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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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De volta ao Brasil em 1934, quan<strong>do</strong> seu cunha<strong>do</strong><br />

Arman<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sales Oliveira foi nomea<strong>do</strong> interventor<br />

e <strong>de</strong>pois eleito Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo,<br />

Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho coor<strong>de</strong>nou a comissão<br />

que planejou e organizou a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo-Usp. A idéia da criação da instituição fora<br />

lançada pelo jornal ainda em 1927. E coube ao<br />

próprio Júlio a tarefa <strong>de</strong> arregimentar os professores<br />

estrangeiros para a formação <strong>do</strong> corpo<br />

<strong>do</strong>cente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, com <strong>de</strong>staque<br />

para os jovens Fernand Brau<strong>de</strong>l, Clau<strong>de</strong> Lévi-<br />

Strauss, Roger Basti<strong>de</strong> e Pierre Monbeig.<br />

Durante o Esta<strong>do</strong> Novo, que consoli<strong>do</strong>u a ditadura<br />

<strong>de</strong> Vargas em 1937, Júlio <strong>de</strong> Mesquita<br />

Filho foi preso 17 vezes e <strong>de</strong> novo exila<strong>do</strong>, primeiro<br />

em Lisboa e <strong>de</strong>pois em Buenos Aires,<br />

on<strong>de</strong> se encontrava em 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1940.<br />

Nessa data, solda<strong>do</strong>s da Força Pública ocuparam<br />

a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> jornal, sob a alegação <strong>de</strong> que seus<br />

proprietários armazenavam metralha<strong>do</strong>ras<br />

para <strong>de</strong>rrubar o Governo. Numa farsa, armas<br />

foram “apreendidas” na Redação. O jornal foi<br />

inicialmente fecha<strong>do</strong> e logo <strong>de</strong>pois confisca<strong>do</strong><br />

pela ditadura; passou a ser administra<strong>do</strong><br />

pelo Departamento <strong>de</strong> <strong>Imprensa</strong> e Propaganda,<br />

o Dip, cria<strong>do</strong> pela ditadura <strong>do</strong> Estano Novo<br />

para controlar a informação no País. A expropriação<br />

prolongou-se até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1945,<br />

quan<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> pelo Supremo Tribunal<br />

Fe<strong>de</strong>ral aos seus legítimos proprietários. Assim,<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo passou cinco anos e<br />

meio sob intervenção - perío<strong>do</strong> que o jornal não<br />

conta em sua história.<br />

Em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1951, o jornal inaugurou<br />

novo en<strong>de</strong>reço — o mo<strong>de</strong>rno edifício da Rua<br />

Major Quedinho, 28, on<strong>de</strong> permaneceria até junho<br />

<strong>de</strong> 1976. Foi ali que em 1966 nasceu o Jornal da Tar<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> início vespertino, que inovou a imprensa<br />

brasileira pela apresentação gráfica e pela exclusivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas reportagens, sob a direção <strong>de</strong> Ruy<br />

Mesquita, filho <strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho.<br />

Ainda no início <strong>de</strong>ssa década <strong>de</strong> 60 outro capítulo<br />

importante na história da publicação foi a reforma<br />

capitaneada por Giannino Carta, pai <strong>de</strong><br />

Mino Carta, e Cláudio Abramo, o qual intensificou<br />

e concluiu o trabalho <strong>do</strong> jornalista italiano. Nas<br />

mãos <strong>de</strong>sses jornalistas o Esta<strong>do</strong> começava a firmarse<br />

como o melhor jornal <strong>do</strong> País pós-guerra, o primeiro<br />

em sintonia com as principais referências em<br />

mídia impressa no mun<strong>do</strong>, muito antes da famosa<br />

reforma <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil, ocorrida em 1956-<br />

