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ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

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112 � Luís Guimarães Jr.<br />

Despertei um barqueiro. Contra o vento,<br />

Contra as ondas coléricas vogamos;<br />

Dava-me força o torvo pensamento:<br />

Tomei um remo – e com furor remamos.<br />

Veludo à proa olhava-me choroso<br />

Como o cor<strong>de</strong>iro no final momento:<br />

Embora! Era fatal! Era forçoso<br />

Livrar-me enfim <strong>de</strong>sse animal nojento.<br />

No largo mar ergui-o nos meus braços<br />

E arremessei-o às ondas <strong>de</strong> repente...<br />

Ele moveu gemendo os membros lassos<br />

Lutando contra a morte. Era pungente.<br />

Voltei a terra – entrei em casa. O vento<br />

Zunia sempre na amplidão – profundo,<br />

E pareceu-me ouvir o atroz lamento<br />

De Veludo nas ondas moribundo.<br />

Mas, ao <strong>de</strong>spir dos ombros meus o manto,<br />

Notei – oh gran<strong>de</strong> dor! – haver perdido<br />

Uma relíquia que eu prezava tanto!<br />

Era um cordão <strong>de</strong> prata: – eu tinha-o unido<br />

Contra o meu coração constantemente<br />

E o conservava no maior recato,<br />

Pois minha mãe me <strong>de</strong>ra essa corrente<br />

E, suspenso à corrente, o seu retrato.

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