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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Lá vem a Teresa Torta...

ainda fazia bafejar para escrever desinteressantes e efêmeras mensagens

ao mundo — eles a haviam deixado eternamente marcada. Batem a

porta. A chuva caía perpendicularmente em meio a trovões e outras

particularidades inerentes. O pai, que parecia já estar aguardando visita,

se apressa em atender. Abre a porta e, instantaneamente, os dois

metros que os separavam passam a inexistir pela rigidez com que seu

olhar a escrutinava. Não resistindo àquela força que atuava como imã,

se estaca, pronta a obedecê-lo, a segui-lo, a qualquer outra atitude que

o pai lhe impingisse. A porta se abre largamente, dando passagem à

inoportuna visita. O recém-chegado deposita o guarda-chuva contra a

parede, entrega o grosso capote ao pai. Confidenciam ao pé do ouvido.

O homem assente com sisudez. Parecia tenso.

Forte, de ventre proeminente, tez larga — ainda não se encontrava

inteiramente calvo, mas era o que suas grandes entradas lhe prometiam

— passara a mirá-la. Recua o passo atemorizada, recostando o corpo

magro contra o frio e impessoal vidro da janela. O pai chama. Se aproxima,

hesitante. O que poderiam desejar? Alguma oferta de emprego?

Ouvira o pai e a mãe a conversarem e, pelo teor do diálogo, sabia estar

com os dias contados a sua vida sem nenhum, seria correto dizer, afazer

rentável, posto que trabalho era o que mais exercia desde que alcançara

a mínima altura para cuidar da pia, fogão e tanque. Seu pai estaria

recebendo a visita de um possível empregador?

O senhor lhe estendera as mãos gordas, nodosas e morenas que, por

sua aspereza, a fizera acreditar não se tratar de um patrão. A não ser

que se tratasse de um iniciante empregador, o que lhe justificaria os

vários calos existentes. Apresentam-lhe o Sr. Durval e a mandam ser

boazinha com ele. Saem sob a chuva torrencial. Sob a soleira da porta

ainda lhes observa a saída. Ao que precisamente o pai aludira quando

dissera ser boazinha? Talvez se lhe servisse um café... E onde pretendiam

ir com aquela chuva?

Oferece a cadeira. Um som de lenhos ressecados e prestes a cederem

se insinua pela sala triste e úmida. Sai para preparar o café. Ele calmamente

espera. Tinha a eternidade como aliada. Mete a mão no bolso

da camisa, de onde retorna com uma carteira de cigarros e uma caixa

de fósforos. Acende, puxa com vigor, bafejando a primeira e delirante

tragada. Expele generosas baforadas de fumaça perfumada e envolven-

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