1957. Nessa época O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo passou a dar<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque à editoria Internacional, que estava<br />

sob o coman<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ruy Mesquita. Durante<br />

quase duas décadas, os assuntos internacionais <strong>do</strong>minaram<br />

a sua primeira página, <strong>de</strong>rruban<strong>do</strong> fronteiras<br />

na cobertura da imprensa brasileira.<br />

DO APOIO AO GOLPE<br />

ÀS AGRURAS DA CENSURA<br />

No início <strong>do</strong>s anos 60, em especial na proximida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> golpe militar <strong>de</strong> 1964, há páginas que, provavelmente,<br />

o Estadão preferia não ter escrito em<br />

sua história. Em editoriais e artigos críticos ao Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral, O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo, assim como muitos<br />

outros gran<strong>de</strong>s jornais brasileiros, combatia a<br />

ameaça <strong>do</strong> comunismo, criticava as alianças <strong>do</strong> Governo<br />

João Goulart com lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> esquerda e procurava<br />

mobilizar a opinião pública para o suposto<br />

perigo das reformas políticas por ele <strong>de</strong>fendidas. Em<br />

sua maioria, os jornais alertavam que “forças políticas<br />

comunistas tentariam tomar o po<strong>de</strong>r no País”.<br />

Além <strong>de</strong> apoiar o golpe e a eleição indireta <strong>do</strong> General<br />

Humberto <strong>de</strong> Alencar Castelo Branco para Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República, nos primeiros dias <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1964, pesa contra a história <strong>de</strong> O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo<br />

Jornal da ABI<br />

Mino Carta (à direita) estava à frente <strong>do</strong> lançamento<br />

<strong>do</strong> Jornal da Tar<strong>de</strong>, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Estadinho”, que chegou<br />

às bancas durante as comemorações <strong>do</strong>s 91 anos <strong>de</strong><br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S.Paulo no dia 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1966.<br />

Acima, a primeira página da primeira edição, tal como se<br />

encontra no Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

a <strong>de</strong>fesa aberta e pública da censura. Pouco antes da<br />

edição <strong>do</strong> Ato Institucional nº 5-AI-5, no editorial<br />

<strong>de</strong> sua edição <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1968, o jornal pedia<br />

a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> controle sobre as produções<br />

teatrais. Era uma postulação contraditória,<br />

principalmente pelo fato <strong>de</strong> o próprio jornal, em<br />

1951, ter instituí<strong>do</strong> o Prêmio Saci, volta<strong>do</strong> para aos<br />

melhores profissionais <strong>do</strong> teatro e <strong>do</strong> cinema (ver<br />

quadro abaixo).<br />

A edição <strong>do</strong> AI-5, em 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1968,<br />

trouxe, além <strong>do</strong> fechamento <strong>do</strong> Congresso Nacional<br />

por um ano, o agravamento das ações <strong>de</strong> censura<br />

prévia nos campos da música, teatro, cinema<br />

e televisão Além, é claro, da perda da liberda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

próprios jornais que, como o Estadão, até poucos<br />

meses antes <strong>de</strong>fendiam maior rigor <strong>do</strong>s censores<br />

sobre os artistas. A edição <strong>do</strong> jornal no dia da promulgação<br />

<strong>do</strong> Ato Institucional foi apreendida, por<br />

causa <strong>do</strong> editorial Instituições em Frangalhos, no qual<br />

Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho, que o redigiu, criticava a<br />

medida. Diante <strong>de</strong> tais ações <strong>de</strong> repressão, somadas<br />

à dissolução <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s políticos e à perda <strong>de</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

Volume<br />

2<br />

direitos civis, O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo passou a a<strong>do</strong>tar<br />

uma posição frontalmente contrária ao regime<br />

militar.<br />

Após a morte <strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho, em<br />

1969, seu filho Júlio <strong>de</strong> Mesquita Neto assumiu<br />

a direção da publicação. Começava o perío<strong>do</strong><br />

mais duro <strong>do</strong> regime militar. O Esta<strong>do</strong> e o Jornal<br />

da Tar<strong>de</strong> não se <strong>do</strong>braram diante da censura<br />

imposta pela ditadura. A partir <strong>de</strong> então, o<br />

jornal passou a contar com censores da Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral em sua Redação, ao contrário <strong>do</strong>s<br />

outros gran<strong>de</strong>s veículos brasileiros, que aceitaram<br />

se autocensurar. Recusan<strong>do</strong>-se a substituir<br />

as matérias cortadas, os <strong>do</strong>is jornais publicaram<br />

repetidas vezes os versos <strong>de</strong> Os Lusíadas,<br />

<strong>de</strong> Camões (Esta<strong>do</strong>), e receitas <strong>de</strong> bolos<br />

e <strong>do</strong>ces (Jornal da Tar<strong>de</strong>).<br />

Estu<strong>do</strong> feito pela Professora Maria Aparecida<br />

<strong>de</strong> Aquino em sua tese <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> na Usp mostra<br />

que no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1973 a 3 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1975 foram censuradas 1.136 matérias<br />

