Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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para perceber a sua chegada, em companhia <strong>do</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte americano, porque ele abriu a porta sem<br />
fazer barulho e <strong>de</strong>parou com aquela cena. O Presi<strong>de</strong>nte<br />
Truman olhava sem enten<strong>de</strong>r o que estava<br />
acontecen<strong>do</strong>. Só sei que o Doutor Moses ficou<br />
aborreci<strong>do</strong>, não <strong>de</strong>morou muito fui <strong>de</strong>miti<strong>do</strong>.<br />
Monarco ainda trabalhava na ABI quan<strong>do</strong> começou<br />
a compor os seus primeiros sambas:<br />
— Eu já fazia a minha água-com-açúcar, meu boicom-abóbora,<br />
e fiz um samba em homenagem ao<br />
Cartola. Cantei para Nássara, que chamou Vila-<br />
Lobos para ouvir. Era uma composição com rima um<br />
pouco pobre, mas ali eu já <strong>de</strong>monstrava o meu <strong>do</strong>m.<br />
Monarco diz que continuou aprimoran<strong>do</strong> os<br />
versos, quan<strong>do</strong> em 1952, aos 17 anos, compôs<br />
Retumbante vitória, em homenagem à sua querida<br />
Portela:<br />
— Esse foi pra valer e a Portela cantou o meu<br />
samba na cida<strong>de</strong>. Mais tar<strong>de</strong> o João Nogueira gravou<br />
este samba com o título Passa<strong>do</strong> da Portela. Era<br />
um samba <strong>de</strong> terreiro, que a escola cantava antes<br />
<strong>de</strong> entrar no <strong>de</strong>sfile, para aquecer os componentes.<br />
Eu me lembro que fiquei atrás <strong>de</strong> um poste<br />
emociona<strong>do</strong> ven<strong>do</strong> a Portela cantar o meu primeiro<br />
samba. Foi uma alegria muito gran<strong>de</strong>.<br />
Mesmo antes <strong>de</strong> integrar a ala da Velha Guarda<br />
da Portela, Monarco conviveu com sambistas<br />
importantes, mas lamenta não ter ti<strong>do</strong> a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> estar mais próximo <strong>de</strong> Paulo da Portela,<br />
um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res da escola, pois quan<strong>do</strong> chegou<br />
à azul-e-branco <strong>de</strong> Madureira, este havia briga<strong>do</strong><br />
com a diretoria e se afasta<strong>do</strong> da agremiação:<br />
— Só nos víamos nas batalhas <strong>de</strong> confete em<br />
Osval<strong>do</strong> Cruz — conta Monarco.<br />
Em 1962, Paulo da Portela veio a ser enalteci<strong>do</strong><br />
por Monarco no samba Meu Passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Glória, cuja<br />
letra falava também <strong>de</strong> Cartola (‘Paulo e Claudionor/Quan<strong>do</strong><br />
chegavam na roda <strong>de</strong> samba abafavam./To<strong>do</strong>s<br />
corriam pra ver’):<br />
— Eu fiz este samba em homenagem ao Paulo,<br />
Cartola e Ismael. Senti muita sauda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Paulo<br />
quan<strong>do</strong> ele se afastou e foi para a Lira <strong>do</strong> Amor<br />
(escola <strong>de</strong> samba), em Bento Ribeiro. Eu gostava<br />
tanto <strong>do</strong> Paulo que fiz uma parceria póstuma com<br />
ele em Quitan<strong>de</strong>iro. Era um samba que só tinha uma<br />
primeira passagem, eu então fiz a segunda. Falei<br />
com a família, eles concordaram e receberam os direitos<br />
autorais.<br />
Monarco acha que a<br />
Velha Guarda da Portela<br />
vive um momento <strong>de</strong> extrema<br />
felicida<strong>de</strong>. Recentemente<br />
ele conseguiu<br />
realizar um antigo sonho,<br />
que foi colocar uma<br />
imagem <strong>do</strong> Paulo da Portela<br />
na quadra da escola:<br />
— Conseguimos inaugurar<br />
um busto <strong>do</strong> Paulo<br />
<strong>de</strong>ntro da Portela. Ele não<br />
voltou para a escola em<br />
vida, mas agora está novamente<br />
junto <strong>de</strong> nós.<br />
Para os portelenses isso<br />
representa muito, era o sonho <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />
morte, quan<strong>do</strong> quisemos velar o seu corpo na quadra,<br />
mas a esposa <strong>de</strong>le não permitiu.<br />
Monarco garante que, mesmo afasta<strong>do</strong>, Paulo<br />
da Portela espiritualmente sempre esteve liga<strong>do</strong> à<br />
escola, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> lendário Natal, que foi Presi<strong>de</strong>nte<br />
da agremiação:<br />
— Natal era o <strong>de</strong>stemi<strong>do</strong>, o valente; Paulo, o<br />
poeta. Os <strong>do</strong>is fizeram muito pelo samba e pela<br />
Portela.<br />
No início <strong>do</strong>s anos 70, Monarco conheceu o cronista<br />
carnavalesco Juvenal Portela, que o levou para<br />
“Eu já fazia a minha águacom-açúcar,<br />
meu boi-comabóbora,<br />
e fiz um samba em<br />
homenagem ao Cartola. Cantei<br />
para Nássara, que chamou<br />
Vila-Lobos para ouvir.”<br />
Jornal da ABI<br />
