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edição de 3 de agosto de 2020

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mkt<br />

Kate Remmer/Unsplash<br />

Inovação?<br />

Que tal, o pão?<br />

“No banquete da vida,<br />

a amiza<strong>de</strong> é o pão,<br />

e o amor é o vinho”<br />

Paulo Mantegazza<br />

Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />

Poucas manifestações, em toda a história<br />

da humanida<strong>de</strong>, passaram por processo<br />

<strong>de</strong> reinvenção permanente e intenso quanto<br />

o pão. E me refiro ao pão em si, não como<br />

usamos o pão com diferentes cremes, manteigas,<br />

recheios e tudo o mais. Até 2009 e na<br />

cabeça da maioria das pessoas, o pão tinha<br />

12 mil anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Supostamente uma<br />

invenção ocorrida na Mesopotâmia, hoje,<br />

espaço <strong>de</strong> terra ocupado pelo Iraque. Até<br />

que em 2010 pesquisadores i<strong>de</strong>ntificaram<br />

resíduos <strong>de</strong> amido em pedras milenares <strong>de</strong><br />

moer, com uma ida<strong>de</strong> aproximada entre 30<br />

e 40 mil anos. E, <strong>de</strong> lá para cá, passou-se a<br />

<strong>de</strong>sconfiar que o pão é muito mais antigo.<br />

Nasci na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru, joguei no infantil<br />

do Baquinho, era treinado pelo Val<strong>de</strong>mar<br />

<strong>de</strong> Brito, e, todos os dias <strong>de</strong> manhã, meu pai<br />

ia até a Padaria e Confeitaria Lalai comprar<br />

pães. Na Rua Batista <strong>de</strong> Carvalho. Quando<br />

mu<strong>de</strong>i para São Paulo, o pão era entregue<br />

pelo pa<strong>de</strong>iro da Padaria Baronesa, nas esquinas<br />

da Baronesa <strong>de</strong> Itu com Albuquerque<br />

Lins. Nas madrugadas, quando voltava para<br />

casa <strong>de</strong>pois da última música no Jogral, do<br />

Carlos Paraná, ao lado <strong>de</strong> Geraldo Cunha,<br />

Jorge Ben e Trio Mocotó, artistas e outras<br />

celebrida<strong>de</strong>s e saudosos e queridos amigos<br />

como Alfredo Rosa Borges e Paulo Vanzolini,<br />

dava uma passada na Padaria Basilicata,<br />

no Bixiga, para comprar um pão italiano da<br />

fornada das 5 da manhã. Que <strong>de</strong>ixava na<br />

mesa da cozinha para meus saudosos pais,<br />

claro, e sempre com um beijo.<br />

Nos anos 1960, a reinvenção dos pães<br />

ocorreu no bairro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo on<strong>de</strong><br />

passei a maior parte da minha vida. Obra e<br />

graça <strong>de</strong> Benjamin Abrahão, e <strong>de</strong> sua padaria<br />

com sua família na Praça Vilaboim, em frente<br />

à FAAP, a Barcelona. E, <strong>de</strong> repente, não mais<br />

que <strong>de</strong> repente, da virada do milênio para cá,<br />

o fermento da inovação que sempre esteve<br />

presente na história do pão escalou! Neste<br />

preciso momento, consi<strong>de</strong>rando a revolução<br />

Maker, combinada com a revolução Perto,<br />

que varre o mundo, e com a valorização do<br />

orgânico, genuíno, raiz, artesanal, o pão, e<br />

respectivas padarias, vivem a maior releitura<br />

<strong>de</strong> toda a história. Hoje o Brasil tem milhares<br />

<strong>de</strong> jovens pa<strong>de</strong>iros arrasando.<br />

De novo, e perto da minha casa, duas<br />

manifestações espetaculares. Inclusive<br />

a Fabrique, na Rua Itacolomy, eleita pela<br />

Folha a melhor padaria <strong>de</strong> São Paulo, assinada<br />

por José Carlos Gomes, economista<br />

<strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> pa<strong>de</strong>iros portugueses,<br />

formado pelo French Pastry School. Os próprios<br />

supermercados correram atrás, e hoje<br />

é possível comprar-se pão <strong>de</strong> ótima qualida<strong>de</strong><br />

em algumas das lojas do Pão <strong>de</strong> Açúcar,<br />

Carrefour, Saint Marche e outros, e por aí<br />

vai. Semanas atrás, o Estadão, na revistinha<br />

<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> semana, a D, <strong>de</strong> Divirta-se, apresentou<br />

um roteiro <strong>de</strong> 50 padarias. Mas, se<br />

quisesse, po<strong>de</strong>ria multiplicar por 10. Mesmo<br />

porque as tradicionais e antigas reinventaram-se<br />

e voltaram a brilhar como nos melhores<br />

tempos.<br />

E aí vocês me perguntarão, Madia, além<br />

<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>ixar com água na boca, por que<br />

mesmo você está fazendo esse comentário?<br />

Porque o pão, amigos, sobre todos os aspectos<br />

e sentidos, talvez seja a melhor manifestação,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos para cá, da<br />

importância <strong>de</strong>cisiva e vital da permanente<br />

inovação. Do se reinventar, reposicionar-se,<br />

renascer, preservar-se vivo. Live! Do inovar<br />

ou morrer. Uma referência que <strong>de</strong>veríamos<br />

usar sempre em palestras, treinamentos, e<br />

indução <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

no capital humano <strong>de</strong> nossas empresas.<br />

Que todos, o tempo todo, comportassem-se<br />

em relação ao que planejam, produzem,<br />

fazem e ven<strong>de</strong>m, como pa<strong>de</strong>iros e<br />

padarias vêm se comportando e no correr <strong>de</strong><br />

milênios em relação ao pão. Reinventando<br />

permanente, incessante e obstinadamente.<br />

Paro por aqui e agora vou dar um pulo até a<br />

Fabrique para um <strong>de</strong>licioso café e uma fatia<br />

generosa <strong>de</strong> seu pão <strong>de</strong> nozes...<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

famadia@madiamm.com.br<br />

jornal propmark - 3 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> 21

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