COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O perfume das flores 21
para acalmar as alunas que, depois do período de guerra, ficaram traumatizadas
e necessitando de apoio espiritual. O jovem capelão apresentou
documentos que comprovavam sua ligação com a Igreja, mas
tinha pensamentos um tanto contraditórios aos meus. Passei a observá-
-lo com frequência. Não acreditei em suas doces palavras de conforto.
Justina voltou com seu pai, num dia chuvoso. Foi direto para o quarto,
parecia um tanto aborrecida. Tentei falar com ela, mas bateu a porta
do quarto e se trancou. Senti uma sensação horrível, mescla de preocupação
e rejeição, quase uma afirmação de amor impossível: uma perda
para mim.
Um dia, o capelão chamou Justina para uma conversa particular
de assistência espiritual. Após um tempo, ela saiu da sala chorando e
correu para o jardim. Eu a vi através da janela do meu quarto. A segui
com o olhar, sentou-se sob o caramanchão e continuou chorando. Fiquei
deveras preocupado: o que estaria acontecendo com Justina? Cada vez
mais sentia que a amava e queria protegê-la de todos os males. Cheguei
a pensar em pedir a ela que fosse para o convento firmar votos de compromisso
com Cristo.
Os dias seguiram tristonhos. Nada me alegrava depois da guerra,
pois, o homem que mata seu irmão não agrada a Deus.
A Madre Superiora fazia de tudo para o bem-estar das alunas, recebendo
verba provincial para manter a Casa com tantas órfãs. O corpo
docente foi ampliado, com professores e professoras especializados em
Literatura e conhecimentos gerais.
Mas, infelizmente, a Superiora foi substituída por um padre com
título de Monsenhor. Novos tempos surgiram no Colégio, com a aceitação
de regras de conduta mais modernas.
Um dia, encontrei o livro de bons modos, da Madre Superiora, jogado
no lixo.
A Casa ficou bastante movimentada naqueles dias de adeus à guerra
e cheios de novidades descontroladas. Monsenhor chamava as alunas
de vez em quando para fazer sermões indesejados. As moças saíam de
sua sala desapontadas. Queixavam-se comigo de estranhos tratos para
com elas. Diziam que o capelão assistia às seções de conversas sem
falar nada, nem interferia, conivente.
O tempo seguia sem que alguém tomasse providências diante das