Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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“O projeto da ABI é<br />
totalmente inova<strong>do</strong>r. É difícil<br />
levantar aspectos que não<br />
sejam renova<strong>do</strong>res. Há uma<br />
preocupação na concepção <strong>do</strong><br />
prédio como um to<strong>do</strong>, como<br />
volume arquitetônico.”<br />
Vemos que o começo da reação vem com a introdução<br />
da modificação <strong>de</strong> ensino por Lúcio Costa<br />
Aclaremos: que houve uma certa crise por volta <strong>de</strong><br />
1932 com a irrupção da Revolução Paulista, registran<strong>do</strong>-se<br />
uma queda da construção no Brasil, que se<br />
retoma em torno <strong>de</strong> 1935/36. Houve um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
34 a 36 que constitui uma experiência isolada, mas<br />
extraordinária, <strong>de</strong> importância capital, feita no Recife<br />
por Luiz Nunes – discípulo <strong>de</strong>sse grupo –, que sai<br />
<strong>do</strong> Rio para realizar uma obra absolutamente pioneira,<br />
totalmente revolucionária e extraordinária na<br />
nossa arquitetura. Uma obra inclusive, também<br />
anterior ao Ministério da Educação, mas que ficou<br />
muito tempo esquecida porque feita longe <strong>do</strong> centro<br />
cultural e <strong>do</strong> eixo Rio <strong>de</strong> Janeiro–São Paulo. Foi<br />
um pouco esquecida mas faz parte <strong>de</strong>sse conjunto.<br />
Vemos então que esse grupo se reuniu em torno<br />
<strong>de</strong> Le Corbusier, a pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lúcio Costa e por<br />
pressão <strong>de</strong> elementos da nossa cultura – Carlos<br />
Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Manuel<br />
Ban<strong>de</strong>ira, que influenciavam Gustavo Capanema<br />
– realmente é o agente <strong>de</strong>ssa luta, <strong>de</strong>sse<br />
perío<strong>do</strong> heróico. São eles que impulsionaram a<br />
arquitetura brasileira para um caminho <strong>de</strong> contemporaneida<strong>de</strong>.<br />
A partir <strong>de</strong>les ela <strong>de</strong>ixa essa encruzilhada,<br />
aquela falta <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação a seu tempo, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>finição; já naquele tempo era uma arquitetura<br />
totalmente <strong>de</strong>sentrosada <strong>de</strong> sua época, que dava<br />
respostas arcaicas para soluções e exigências mo<strong>de</strong>rnas.<br />
Aí ela passa a se a<strong>de</strong>quar, a ficar realmente<br />
em dia com a sua socieda<strong>de</strong>. E nesse momento<br />
que o grupo tem esse papel, e os irmãos Roberto<br />
têm <strong>de</strong>sempenho semelhante, mas em caminho<br />
paralelo, pois não pertencem ao mesmo grupo.<br />
O projeto da ABI continha o quê <strong>de</strong> inova<strong>do</strong>r em<br />
relação a estilo, influências, materiais? Disso tu<strong>do</strong>, o quê<br />
ainda conserva sabor <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>?<br />
– O projeto da ABI é totalmente inova<strong>do</strong>r. É difícil<br />
levantar aspectos que não sejam renova<strong>do</strong>res.<br />
Há uma preocupação na concepção <strong>do</strong> prédio como<br />
um to<strong>do</strong>, como volume arquitetônico. Um edifício<br />
que ocupa uma esquina em que lança um acesso que<br />
era inova<strong>do</strong>r e é um <strong>do</strong>s aspectos que ainda permanece.<br />
Particularmente aquela chegada na ABI, que<br />
cria uma espécie <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> encontro, <strong>de</strong> praça, <strong>de</strong><br />
convívio. Esse conjunto <strong>de</strong> elementos e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
programáticas está muito bem soluciona<strong>do</strong> na<br />
chegada à ABI. Um acesso simples, franco, <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong><br />
naqueles tempos: era inteiramente inova<strong>do</strong>r<br />
e assim permanece até hoje.<br />
Vemos que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o aspecto <strong>de</strong> implantação até<br />