Como outros chefes <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, o Presi<strong>de</strong>nte Truman <strong>de</strong>sfilou no Rio em carro aberto. No encontro com membros da ABI, Moses,<br />
que era poliglota, sau<strong>do</strong>u-o em inglês. Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Truman, à esquerda, estava Heitor Beltrão, Vice-Presi<strong>de</strong>nte da Casa.<br />
o Jornal <strong>do</strong> Brasil, como guarda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> automóveis. No<br />
JB, teve contato com Juarez Barroso, José Ramos Tinhorão,<br />
Carlos Lemos e Ol<strong>de</strong>mário Touguinhó.<br />
— Eles me <strong>de</strong>ram muito apoio e diziam que eu<br />
ia viver <strong>de</strong> música, porque tinha muito talento –<br />
conta. Foi nessa época que as portas para o mun<strong>do</strong><br />
da música começaram<br />
a se abrir:<br />
— Tu<strong>do</strong> começou a<br />
dar certo. A minha veia<br />
poética floresceu. Fiz o<br />
samba Tu<strong>do</strong> te darei meu<br />
amor” (1972), em parceria<br />
com o Walter Rosa,<br />
que foi grava<strong>do</strong> por Martinho<br />
da Vila. Esse samba<br />
abriu as portas para<br />
que eu entrasse no meio<br />
musical e <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser<br />
guarda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> carros,<br />
como eu fazia no Jornal<br />
<strong>do</strong> Brasil.<br />
Monarco é autor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200 sambas, a maioria<br />
gravada.<br />
— O baú está rechea<strong>do</strong> — diz, lembran<strong>do</strong> que<br />
no tempo em que começou a compor poucos tinham<br />
acesso às grava<strong>do</strong>ras, principalmente o compositor<br />
<strong>do</strong> morro:<br />
— Nós resistimos. Eu me mantive fiel às tradições<br />
da linha <strong>do</strong> samba <strong>de</strong> terreiro, que aprendi com<br />
Paulo da Portela, Alci<strong>de</strong>s, Cartola e o malandro histórico<br />
Carlos Cachaça. Nunca envere<strong>de</strong>i pelo modismo<br />
e acabei merecen<strong>do</strong> o elogio <strong>de</strong>sses bambas.<br />
Monarco se diz agra<strong>de</strong>ci<strong>do</strong> a Deus pelo <strong>do</strong>m da<br />
<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />
Volume<br />
2<br />
poesia e por ter herda<strong>do</strong> a musicalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pai, José<br />
Felipe Diniz, poeta mineiro <strong>de</strong> Ubá, terra <strong>de</strong> Ari<br />
Barroso. E se sente muito feliz <strong>de</strong> ver os filhos<br />
Mauro e Marquinho Diniz e a neta Juliana seguin<strong>do</strong><br />
os seus passos na carreira musical.<br />
Atualmente Monarco é o lí<strong>de</strong>r da Velha Guarda<br />
da Portela, antes li<strong>de</strong>rada pelos parceiros Ventura<br />
e Manacéia. Ele acredita que caiu em suas<br />
mãos a proposta <strong>de</strong> manter o samba verda<strong>de</strong>iro,<br />
sem se <strong>de</strong>sviar das tradições. Se antes era persegui<strong>do</strong>,<br />
o samba agora ganhou status <strong>de</strong> patrimônio<br />
cultural <strong>do</strong> País. Posição que, estima, jamais po<strong>de</strong>rá<br />
ser perdida:<br />
— O nosso <strong>de</strong>ver agora é manter essa condição<br />
e não <strong>de</strong>ixar a peteca cair. Ver o meu samba na<br />
fidalguia <strong>do</strong>s salões, no Teatro Municipal, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> ser marginaliza<strong>do</strong>, é tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> bom.<br />
Sobre a ABI, Monarco se consi<strong>de</strong>ra gratifica<strong>do</strong><br />
por ter feito parte <strong>do</strong> quadro funcional da Casa e<br />
pela ajuda que recebeu em um momento <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>,<br />
quan<strong>do</strong> esteve <strong>do</strong>ente e a entida<strong>de</strong> abriu<br />
o seu auditório para que nele se realizasse um show<br />
em seu benefício, com a participação <strong>de</strong> Roberto<br />
Ribeiro, Can<strong>de</strong>ia e Paulinho da Viola, entre outros:<br />
— São coisas que jamais vou esquecer. Meus<br />
discos foram vendi<strong>do</strong>s na portaria, para angariar<br />
fun<strong>do</strong>s e pagar o meu tratamento. Desejo muitas<br />
felicida<strong>de</strong>s à ABI pela passagem <strong>do</strong> seu centenário.<br />
<strong>Especial</strong>mente ao Presi<strong>de</strong>nte Maurício Azê<strong>do</strong>,<br />
que conheci quan<strong>do</strong> ainda era um jovem jornalista.<br />
Ele continua trabalha<strong>do</strong>r e conduzin<strong>do</strong> muito bem<br />
a sua missão. Além disso, fico contente por causa<br />
<strong>de</strong>sta oportunida<strong>de</strong> que ele me <strong>de</strong>u <strong>de</strong> contar a<br />
minha história com a Casa.<br />
ACERVO ABI/BIBLIOTECA BASTOS TIGRE ACERVO ABI/BIBLIOTECA BASTOS TIGRE<br />
“O PRESIDENTE TRUMAN ME PÔS NA RUA”<br />
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