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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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VICTOR CIVITA, UM APAIXONADO POR REVISTAS<br />

66<br />

Jornal da ABI<br />

Edgard <strong>de</strong> Silvio Faria, Maurício <strong>de</strong> Sousa, Victor Civita e Pelé no dia em que foi assina<strong>do</strong> o contrato para a<br />

publicação da revista Pelezinho, que integraria a linha infantil da editora juntamente com a Turma da Mônica.<br />

“Nenhum”, disse Victor, interrompen<strong>do</strong> o raciocínio<br />

<strong>de</strong> Roberto, que nem sabia para que serviam<br />

tais armazéns. “Mas vou fazê-los”, completou.<br />

Era o começo da Cefri.<br />

Civita não gostava muito <strong>de</strong> política. Como<br />

tantos empresários, não distinguia a condução <strong>de</strong><br />

um negócio e <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> e achava que política<br />

atrapalhava. Preferia divulgar cultura e entretenimento<br />

<strong>do</strong> que propriamente jornalismo.<br />

Queria ver as bancas transformadas em verda<strong>de</strong>iras<br />

bibliotecas. O que não<br />

o impedia <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r<br />

os amigos empresários em<br />

uma reunião em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1963, época <strong>de</strong> agitação<br />

e instabilida<strong>de</strong> pelo discurso<br />

esquerdista <strong>do</strong> Governo<br />

João Goulart. Enquanto<br />

um dizia que ven<strong>de</strong>ria tu<strong>do</strong><br />

e outro que iria embora, Civita<br />

saiu-se com esta:<br />

“Pois eu acabo <strong>de</strong> comprar<br />

uma nova rotativa”.<br />

Os amigos ficaram boquiabertos.<br />

“Qual é o problema?”, retrucou. “Se me confiscarem<br />

a empresa, fico sem nada <strong>do</strong> mesmo jeito. Mas<br />

eles, pelo menos, ficam com uma empresa melhor”.<br />

Ainda assim, Civita apoiou o filho Roberto no<br />

lançamento das revistas Realida<strong>de</strong> (1966) e Veja<br />

(1968). Em 1970, prece<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à conquista <strong>do</strong> tricampeonato<br />

mundial <strong>de</strong> futebol, surge a semanal Placar;<br />

no ano seguinte, Exame, a primeira revista <strong>de</strong><br />

negócios <strong>do</strong> Brasil, e a versão nacional <strong>de</strong> Playboy,<br />

que revolucionou o segmento <strong>de</strong> revistas masculinas.<br />

Nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 70, em diversos<br />

<strong>de</strong>sses veículos, Civita sustentou a luta contra<br />

a censura. Até por causa disso, teve vetada pelos<br />

militares sua tentativa <strong>de</strong> expansão para a televisão,<br />

com a compra <strong>do</strong> espólio da TV Tupi.<br />

“Uma das gran<strong>de</strong>s contribuições <strong>de</strong> meu pai foi<br />

na profissionalização <strong>do</strong> jornalismo. Quan<strong>do</strong> voltei<br />

<strong>de</strong> meus estu<strong>do</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, encontrei no<br />

Brasil jornalistas com <strong>do</strong>is, três, até cinco empregos.<br />

Com bons salários e muito investimento,<br />

conseguimos mudar essa realida<strong>de</strong>”, contou Roberto<br />

Civita em entrevista publicada no livro A<br />

Revista no Brasil.<br />

A partir <strong>do</strong>s anos 80, coube a Roberto dirigir a<br />

editora, enquanto o irmão Richard ficou com os<br />

<strong>de</strong>mais negócios. E estes foram muitos. No final<br />

<strong>do</strong>s anos 70, foi lançada a Abril Ví<strong>de</strong>o, que passou<br />

a investir em produções in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Na década<br />

<strong>de</strong> 80, foi a vez <strong>de</strong> a Abril trazer para o Brasil o<br />

canal <strong>de</strong> televisão MTV.<br />

O golfe era um <strong>do</strong>s poucos passatempos que Victor<br />

Civita se permitia. Ainda assim, mesmo <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> sair da frente <strong>do</strong>s negócios, continuou acompanhan<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> perto. Nos últimos anos, ainda realizou<br />

um antigo sonho, crian<strong>do</strong> e dirigin<strong>do</strong> a Fundação<br />

Victor Civita, instituição sem fins lucrativos<br />

que investe em educação, preparan<strong>do</strong> professores,<br />

amparan<strong>do</strong> alunos e publican<strong>do</strong> materiais<br />

“Sem sonhos nada se faz”<br />

Confissões e idéias <strong>de</strong> VC, assim chama<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> cita<strong>do</strong> pelos mais íntimos.<br />

“Se eu tivesse aceita<strong>do</strong> a centésima parte <strong>do</strong>s<br />

