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ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras

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208 � Luís Guimarães Jr.<br />

No Deserto<br />

Quando a Virgem fugia à lança dos sicários<br />

Unindo ao casto seio o re<strong>de</strong>ntor bendito,<br />

A noite os surpren<strong>de</strong>u nos plainos solitários<br />

On<strong>de</strong> Mêmnon eleva o tronco do granito.<br />

Nem um astro sequer da cúpula divina<br />

No profundo dossel, nem um vislumbre, apenas:<br />

Era a hora em que o vento arqueja entre a ruína,<br />

Aos gritos do chacal e aos uivos das hienas.<br />

A José, cujos pés em chagas latejavam<br />

Sobre a areia cruel, disse a Virgem Maria:<br />

“Repousemos aqui”. – Seus braços vacilavam –<br />

“Seguiremos <strong>de</strong>pois, quando romper o dia”.<br />

Tateando na sombra espessa e lutuosa,<br />

José o roto manto ao longo <strong>de</strong>sdobrava:<br />

E a Virgem Mãe <strong>de</strong> leve, e pálida e medrosa,<br />

Sobre o manto <strong>de</strong>itou Jesus que ressonava.<br />

“Dorme” disse ao esposo a Virgem brandamente:<br />

“Por nós o doce Pai atento está velando”.<br />

Ele triste inclinou a fronte humil<strong>de</strong>mente,<br />

Ela aos pés <strong>de</strong> Jesus adormeceu chorando.

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