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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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O perfume das flores 21

para acalmar as alunas que, depois do período de guerra, ficaram traumatizadas

e necessitando de apoio espiritual. O jovem capelão apresentou

documentos que comprovavam sua ligação com a Igreja, mas

tinha pensamentos um tanto contraditórios aos meus. Passei a observá-

-lo com frequência. Não acreditei em suas doces palavras de conforto.

Justina voltou com seu pai, num dia chuvoso. Foi direto para o quarto,

parecia um tanto aborrecida. Tentei falar com ela, mas bateu a porta

do quarto e se trancou. Senti uma sensação horrível, mescla de preocupação

e rejeição, quase uma afirmação de amor impossível: uma perda

para mim.

Um dia, o capelão chamou Justina para uma conversa particular

de assistência espiritual. Após um tempo, ela saiu da sala chorando e

correu para o jardim. Eu a vi através da janela do meu quarto. A segui

com o olhar, sentou-se sob o caramanchão e continuou chorando. Fiquei

deveras preocupado: o que estaria acontecendo com Justina? Cada vez

mais sentia que a amava e queria protegê-la de todos os males. Cheguei

a pensar em pedir a ela que fosse para o convento firmar votos de compromisso

com Cristo.

Os dias seguiram tristonhos. Nada me alegrava depois da guerra,

pois, o homem que mata seu irmão não agrada a Deus.

A Madre Superiora fazia de tudo para o bem-estar das alunas, recebendo

verba provincial para manter a Casa com tantas órfãs. O corpo

docente foi ampliado, com professores e professoras especializados em

Literatura e conhecimentos gerais.

Mas, infelizmente, a Superiora foi substituída por um padre com

título de Monsenhor. Novos tempos surgiram no Colégio, com a aceitação

de regras de conduta mais modernas.

Um dia, encontrei o livro de bons modos, da Madre Superiora, jogado

no lixo.

A Casa ficou bastante movimentada naqueles dias de adeus à guerra

e cheios de novidades descontroladas. Monsenhor chamava as alunas

de vez em quando para fazer sermões indesejados. As moças saíam de

sua sala desapontadas. Queixavam-se comigo de estranhos tratos para

com elas. Diziam que o capelão assistia às seções de conversas sem

falar nada, nem interferia, conivente.

O tempo seguia sem que alguém tomasse providências diante das

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