Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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FOTOS: ACERVO MEMÓRIA ABRIL<br />
Jornal da ABI<br />
Civita cumprimenta um visitante ilustre – o apresenta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tv Sílvio Santos – que almoçava na Editora Abril<br />
com alguns jornalistas e o editor da revista Intervalo, Milton Coelho da Graça (segun<strong>do</strong> à esquerda).<br />
volvimento Econômico (BNDE, hoje BNDES),<br />
informaram-no que a instituição fora criada para<br />
fomentar a indústria <strong>de</strong> base, categoria em que não<br />
se encaixavam editoras e gráficas. Civita não podia<br />
aceitar isso.<br />
“Como não é indústria <strong>de</strong> base? Como você vai<br />
construir um país sem gráfica? E sem livros, sem<br />
revistas, sem jornais e sem leitura?”, questionou<br />
Civita, que conseguiu fazer que mudassem o estatuto<br />
para lhe conce<strong>de</strong>r o empréstimo.<br />
A gráfica, na Rua Nova <strong>do</strong>s Portugueses, em Santana,<br />
foi usada até à construção <strong>do</strong> parque gráfico<br />
em um terreno pantanoso, à beira <strong>do</strong> Rio Tietê,<br />
em 1964, tempos antes da construção das Marginais.<br />
Mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo Civita já cultivava um<br />
hábito que levaria para o resto da vida: fazia questão<br />
<strong>de</strong> ver todas as capas das revistas, opinava na<br />
diagramação, na fotografia, percorria a gráfica, visitava<br />
distribui<strong>do</strong>res e jornaleiros para ouvir sugestões<br />
e críticas. Nos primeiros tempos, fazia pessoalmente<br />
o pagamento <strong>do</strong> pessoal da gráfica, to<strong>do</strong>s<br />
os sába<strong>do</strong>s. Na Rua João A<strong>do</strong>lfo, pedia ao jornalista<br />
Cláudio <strong>de</strong> Souza, transforma<strong>do</strong> numa espécie<br />
<strong>de</strong> secretário, que lhe corrigisse o português,<br />
tarefa árdua para se fazer com quem os pensamentos<br />
corriam muito à frente da expressão. Também<br />
sondava o merca<strong>do</strong> para ampliar seu espaço.<br />
Foi assim com o publicitário Mauro Sales, que<br />
trabalhava como jornalista em O Globo.<br />
“Ele chegou com uma pastinha <strong>de</strong>baixo <strong>do</strong> braço<br />
e me perguntou se eu sabia quem ele era. Respondi<br />
que era o editor da revistinha que mais vendia no<br />
Brasil, O Pato Donald. Satisfeito, falou sobre seus<br />
planos para lançar uma revista <strong>de</strong> automóveis. No<br />
final da conversa, perguntei se não queria conhecer<br />
Roberto Marinho e ele disse que ‘ainda não’.<br />
Acho que queria mais tempo para falar <strong>de</strong> igual para<br />
igual com outros gran<strong>de</strong>s editores”, conta Sales.<br />
O FILÃO DAS FOTONOVELAS<br />
Depois das publicações infantis, a Abril encontrou<br />
outro filão com as fotonovelas. Com Capricho,<br />
a primeira, a tiragem chegou a 500 mil exemplares.<br />
Ainda assim, o merca<strong>do</strong> recusava anunciar<br />
em seus veículos. Para quebrar isso, Civita levou<br />
publicitários e anunciantes para conhecer a<br />
gráfica da editora e conferir, pessoalmente, a veracida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s números. Com isso, a Abril acabou<br />
por criar, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> algumas gran<strong>de</strong>s agências, o<br />
IVC, Instituto Verifica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Circulação, que,<br />
equivocadamente, passou a ser conheci<strong>do</strong> como<br />
Instituto Victor Civita.<br />
A década <strong>de</strong> 60 trouxe uma série <strong>de</strong> mudanças<br />
sociais, políticas e <strong>de</strong> comportamento. Como poucos,<br />
Civita soube aproveitar isso. Depois <strong>de</strong> Manequim,<br />
a primeira revista focada em moda, que<br />
trazia mol<strong>de</strong>s para costura, em 1961, a Abril passou<br />
a investir mais no público feminino. Primeiro<br />
com o lançamento <strong>de</strong> Cláudia, revista com o<br />
nome da filha que Civita sempre sonhara ter; Cláudia<br />
enveredava por temas ainda tabus, como sexo<br />
e contracepção. Ao longo <strong>do</strong>s anos, ainda viriam<br />
Nova, Elle e Boa Forma, entre outras.<br />
“A história <strong>de</strong> seu sucesso – e da própria Abril –<br />
é um pouco a história <strong>do</strong>s sucessos <strong>do</strong> Brasil no perío<strong>do</strong>.<br />
