27.12.2012 Views

ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

10 � Luís Guimarães Jr.<br />

nenhum outro guarda como ele essa floração exótica <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>,<br />

que isenta por todo o sempre das frias versões estrangeiras. Porque<br />

se não trata bem da balada escandinava, com olhos cor <strong>de</strong> violeta, alvorecida<br />

ao luar, na brancura imaculada dos fiords; nem há nesta poesia<br />

a petulância da canção berangeriana, ou o sarcasmo do epigrama latino,<br />

à André Chenier. É um canto bonacheirão como a fábula, com o<br />

ceticismo ligeiro, a graça loira e feminina, a sensibilida<strong>de</strong> nova e virginal,<br />

proce<strong>de</strong>ndo um pouco à maneira das comédias poéticas <strong>de</strong> Shakespeare,<br />

e <strong>de</strong>ixando dormir no fundo um vago bom humor <strong>de</strong> burgomestre<br />

apaixonado por tulipas, típico no país <strong>de</strong> Henri Heine, como<br />

ess’outro humorismo <strong>de</strong> Yedo e Nagasaki, que até nas esculturas dos<br />

templos abre o seu riso, entre infantilmente surpreso e velhaco. Para<br />

estas inefáveis serenadas, os maiores compositores da Alemanha têm<br />

feito música, Dessauer, Schubert, Schumann: e é um prazer ouvi-las já<br />

modificadas ao dizer plebeu, nos trabalhos do campo, nas vindimas<br />

do Reno, no interior das cabanas, ao serão, à saída da escola, e pelas<br />

ruas, nos templos e nas kermesses. Henri Blaze, pensando numa renovação<br />

<strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s para a poesia lírica francesa, recomendava aclimar-se o<br />

lied para cá do Reno. Quanto a nós, João <strong>de</strong> Deus atingiu admiravelmente<br />

este gênero <strong>de</strong> composição, nas Loas à Virgem enoEra Já Noite<br />

Cerrada, gênero que Campoamor sabe vestir com uma graciosa simplicida<strong>de</strong>.<br />

Mas como generalizar hoje uma tal poesia, quando o espírito<br />

não tem mais o perfume da adolescência, e a frescura das ida<strong>de</strong>s<br />

primaveris?<br />

O lirismo profundo morre pois falto <strong>de</strong> condições sociais que o<br />

impulsionem e fecun<strong>de</strong>m. Po<strong>de</strong> guardar-se don<strong>de</strong> aon<strong>de</strong>, por um prodígio<br />

<strong>de</strong> cultura, no coração d’algum <strong>de</strong>stes sublimes eremitas, estacionados<br />

à margem do tumulto mo<strong>de</strong>rno, assim como, num frígido país,<br />

a planta tórrida consegue medrar, por excessivos cuidados, na calafe-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!