“não” que recebi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cheguei ao Brasil,<br />

as empresas que fun<strong>de</strong>i não existiriam.”<br />

“As pessoas <strong>de</strong>vem ter garra, interesse,<br />

persistência e fé, como também sonhos. Sem<br />

sonhos, nada se faz.”<br />

“Escolhi a árvore como símbolo da Abril<br />

porque é a representação da fertilida<strong>de</strong>, a<br />

própria imagem da vida. O ver<strong>de</strong> porque é a<br />

cor da esperança e <strong>do</strong> otimismo.”<br />

“Não é a mais fácil, a mais cômoda palavra<br />

que existe. Se alguém diz não, terminaram aí<br />

seus problemas. Os problemas realmente<br />

começam quan<strong>do</strong> você diz sim.”<br />

“To<strong>do</strong>s têm que estar satisfeitos. Isto é uma<br />

coisa básica da filosofia da Abril: leitores,<br />

anunciantes, funcionários e colabora<strong>do</strong>res.”<br />

“Quero ter uma idéia nova a cada dia e,<br />

<strong>de</strong>pois, tentar realizá-la.”<br />

“O mun<strong>do</strong> precisa <strong>de</strong> faze<strong>do</strong>res e não <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>alistas. Embora to<strong>do</strong> faze<strong>do</strong>r seja um i<strong>de</strong>alista.”<br />

Volume<br />

2<br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

.ACERVO MEMÓRIA ABRIL/JUSSI LEHTO<br />

a preço <strong>de</strong> custo, como a revista Nova Escola.<br />

Apesar <strong>de</strong> arriscar-se tanto, Civita era um exagera<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>talhista. <strong>Especial</strong>mente quan<strong>do</strong> o assunto<br />

era a pontualida<strong>de</strong>. Não conseguia se adaptar ao<br />

hábito jornalístico <strong>de</strong> trabalhar até tar<strong>de</strong> e chegar<br />

tar<strong>de</strong> ao local <strong>de</strong> trabalho. Também era o homem<br />

<strong>do</strong>s bilhetinhos, como aquele que certa vez escreveu<br />

a Thomaz Souto Corrêa, Vice-Presi<strong>de</strong>nte e<br />

Diretor Editorial da Abril:<br />

“Como cultor <strong>do</strong> bom uso <strong>do</strong> nosso idioma, preocupa-me<br />

ter nota<strong>do</strong> por várias vezes em nossas<br />

revistas a confusão entre as palavras ‘mitificar’<br />

(criar mitos) e ‘mistificar’ (enganar, iludir). Conto<br />

com sua permanente vigilância nesta e nas <strong>de</strong>mais<br />

questões pela causa <strong>do</strong> uso correto <strong>do</strong> nosso<br />

idioma.”<br />

UMA SEMANA DE 1990<br />

Victor e Sylvana morreram em 1990 com apenas<br />

uma semana <strong>de</strong> intervalo. Ela ficou <strong>do</strong>ente primeiro,<br />

internada durante semanas, e em coma, no<br />

final. Mesmo abati<strong>do</strong> com a situação, Victor tentava<br />

manter a rotina. Na sexta-feira, 24 <strong>de</strong> agosto,<br />

foi trabalhar no prédio da Marginal. Avisou o<br />

filho Roberto e voltou para casa na hora <strong>do</strong> almoço,<br />

dizen<strong>do</strong> que estava um pouco indisposto, nada<br />

mais. Richard, como era seu costume, visitava a<br />

mãe naquele dia, no hospital. Às 16h30min, ambos<br />

receberam telefonemas avisan<strong>do</strong> que algo<br />

grave acontecera com o pai. Acordan<strong>do</strong> <strong>do</strong> sono,<br />

após o almoço, Victor caiu da cama e ficou no chão.<br />

Quan<strong>do</strong> chegaram, primeiro Richard, <strong>de</strong>pois Roberto,<br />

ele estava morto.<br />

Em quatro décadas <strong>de</strong> Brasil, Civita construiu<br />

empresas nas mais variadas áreas, <strong>de</strong> livros e discos<br />

às listas telefônicas, passan<strong>do</strong> por guias, anuários<br />

e enciclopédias. Criou distribui<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> publicações,<br />

produtoras <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, hotéis, transporta<strong>do</strong>ras,<br />

frigoríficos e uma fábrica <strong>de</strong> embalagens.<br />

Mas até o fim sua gran<strong>de</strong> paixão parece ter si<strong>do</strong><br />

mesmo os mais <strong>de</strong> duzentos títulos <strong>de</strong> revistas que<br />

colocou no merca<strong>do</strong> e que ven<strong>de</strong>ram mais <strong>de</strong> 1<br />

bilhão <strong>de</strong> exemplares.<br />

ACERVO MEMÓRIA ABRIL/SERGIO SADE

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