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ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

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� <strong>Sonetos</strong> e Rimas 5<br />

Este estado d’inteira adaptação entre a obra dum espírito e o espírito<br />

duma época dá-se quando a humanida<strong>de</strong> atravessa estados d’incerteza<br />

ou d’angústia, ou às horas <strong>de</strong> transição em que uma ida<strong>de</strong> está<br />

morta, quando ainda outra mal vem alvorecendo. O poeta faz-se então<br />

o apóstolo da ansieda<strong>de</strong> geral, o profeta da aurora que nem boceja<br />

sequer ainda entre os escombros. É Leopardi em Recanati, aos vinte<br />

anos, pondo a sua tristeza <strong>de</strong> raquítico em versos febris e límpidos, e<br />

elevando-se por ela à expressão mais patética da dor. É Herculano em<br />

Plymouth, chorando as sauda<strong>de</strong>s da pátria crucificada ao miguelismo,<br />

ou inspirando as suas elegias nos conflitos liberais <strong>de</strong> 32 e 34. É Byron<br />

tentando esculpir, na selvageria das suas figuras, a revolta do gênio<br />

contra os pequenos mol<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> artificial que lhe reprovava as<br />

excentricida<strong>de</strong>s. Walter Scott, o clarificador da história, segundo Hazlitt,<br />

renovando o interesse histórico na literatura escocesa por um gênio <strong>de</strong><br />

narrador sem rival. E Bau<strong>de</strong>laire, Musset, Rollinat e Richepin, exprimindo<br />

a sacieda<strong>de</strong> cética e a inquietação nevrótica e doentia das nossas<br />

civilizações atuais.<br />

Porém, a crise passa, resolveu-se a dificulda<strong>de</strong> política, o cadafalso<br />

ou o exílio levaram o tirano que motivara a revolução. Na sua labutação<br />

incansável <strong>de</strong> mineiro, a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>para com novos filões vitais<br />

que lhe avigorentam a trama, sacudindo-lhe a tristeza enervante.<br />

Uma outra era sorri. Aquele estado do ser moral coletivo evaporou-se<br />

e foi curado. E eis que a musa <strong>de</strong>sflorada emurchece da frescura radiosa<br />

que primeiro fizera chispar cintilas nos corações opressos! Por forma<br />

que se escreverá <strong>de</strong>sta poesia o que Guy Patin já dissera <strong>de</strong> certos<br />

remédios em moda – que era i-los tomando enquanto curavam. De<br />

fato, quem compreen<strong>de</strong> hoje a musa católica <strong>de</strong> Chateaubriand? On<strong>de</strong><br />

reboa um eco sequer da poesia jacobita <strong>de</strong> Diana <strong>de</strong> Vernon? Que he-

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