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Kate Remmer/Unsplash<br />
Inovação?<br />
Que tal, o pão?<br />
“No banquete da vida,<br />
a amiza<strong>de</strong> é o pão,<br />
e o amor é o vinho”<br />
Paulo Mantegazza<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Poucas manifestações, em toda a história<br />
da humanida<strong>de</strong>, passaram por processo<br />
<strong>de</strong> reinvenção permanente e intenso quanto<br />
o pão. E me refiro ao pão em si, não como<br />
usamos o pão com diferentes cremes, manteigas,<br />
recheios e tudo o mais. Até 2009 e na<br />
cabeça da maioria das pessoas, o pão tinha<br />
12 mil anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Supostamente uma<br />
invenção ocorrida na Mesopotâmia, hoje,<br />
espaço <strong>de</strong> terra ocupado pelo Iraque. Até<br />
que em 2010 pesquisadores i<strong>de</strong>ntificaram<br />
resíduos <strong>de</strong> amido em pedras milenares <strong>de</strong><br />
moer, com uma ida<strong>de</strong> aproximada entre 30<br />
e 40 mil anos. E, <strong>de</strong> lá para cá, passou-se a<br />
<strong>de</strong>sconfiar que o pão é muito mais antigo.<br />
Nasci na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru, joguei no infantil<br />
do Baquinho, era treinado pelo Val<strong>de</strong>mar<br />
<strong>de</strong> Brito, e, todos os dias <strong>de</strong> manhã, meu pai<br />
ia até a Padaria e Confeitaria Lalai comprar<br />
pães. Na Rua Batista <strong>de</strong> Carvalho. Quando<br />
mu<strong>de</strong>i para São Paulo, o pão era entregue<br />
pelo pa<strong>de</strong>iro da Padaria Baronesa, nas esquinas<br />
da Baronesa <strong>de</strong> Itu com Albuquerque<br />
Lins. Nas madrugadas, quando voltava para<br />
casa <strong>de</strong>pois da última música no Jogral, do<br />
Carlos Paraná, ao lado <strong>de</strong> Geraldo Cunha,<br />
Jorge Ben e Trio Mocotó, artistas e outras<br />
celebrida<strong>de</strong>s e saudosos e queridos amigos<br />
como Alfredo Rosa Borges e Paulo Vanzolini,<br />
dava uma passada na Padaria Basilicata,<br />
no Bixiga, para comprar um pão italiano da<br />
fornada das 5 da manhã. Que <strong>de</strong>ixava na<br />
mesa da cozinha para meus saudosos pais,<br />
claro, e sempre com um beijo.<br />
Nos anos 1960, a reinvenção dos pães<br />
ocorreu no bairro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo on<strong>de</strong><br />
passei a maior parte da minha vida. Obra e<br />
graça <strong>de</strong> Benjamin Abrahão, e <strong>de</strong> sua padaria<br />
com sua família na Praça Vilaboim, em frente<br />
à FAAP, a Barcelona. E, <strong>de</strong> repente, não mais<br />
que <strong>de</strong> repente, da virada do milênio para cá,<br />
o fermento da inovação que sempre esteve<br />
presente na história do pão escalou! Neste<br />
preciso momento, consi<strong>de</strong>rando a revolução<br />
Maker, combinada com a revolução Perto,<br />
que varre o mundo, e com a valorização do<br />
orgânico, genuíno, raiz, artesanal, o pão, e<br />
respectivas padarias, vivem a maior releitura<br />
<strong>de</strong> toda a história. Hoje o Brasil tem milhares<br />
<strong>de</strong> jovens pa<strong>de</strong>iros arrasando.<br />
De novo, e perto da minha casa, duas<br />
manifestações espetaculares. Inclusive<br />
a Fabrique, na Rua Itacolomy, eleita pela<br />
Folha a melhor padaria <strong>de</strong> São Paulo, assinada<br />
por José Carlos Gomes, economista<br />
<strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> pa<strong>de</strong>iros portugueses,<br />
formado pelo French Pastry School. Os próprios<br />
supermercados correram atrás, e hoje<br />
é possível comprar-se pão <strong>de</strong> ótima qualida<strong>de</strong><br />
em algumas das lojas do Pão <strong>de</strong> Açúcar,<br />
Carrefour, Saint Marche e outros, e por aí<br />
vai. Semanas atrás, o Estadão, na revistinha<br />
<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> semana, a D, <strong>de</strong> Divirta-se, apresentou<br />
um roteiro <strong>de</strong> 50 padarias. Mas, se<br />
quisesse, po<strong>de</strong>ria multiplicar por 10. Mesmo<br />
porque as tradicionais e antigas reinventaram-se<br />
e voltaram a brilhar como nos melhores<br />
tempos.<br />
E aí vocês me perguntarão, Madia, além<br />
<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>ixar com água na boca, por que<br />
mesmo você está fazendo esse comentário?<br />
Porque o pão, amigos, sobre todos os aspectos<br />
e sentidos, talvez seja a melhor manifestação,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos para cá, da<br />
importância <strong>de</strong>cisiva e vital da permanente<br />
inovação. Do se reinventar, reposicionar-se,<br />
renascer, preservar-se vivo. Live! Do inovar<br />
ou morrer. Uma referência que <strong>de</strong>veríamos<br />
usar sempre em palestras, treinamentos, e<br />
indução <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
no capital humano <strong>de</strong> nossas empresas.<br />
Que todos, o tempo todo, comportassem-se<br />
em relação ao que planejam, produzem,<br />
fazem e ven<strong>de</strong>m, como pa<strong>de</strong>iros e<br />
padarias vêm se comportando e no correr <strong>de</strong><br />
milênios em relação ao pão. Reinventando<br />
permanente, incessante e obstinadamente.<br />
Paro por aqui e agora vou dar um pulo até a<br />
Fabrique para um <strong>de</strong>licioso café e uma fatia<br />
generosa <strong>de</strong> seu pão <strong>de</strong> nozes...<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
jornal propmark - 3 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> 21