13.04.2013 Views

HOMERO NUM MANUSCRITO INÉDITO i

HOMERO NUM MANUSCRITO INÉDITO i

HOMERO NUM MANUSCRITO INÉDITO i

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>HOMERO</strong> <strong>NUM</strong> <strong>MANUSCRITO</strong> <strong>INÉDITO</strong> 381<br />

cem separados: por vezes ocorrem em coordenações, como: «nef<br />

d'or et d'airain» (pp. 154 e 158), «j'y conduirai l'or et le rouge airain»<br />

(p. 160). «riche en or et en airain» (p. 180), «sceptre d'or et d'airain»<br />

p. 409). A partir deles, Eça de Queirós formou belas associações<br />

com base na tríade ouro/prata/bronze, tornada assim comum aos dois<br />

intertextos, como marca de intertextualidade. Tal a génese do conjunto<br />

seguinte: «sobre nuvens cor de ouro e bronze». Embora nele o referente<br />

do metal seja, como se vê, a cor e não a matéria dos objectos,<br />

nem por isso a segunda deixa de estar bem presente, porque intimamente<br />

associada à primeira. Trata-se, além disso, de descrever o<br />

espectáculo de uma cidade sitiada, defendida por um numeroso exército<br />

de guerreiros, como se pode ver pelo pormenor descritivo com que<br />

termina o parágrafo: «muros de Tróia ... coroados de escudos de<br />

bronze». Organizados em multidões compactas, de onde sobressaía<br />

o brilho metálico das múltiplas armas ofensivas e defensivas, os dois<br />

exércitos, pese embora o expressionismo da hipérbole, ofereciam aos<br />

olhos do espectador a imagem plástica de «nuvens cor de ouro e bronze».<br />

Sobre elas se levantava a figura protectora de Apolo, irritado contra<br />

os «Acaios». Outro conjunto digno de nota, é o sintagma «com o<br />

arco de prata na sua armadura». Interligado aos anteriores pela mesma<br />

isotopia do metal, aparece entre linhas no manuscrito e é, como se<br />

pode ver com clareza, uma tradução literal do conjunto correspondente<br />

«portant Vare d'argent»; este, na tradução francesa, aparece associado<br />

ao sintagma «sur ses épaules», que Eça de Queirós reservou para outro<br />

contexto e substituiu pela expressão «avec le plein carquois» (p. 3),<br />

em que decalcou o elemento «na sua armadura».<br />

Quanto ao mitónimo Febus Apolo (no manuscrito: Phebus Apollo),<br />

é uma evidente transliteração de «Phoibos Apollon» que se pode 1er no<br />

texto de Leconte de Lisle, mas não sem a interferência da forma latina<br />

Phoebus Apollo. Optando pela forma alatinada, que, aliás, figura<br />

também em alguns dicionários portugueses do seu tempo 9, Eça de<br />

Queirós pretendeu, sem dúvida, preservar o aspecto exótico, original<br />

do mitónimo, tal como se encontra no hipotexto, obedecendo, por<br />

outro lado, a uma predilecção bem sua por nomes próprios de forma<br />

latina: sendo menos usados, tornavam-se menos banais e funcionavam<br />

como reservas estilísticas a que a subtileza artística do escritor não<br />

era indiferente.<br />

9 Por exemplo, o Dicionário de Frei Domingos Vieira (1873), editado por<br />

Adolfo Coelho e Teófilo Braga, regista a forma «Phebus» ao lado de «Phebo».

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!