ao <strong>de</strong> concepção estrutural, <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> materiais,<br />
<strong>de</strong> forma nova (o mármore é um <strong>do</strong>s<br />
materiais mais antigos, mas <strong>de</strong> qualquer forma o<br />
mo<strong>do</strong> como foi usa<strong>do</strong>) e, sobretu<strong>do</strong> um aspecto<br />
muito importante para nós; o prédio da ABI é um<br />
prédio concebi<strong>do</strong> para isso, foi pensa<strong>do</strong> em termos<br />
Jornal da ABI<br />
<strong>de</strong> se proteger da incidência permanente <strong>do</strong> sol<br />
naquela esquina, voltada para o Norte e na qual o<br />
sol se <strong>de</strong>sloca e inci<strong>de</strong> durante o dia to<strong>do</strong>.<br />
A idéia <strong>do</strong> brise-soleil, também <strong>do</strong>minante no<br />
prédio, é exatamente isso: um quebra-sol e ao<br />
mesmo tempo a criação <strong>de</strong> um espaço entre a superfície<br />
externa, protegida pelo brise, e uma superfície<br />
<strong>de</strong> esquadrias internas, crian<strong>do</strong> assim um<br />
corre<strong>do</strong>r ou um avaranda<strong>do</strong>. Este é ao mesmo<br />
tempo um colchão <strong>de</strong> ar <strong>de</strong> proteção para a zona<br />
<strong>de</strong> trabalho e utilização. É, sem dúvida, inova<strong>do</strong>ra<br />
essa proteção térmica. Como a angulação <strong>do</strong><br />
brise e suas distâncias, a preocupação <strong>do</strong> seu dimensionamento<br />
permite visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem se encontra<br />
nesse avaranda<strong>do</strong>. Assim, quem permanece<br />
nesse local tem visão da cida<strong>de</strong> através <strong>do</strong> seu afastamento,<br />
disposição estudada <strong>de</strong> forma precisa,<br />
com relação à angulação <strong>do</strong> sol, ao mesmo tempo<br />
O hall térreo <strong>do</strong> Edifício Herbert Moses oferece um quê <strong>de</strong> surpresa a<br />
quem <strong>do</strong>bra a esquina on<strong>de</strong> está situa<strong>do</strong>; é um convite ao convívio.<br />
<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />
Volume<br />
2<br />
em que permite e visibilida<strong>de</strong> a quem está <strong>de</strong>ntro.<br />
Esse aspecto é fundamental em termos <strong>de</strong> concepção<br />
<strong>do</strong> prédio e <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> brise.<br />
Nessa preocupação <strong>de</strong> inovação, o prédio tem<br />
uma vantagem sobre vários outros <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a<br />
finalida<strong>de</strong>s semelhantes – administrativos, institucionais.<br />
Ele foi concebi<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong>, quer<br />
dizer: foi cria<strong>do</strong> em toda a sua arquitetura, parte<br />
interna e externa até no <strong>de</strong>talhe das suas luminárias,<br />
seus móveis, numa preocupação <strong>de</strong> realmente<br />
entregar um ambiente acaba<strong>do</strong>. Os móveis foram<br />
<strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s especialmente para a ABI; os revestimentos<br />
pensa<strong>do</strong>s em termos <strong>de</strong> ajustamento com<br />
esse mobiliário. As luminárias, quan<strong>do</strong> não <strong>de</strong>senhadas<br />
especialmente, foram escolhidas para que<br />
fossem harmônicas ao prédio.<br />
Vemos então a preocupação <strong>de</strong> uma obra acabada,<br />
completa. Outro aspecto é o lançamento <strong>do</strong><br />
ACERVO ABI/BIBLIOTECA BASTOS TIGRE<br />
O brise-soleil<br />
<strong>do</strong>s irmãos<br />
Roberto,<br />
inspira<strong>do</strong> em<br />
Le Corbusier,<br />
filtra o sol e<br />
cria um<br />
espaço<br />
avaranda<strong>do</strong>.<br />
Funciona<br />
como um<br />
colchão <strong>de</strong> ar<br />
<strong>de</strong> proteção<br />
térmica no<br />
trabalho ou<br />
utilização.<br />
ACERVO ABI/BIBLIOTECA BASTOS TIGRE<br />
A CASA DE MOSES: UM EDIFÍCIO SETENTÃO E AINDA MODERNO<br />
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