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HOMERO NUM MANUSCRITO INÉDITO i

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400 MANUEL DOS SANTOS ALVES<br />

analisado. Há, com efeito, na Ilíada, numerosos passos interligados<br />

pela mesma isotopia da morte dos guerreiros, o que, aliás, não causa<br />

surpresa, atendendo ao leitmotiv bélico do poema. Entre eles, destaca-se<br />

um amigo de Eneias que, atingido no ventre pela lança de Agamemnon,<br />

«.tomba avec buit et ses armes résonnèrent sur son corp»<br />

(p. 91). Além deste há muitos outros exemplos, como aquele em que,<br />

tendo os Gregos irrompido contra os Troianos, um destes, atingido<br />

pela lança de Tideu, «tomba du char, et ses armes retentirent» (p. 140).<br />

Confrontemos agora as duas frases:<br />

A —11 tomba avec bruit, et ses armes résonnèrent sur son corp.<br />

B — Le Troyen tomba du char, et ses armes retentirent.<br />

Não achamos necessário esclarecer o paralelismo estrutural destes<br />

enunciados paratácticos, tão evidente ele se apresenta. Mais relevante<br />

será sublinhar a identidade do mesmo paradigma semântico que<br />

os une. Com efeito, em ambos se encontra associado o ruído das<br />

armas ao acto da queda, embora neste aspecto a frase A, em que a<br />

ideia de ruído se encontra mais largamente representada, tenha servido<br />

melhor os desígnios estilísticos de Eça de Queirós. Desta associação<br />

derivou a participial gerundiva «fazendo na areia um ruído de armas<br />

caídas», da mesma maneira que já antes, da associação do ruído de<br />

prata com o acto de marchar («estropear») de Apolo, tinha derivado a<br />

proposição «fazia a cada largo passo, sobre o anel, um ruído de pratas<br />

estropeadas». Um mesmo hipotexto as une. Quanto ao sintagma<br />

preposicional «na areia», que corresponde estruturalmente ao anterior<br />

locativo «sobre o anel», não faltam exemplos na Ilíada a apoiá-lo:<br />

«[les Akhaiens] tirèrent la nef noire au plus haut des sables de la plage»<br />

(p. 16); atingido por Antíloco, um guerreiro troiano caiu morto, «la<br />

tête et les épaules enfoncées dans le sable».<br />

Também não podemos omitir um apontamento sobre a correcção<br />

introduzida por Eça de Queirós no seu manuscrito. Em vez de «tombavam»<br />

— forma demasiado decalcada no francês «tomba» —, tinha<br />

escrito primeiro «cahiam». Mas depois, já porque este vocábulo, precedido<br />

do relativo que, dava origem a um desagradável cacófato, já sobretudo<br />

porque formava repetição com o particípio «cahidas», em que termina<br />

a frase —, rasurou aquela forma verbal e substituiu-a por «tombavam»,<br />

escrita entre linhas. De qualquer forma, estamos perante uma<br />

espécie de figura etimológica, em que a imagem acústica «ruído de armas<br />

caídas» está já embrionariamente contida na forma verbal tombavam/

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