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ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

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110 � Luís Guimarães Jr.<br />

Finalmente, por baixo disso tudo,<br />

Num post-scriptum do melhor cursivo<br />

Recomendava “o pobre do Veludo”<br />

Pedindo a Deus que “o conversasse vivo”.<br />

Enquanto eu lia, o cão tranquilo e atento<br />

Me contemplava, e – creia que é verda<strong>de</strong> –<br />

Vi comovido, vi nesse momento<br />

Seus olhos gotejarem <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.<br />

Depois lambeu-me as mãos humil<strong>de</strong>mente,<br />

Esten<strong>de</strong>u-se a meus pés silencioso<br />

Movendo a cauda, – e adormeceu contente<br />

Farto <strong>de</strong> um puro e satisfeito gozo.<br />

Passou-se o tempo. Finalmente um dia<br />

Vi-me livre daquele companheiro:<br />

Para nada Veludo me servia,<br />

Dei-o à mulher dum velho carvoeiro.<br />

E respirei! – Graças a Deus! já posso<br />

– Dizia eu – viver neste bom mundo<br />

Sem ter que dar diariamente um osso<br />

A um bicho vil, a um feio cão imundo.<br />

Gosto dos animais, porém prefiro<br />

A essa raça baixa e aduladora<br />

Um alazão inglês <strong>de</strong> sela ou tiro,<br />

Ou uma gata branca cismadora.

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