Legenda Perusina - Editorial Franciscana
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<strong>Legenda</strong> <strong>Perusina</strong> 99<br />
mais antiga. 3 Levantou-se este, e veio à porta da cela onde estava o<br />
bem-aventurado Francisco, que lhe disse: 4 «Irmão, esta noite nem<br />
consigo dormir nem ficar de pé para a oração, porque sinto tonturas<br />
de cabeça e as pernas a tremerem, como se tivesse comido pão<br />
de joio».<br />
5 O companheiro procurava consolá-lo como podia. Disse-lhe<br />
então o Santo: 6 «Desconfio que o demónio se meteu naquela almofada<br />
que tive debaixo da minha cabeça». 7 De facto, na véspera, o<br />
senhor João de Greccio, a quem o Santo muito estimava, manifestando-lhe<br />
durante toda a vida particular afecto, tinha-lhe arranjado<br />
uma almofada de penas. 8 O bem-aventurado Francisco, depois de<br />
ter abandonado o mundo, nunca mais quis dormir em colchão, nem<br />
ter à cabeceira almofada de penas. Mas, naquela circunstância, os<br />
Irmãos obrigaram-no a aceitar, embora contrariado, devido à gravidade<br />
da doença dos olhos. Pegou então na almofada e atirou-a<br />
aos pés do companheiro.<br />
9 Este levantou-a do chão com a mão direita, traçou o braço e<br />
segurou-a sobre o ombro esquerdo, pondo-se a caminho da sua<br />
cela. 10 De repente, perdeu a fala, sem poder sair do mesmo lugar,<br />
nem mexer perna ou braço, nem sequer largar a almofada. Era uma<br />
estátua, de pé, sem dar acordo de si nem do que se passava em<br />
redor. 11 Assim esteve por mais de uma hora, até que, por misericórdia<br />
de Deus, o bem-aventurado Francisco o chamou. 12 Veio<br />
logo a si, atirando a almofada para trás das costas; e voltou para<br />
junto do bem-aventurado Francisco, contando-lhe o que lhe tinha<br />
acontecido.<br />
13 Disse-lhe o Santo: «Esta noite, quando estava a rezar completas,<br />
percebi que o demónio estava a entrar na minha cela».<br />
14 Convenceu-se então que fora de facto o demónio que o tinha<br />
impedido de dormir e de estar de pé, para a oração. 15 E acrescentou:<br />
«O demónio é deveras subtil e manhoso. Vendo que, por misericórdia<br />
e graça de Deus, não me pode fazer mal à alma, ataca-<br />
-me o corpo, impedindo-me de dormir e de estar de pé para orar; e<br />
assim quer privar-me da alegria e fervor do meu coração, para me<br />
obrigar a murmurar contra a minha doença».