COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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Os tempos eram assim 115
Você veio com força e com vontade de viver. Às vezes, mexia na
estrutura de sua mãe amedrontada; às vezes, bulia na minha querência
de vida, de liberdade e de esperança.
ooo
Ao mesmo tempo em que me impulsionava a lutar por um mundo
melhor e mais justo, você era também motivo para me preservar.
Diminuí minha participação em algumas atividades de maior risco.
Agora existia você, para dar conta.
Minha menina foi crescendo, cheia de vida, de vontades. O entorno,
aos poucos, mudando. Foi possível lutar pela Abertura do País; em seguida,
pelas Diretas Já!. As conquistas foram suadas: brigávamos passo
a passo. Para você, era como se fosse algo vindo naturalmente. Como
se sempre houvesse existido, fossem as conquistas políticas, fossem as
sexuais.
Conversávamos sobre a situação do País, mas não sobre as ressonâncias
para nós duas, no afeto entre nós.
Depois, os exilados foram voltando e, dos que sobreviveram às torturas,
muitos tiveram merecido reconhecimento, o que ajudou as suas
crianças a entenderem e, talvez, aceitarem os desconfortos por elas vividos.
Poderiam até criticar as escolhas de seus pais, mas havia o contraponto
social em que o contexto ancorava.
Eu não. Não fui torturada, nem exilada, mas fui, sim, apartada do
meu País. Não o reconhecia, na maioria das vezes. Sofri, em minha
alma, as sevícias impingidas ao Frei Tito, à Tarcísia, à Criméria, ao
Derbi e sua família. Procurava sustentar meu corpo, para não sucumbir,
também.
As minhas dores não se comparavam com as que eles e outros sofreram.
Por isso achei desnecessário — mesquinho até — falar com você
sobre como a criei, num tempo que era assim e que forjou mães que
eram assim. Fez falta não conversar. Talvez alguns pequenos conflitos
tivessem se tornado só pequenos conflitos. E não fendas.
Ai, se eu fosse poeta para falar o indizível.
Din-don! Din-don!
Ah! A campainha! Você veio, minha menina!