a organização percebeu que a comunidade
criativa “tem outros desafios” no
momento. “Tentamos tomar nossas decisões
o mais cedo possível para dar total clareza à
indústria sobre a situação, e é por isso que
estamos anunciando essa mudança”, afirma.
O festival vai acontecer entre 21 e 25 de
junho de 2021. Os delegados que compraram
ingresso para o evento terão o passe
transferido para o ano seguinte, assim
como os cases já inscritos. Essa é a primeira
vez, desde sua primeira edição, em 1954,
que Cannes deixa de ser realizado.
O PROPMARK ouviu publicitários brasileiros
para saber se a decisão foi acertada.
Diego Machado, ECD da AKQA São Paulo,
agência brasileira mais premiada em 2019,
fala que “ninguém teria energia para comemorar
nenhum prêmio” em 2020.
Rafael Pitanguy: “Vi a decisão de forma positiva”
“Ninguém está com cabeça para fazer
aquilo que o festival espera. O mundo está
voltado para a causa. Fábricas de carros
estão fazendo respiradores para hospitais
e profissionais estão mudando de área só
com o propósito de ajudar. A decisão é correta.
Poderia ter sido antes. Mas entendo o
lado de negócios”, ressalta.
Para Flavio Waiteman, CCO da Tech and
Soul, outra que foi destaque na edição do
ano passado, nas últimas semanas o mundo
caminhou dez anos à frente. “Se o Festival
de Cannes é uma fotografia da cultura global,
seus interesses, aspirações e futuro, a
fotografia de 2019 e 2020 simplesmente não
fazem mais sentido”, afirma o publicitário.
Na opinião de Antonio Fadiga, CEO da
Artplan, a decisão é responsável. “Esse é
o momento de repensar e de salvar os empregos
das pessoas, seria insensato investimento
(tempo e dinheiro) em qualquer outra
coisa que não nisso”, diz. Ele acha que
mesmo um julgamento online seria difícil.
“Os jurados são pessoas e profissionais que
também estão sofrendo pressões diversas
agora; foco nos julgamentos seria difícil.
Os Leões deste ano já estão sendo distribuídos:
ações e atitudes de marcas que estão
salvando vidas fazendo a diferença na vida
das pessoas nessa crise”, ressalta.
Rafael Pitanguy, VP de criação da Y&R,
também viu a decisão de forma positiva.
“Não podemos esquecer que a publicidade
faz parte de um contexto maior. Ela está inserida
nas questões do planeta. Vi a decisão
Bruno Brux: “Momento para ajudar a resolver problemas”
de forma positiva. Porque o Cannes Lions é
um evento de celebração no palco com os
prêmios conquistados. Se fosse mantido, me
pareceria visão alienada diante do contexto
do 2020. Não é um cancelamento; é adiamento
para o momento certo. Quem sabe
unir dois anos em um só”, destaca Pitanguy.
Para Ricardo John, o cancelamento “era
inevitável”. “As agências estão lutando
para sobreviver e, nesse contexto, o custo
das inscrições se torna proibitivo. Mas, por
outro lado, é uma pena perdermos a referência
do que foi criativo no ano”, afirma o
CEO & CCO da FCB Brasil.
Já Sandra Martinelli, presidente-executiva
da Associação Brasileira de Anunciantes
(ABA), o Cannes Lions “precisava” ser cancelado.
“Assim como SXSW o fez, e assim
como a WFA Marketer Week, prevista para
Cingapura, foi realizada ontem e hoje por
videoconferência. A ABA também optou por
focar na realização do ENA e do ABA Summit
este ano, cancelando todos os demais. Esperamos
que essa situação se normalize da maneira
mais segura possível para todos, que
em 2021 possamos voltar com a carga toda”.
Glaucio Binder, presidente da Binder, encara
o cancelamento do Festival de Cannes
como algo natural, diante do atual cenário.
Ele acha que a organização do evento “estava
esticando demais a corda”. “Eventos
muito mais complexos, como a Olimpíada,
foram cancelados este ano, não fazia o menor
sentido mantê-lo. Um ano não fará muita
diferença”, dispara o executivo. Para Bin-
26 6 de abril de 2020 - jornal propmark