Victor Civita aliou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />
ao fino talento para manter sua caravela a favor<br />
<strong>do</strong> vento, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a aproveitar-se das mesmas<br />
forças que impulsionavam o País <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral.<br />
Quatro Rodas, por exemplo, foi lançada na euforia<br />
da indústria automobilística, a jóia da coroa <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimentismo juscelinista”, analisa Roberto<br />
Pompeu <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong>.<br />
Fenômeno pareci<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> em<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 60. Com a ascensão da classe<br />
média, Civita resolveu importar da Itália<br />
a idéia <strong>de</strong> publicar coleções em fascículos.<br />
O problema é que ninguém acreditava<br />
que isso vingaria por aqui, nem os diretores<br />
da Abril. Tornou-se famosa a história<br />
da reunião em que Civita convocou<br />
<strong>do</strong>ze diretores da editora para <strong>de</strong>cidir<br />
se lançariam mesmo as coleções<br />
e qual seria lançada primeiro. Os presentes<br />
foram unânimes na opinião <strong>de</strong><br />
que não <strong>de</strong>veriam lançar nenhum, até<br />
porque a própria palavra “fascículo”<br />
não era sequer conhecida <strong>do</strong> público.<br />
Civita agra<strong>de</strong>ceu a sincerida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s, mas emen<strong>do</strong>u que se esquecera<br />
<strong>de</strong> informá-los: naquela reunião, ele<br />
teria 51% <strong>do</strong>s votos. E acabara <strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>cidir favorável ao lançamento. Par-<br />
Contra todas as opiniões Victor Civita<br />
começa a lançar fascículos colecionáveis.<br />
A enciclopédia Conhecer, que o Prefeito<br />
<strong>de</strong> São Paulo José Vicente <strong>de</strong> Faria Lima<br />
folheia, atingiu 500 mil exemplares<br />
vendi<strong>do</strong>s numa semana.<br />
<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />
Volume<br />
2<br />
PAULO SALOMÃO<br />
tiram para o item <strong>do</strong>is: lançariam uma enciclopédia<br />
ou uma edição da Bíblia? Civita abriu mão <strong>de</strong><br />
sua maioria e <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>cisão na mão <strong>do</strong>s colegas,<br />
dizen<strong>do</strong> preferir a enciclopédia. Mais conserva<strong>do</strong>res,<br />
eles optaram lançar primeiro A Bíblia Mais Bela<br />
<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, criada pela italiana Fabbri. As vendas<br />
foram surpreen<strong>de</strong>ntes. A Bíblia bateu os 150 mil<br />
exemplares. Em seguida, a Enciclopédia Conhecer<br />
ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 500 mil exemplares.<br />
No fim das contas, em 17 anos, foram vendi<strong>do</strong>s<br />
50 milhões <strong>de</strong> fascículos, que traziam 300 diferentes<br />
coleções como Gênios da Pintura, Medicina e<br />
Saú<strong>de</strong>, Os Bichos, Mitologia, Arte nos Séculos, As<br />
Gran<strong>de</strong>s Religiões e Os Imortais da Literatura. Também<br />
ven<strong>de</strong>u música nas bancas, com Os Gran<strong>de</strong>s<br />
Compositores da Música Universal, As Gran<strong>de</strong>s<br />
Óperas, História da Música Popular <strong>Brasileira</strong> e Os<br />
Gigantes <strong>do</strong> Jazz. Até Filosofia virou campeã <strong>de</strong><br />
vendas: com a série Os Pensa<strong>do</strong>res, Platão, em apenas<br />
15 dias, ven<strong>de</strong>u 100<br />
mil exemplares.<br />
Civita foi um homem<br />
cheio <strong>de</strong>ssas histórias. Rapidamente,<br />
ele passou a diversificar<br />
seus negócios.<br />
Certo dia, apresentou-se<br />
ao filho Roberto com a<br />
idéia <strong>de</strong> erguer hotéis turísticos<br />
Brasil afora.<br />
“Mas o que nós enten<strong>de</strong>mos<br />
<strong>de</strong> hotéis?”, pon<strong>de</strong>rou<br />
Roberto.<br />
“E que entendia Nick Hilton antes <strong>de</strong> fazer seu<br />
primeiro hotel?”, rebateu Victor, preparan<strong>do</strong> o lançamento<br />
da ca<strong>de</strong>ia que se chamaria Quatro Rodas.<br />
Outra vez, novamente com Roberto, quis saber se<br />
o filho sabia quantos armazéns-frigoríficos havia<br />
no Brasil.<br />
GERALDO MORI<br />
VICTOR CIVITA, UM APAIXONADO POR REVISTAS<br />
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