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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Sada Ali

Sua chegada era precedida pelo jargão: Lá vem a Teresa Torta... Lá

vem a Beleza Torta. A sonoridade das sílabas era acompanhada

do molejo, ginga e da cadência inata dos moradores daquela área da

cidade. Samba no pé, rima na voz e remelexo nos quadris. A vila era

campeã. Campeã do samba, da cachaça e das mulheres da vida.

Lá vem a Beleza Torta. Nos áureos tempos teria, dado um bom samba.

Bateria nos acordes e ela, o tema, na frente, rainha soberana gingando

com toda a tortuosidade do seu corpo explorado. Fora-se o tempo.

Este passara, soçobrando a amargura crônica, injusta, díspar, um contraponto

à sua pretensa obstinação.

Diziam termos todo o tempo do mundo. A eternidade!, diziam. Mas

o que é o tempo senão um monopólio de eternidade oferecido em doses

homeopáticas? Átimos de segundos exaurindo nossas forças e nos

colocando à sua mercê. Insistira em renegá-lo e ele mantivera-se em

plácida espera. Sem imposições. Paciência inesgotável, consumindo

vorazmente carnes, sonhos, desejos e ilusões.

Abruptamente, algo parecia ter se rompido. Um elo, uma cadeia,

uma conexão. Quem era aquela estranha a ocupar a frente do seu espelho?

Nada restara de sua antiga consorte. Rosto, corpo, mãos, expressões.

A beleza estava realmente torta, Teresa totalmente torta. Declínio

da saúde, paciência, musculatura e tudo mais que se referisse ao seu

ser. Tudo sendo consumido; mas a maior sensação de perda estava nos

cabelos. Sedosos, brilhantes, os negros cachos haviam se transformado

em montículos de nuvens entremeando nuanças amarelas, alvas e acinzentadas.

Do antigo jardim, um canteiro de urtigas. Sem viço, perfume

ou cor.

Uma companheira sugerira, tentando rejuvenescer-lhe a aparência,

que passasse a tonalizá-los e, de maneira a melhor convencê-la, além

de presenteá-la com uma negra tintura, também se comprometera a

aplicá-la. Outra frase, também dita pela amiga – e que maior persuasão

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