COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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Sada Ali 129
vizinha. Há anos dividiam o ponto numa das esquinas da vila.
Tendo aprendido o básico, a descoberta das letras e o que os seus
símbolos traduziam, um mundo novo se descortinara. Lia os jornais
em que trazia, embrulhadas, as compras do bar do seu Augusto, as
revistas eróticas do pai que, displicentemente, as abandonava ao lado
da cama, os livros de bolso trocados com outras companheiras de infortúnio
e os religiosos oferecidos pelas damas de caridade. Isso até o
dia em que as expulsara. Como ousavam falar em Deus e exibir escancarada
mediocridade diante das dificuldades e tormentos alheios? Em
seu reduto, faltavam todos os gêneros necessários para se viver com
dignidade; até mesmo a água, a essência da vida. Deus era aquilo? Deus
permitia aquilo? E por que vinham com aquela palhaçada de dizer que Deus
está em meio aos pobres, em meio aos humildes, em meio aos que se resignam
diante de seus tormentos? Suas vestes, mãos, cabelos e faces bem cuidadas
não pareciam patentear o dogma ou verdade alvíssaras. Aquilo era partilhar
do desejo divino?
Ateia! – fora a resposta.
Teresa alonga os braços em direção à própria miséria, ao corpo defeituoso,
à pobreza. Se não carregasse um ser supremo em seu interior,
como sobreviver? Nunca mais retornaram e, isso sim, fora um presente
divino! A consumação do Éden na diabólica e abandonada vila.
Desliza o olhar sobre os pertences buscando a causa do ruído, algo
havia sido quebrado. Vasculha como uma devassa, faminta pelo dinheiro
prometido. Depara-se com a morbidez vazia da cama e uma
gratidão súbita a acomete. A cama era a responsável por seu sustento!
Presenteada há um quarto de século por um cliente satisfeito, larga e
espaçosa, madeira maciça e estrado de molas. Não possuía um traço de
cupim. Aquilo sim era uma cama e não as porcarias que hoje se encontravam
à disposição nos convencionais magazines. E quantas aventuras
já não haviam compartilhado...
Diligentemente — e sem outros pensamentos a lhe interromperem
o andar, alcança as outras mínimas dependências: cozinha, que comportava
um micro-tanque e o último cômodo, o banheiro. Da porta do
diminuto banheiro já detecta o incidente. A parede que sustentava o
espelho era edificada por tijolos vazados e revestida por fraco reboco,