<strong>de</strong> O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo, mais da meta<strong>de</strong> relativas<br />

ao noticiário político geral. Os poucos critérios –<br />

ou a total falta <strong>de</strong>les – eram evi<strong>de</strong>ntes no corte da<br />

tesoura <strong>do</strong>s censores da época. Até mesmo a divulgação<br />

da ocorrência <strong>de</strong> um surto <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

meningite, absolutamente necessária para que a<br />

população se prevenisse contra ela, foi consi<strong>de</strong>rada<br />

“subversiva” e vetada.<br />

Em 1974, a Fe<strong>de</strong>ração Internacional <strong>de</strong> Jornais<br />

outorgou o Prêmio Pena <strong>de</strong> Ouro da Liberda<strong>de</strong> a<br />

Júlio <strong>de</strong> Mesquita Neto. Era o reconhecimento da<br />

comunida<strong>de</strong> internacional <strong>de</strong> jornalistas à luta travada<br />

no Brasil pelos jornais O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo e<br />

Jornal da Tar<strong>de</strong> contra a censura. No dia 21 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1980, a União Fe<strong>de</strong>ral foi con<strong>de</strong>nada a in<strong>de</strong>nizar<br />

os <strong>do</strong>is jornais pela imposição discriminatória da<br />

censura prévia no caso <strong>do</strong> noticiário sobre a <strong>de</strong>missão<br />

<strong>do</strong> Ministro Cirne Lima nos dias 11 e 12 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1973. Na ocasião, só os <strong>do</strong>is jornais foram proibi<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> publicar a notícia. Era a segunda vez que<br />

o Grupo Esta<strong>do</strong> ganhava uma ação contra uma arbitrarieda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Governo. A censura só acabou em<br />

4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1975, quan<strong>do</strong> O Esta<strong>do</strong> comemorava<br />

o centenário <strong>de</strong> sua fundação.<br />

Um texto em que o Estadão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a censura ao teatro<br />

Eis um trecho <strong>do</strong> editorial <strong>do</strong><br />

Estadão que, em junho <strong>de</strong><br />

1968, levou um grupo <strong>de</strong><br />

artistas <strong>do</strong> Rio e <strong>de</strong> São Paulo a<br />

<strong>de</strong>volverem, como forma <strong>de</strong><br />

protesto, os Prêmios Saci, com<br />

que o jornal homenageava to<strong>do</strong><br />

ano os melhores da área artística:<br />

“Foi uma oportuna<br />

manifestação a <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong><br />

Aurélio Campos, sobre os<br />

excessos que se tem verifica<strong>do</strong><br />

UCHA<br />

em representações teatrais no<br />

terreno <strong>do</strong> <strong>de</strong>srespeito aos<br />

preceitos morais. O mun<strong>do</strong><br />

teatral – atores, atrizes e autores<br />

- vem moven<strong>do</strong> uma campanha<br />

contra a censura(...) O que na<br />

censura geralmente se vê é uma<br />

ameaça à liberda<strong>de</strong>, o que<br />

assume a feição particularmente<br />

antipática quan<strong>do</strong> a liberda<strong>de</strong><br />

ameaçada é a artística. Carradas<br />

<strong>de</strong> razão, entretanto, teve o<br />

parlamentar ao assinalar, a<br />

propósito <strong>de</strong> peça teatral a cuja<br />

representação assistira, que a<br />

censura, longe <strong>de</strong> se mostrar<br />

rigorosa no escoimá-la <strong>de</strong> seus<br />

exageros mais escandalosos, o<br />

que revelou foi uma<br />

complacência que não po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser severamente<br />

criticada”, afirmava o editorial,<br />

que revoltou boa parte da classe<br />

artística.<br />

JOÃO PIRES/AE<br />

TRÊS JÚLIOS E UM RUY, TODOS MESQUITA<br />

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