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HOMERO NUM MANUSCRITO INÉDITO i

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412 MANUEL DOS SANTOS ALVES<br />

du beau char, la tête et les épaules enfoncées dans le sable qui était<br />

creusé dans cet endroit» (p. 92). Os lexemas relativos ao corpo do<br />

guerreiro — «la tête et les épaules» — aparecem substituídos, no hipertexto<br />

queirosiano, por elementos que lhes são semanticamente justapostos<br />

— «cabelos», «face» e «olhos» —, para exprimir uma posição<br />

similarmente incómoda. O sintagma «no solo», equivalente ao francês<br />

«en terre» — «enfoncées en terre» (p. 182), «s'enfonça en terre» (p. 182),<br />

«couchées en terre» (p. 185)—, foi sem dúvida sobredeterminado pelo<br />

sintagma «dans le sable», do conjunto «enfoncées dans le sable», que<br />

aparece literalmente traduzido por Eça de Queirós, para designar as<br />

rodas paralisadas dos carros de combate: «enterradas na areia».<br />

Menos complexa é a génese dos restantes elementos, «e sem<br />

cessar... as piras fumegavam, carregadas de cadáveres» é uma tradução<br />

quase literal da sua correspondente proposição francesa «Et sans cesse<br />

les bûchers brûlaient, lourds de cadavres» (p. 3). Assim, numa espécie<br />

de regresso da capo, o escritor retoma a «Rhapsodie I», que constitui<br />

o mais extenso e o mais rico núcleo intertextual, onde o escritor foi mais<br />

insistentemente «chercher son bien», como Molière e outros geniais<br />

«voleurs de mots» (M. Schneider, 1985) de todos os tempos. Se,<br />

porém, examinarmos bem os interstícios do texto queirosiano, neles<br />

poderemos surpreender marcas bem reveladoras do génio artístico de<br />

Eça de Queirós. Neste aspecto, é notável a finura que o levou a preferir<br />

a lexemas como «fogueiras» e «ardiam», correspondentes literais de<br />

«bûchers» e de «brûlaient» respectivamente, signos de conotação menos<br />

bárbara, como «piras» e «fumegavam», irradiando assim, do seu texto,<br />

aquela sugestão de violência que caracteriza e pour cause a tradução<br />

de Leconte de Lisle. Por outro lado, a expressão «sem cessar», surgindo<br />

como repetição anafórica, associa num conjunto binário os dois<br />

períodos por ela introduzidos, transformando o segundo num eco<br />

do primeiro — mas um eco ampliado por ressonância advindas da<br />

incorporação de novos elementos:<br />

A — Sem cessar, as longas flechas silvavam através do acampamento<br />

;<br />

B — e sem cessar, entre gritos de dor de mulheres esguedelhadas<br />

e com a túnica aberta, as piras fumegavam, carregadas de<br />

cadáveres.<br />

Como se pode ver, o elemento comum — «sem cessar» — conduzindo<br />

à associação das duas frases, semanticamente interligadas pela<br />

relação causa/efeito, e fazendo da segunda um prolongado eco da

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