Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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LUCIANA WHITAKER/FOLHA IMAGEM<br />
O imigrante que começou imprimin<strong>do</strong> folhas para o jogo <strong>do</strong> bicho criou a revista que usou<br />
a fotografia como sua gran<strong>de</strong> força editorial e se tornou a publicação mais vendida no Brasil.<br />
A<strong>do</strong>lpho Bloch nasceu em 1908 em Jitomir,<br />
cida<strong>de</strong> ucraniana que, na época, somava cerca<br />
<strong>de</strong> 100 mil habitantes. Viu <strong>de</strong> perto os<br />
horrores da guerra. Veio para o Brasil, on<strong>de</strong><br />
cresceu, aconteceu e virou manchete. Mais<br />
<strong>do</strong> que isso, construiu a sua própria Manchete. De<br />
início apenas uma revista. Em pouco tempo, parte<br />
<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s principais grupos <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong><br />
País, com uma emissora que cobria to<strong>do</strong> o território<br />
nacional, rádios, editora e, sobretu<strong>do</strong>, revistas.<br />
Muitas revistas. Sob sua chancela, reinavam alguns<br />
<strong>do</strong>s títulos mais relevantes e <strong>de</strong> maior sucesso comercial,<br />
sobretu<strong>do</strong> durante as décadas <strong>de</strong> 60 e 70.<br />
Ainda em sua infância, em seu país <strong>de</strong> origem,<br />
A<strong>do</strong>lpho já convivia com as ativida<strong>de</strong>s comerciais.<br />
Sua família possuía uma litotipografia em sua<br />
própria residência. Aos nove anos, foi testemunha<br />
da Revolução Russa, assistin<strong>do</strong> a diversos combates,<br />
ao me<strong>do</strong> e ao pavor. O fato <strong>de</strong> a família Bloch<br />
ser <strong>de</strong> origem judaica fez com que se envolvessem<br />
em muitos problemas em 1917. A violência <strong>do</strong>s<br />
exércitos <strong>de</strong> cossacos contra os ju<strong>de</strong>us foi imedi-<br />
POR PAULO CHICO<br />
ata. Num <strong>de</strong>sses episódios, eram oito pessoas na<br />
sala da residência quan<strong>do</strong> os cossacos surgiram, <strong>de</strong>sembainhan<strong>do</strong><br />
seus sabres e exigin<strong>do</strong> ouro, jóias<br />
e objetos <strong>de</strong> valor como resgate da vida daqueles<br />
que ali se encontravam. A mãe <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lpho entregou<br />
aos solda<strong>do</strong>s um porta-jóias. Somente por isso<br />
ninguém foi sacrifica<strong>do</strong> no local.<br />
Ainda em 1917, uma diligência <strong>do</strong> filho <strong>de</strong> um<br />
<strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s da família Bloch, chama<strong>do</strong> Baruch,<br />
os levou a Kiev, localizada a 120 quilômetros<br />
<strong>de</strong> Jitomir. A viagem para a capital ucraniana percorreu<br />
trincheiras. Naqueles dias, aconteceu um<br />
fato que A<strong>do</strong>lpho Bloch nunca esqueceu: sua mãe<br />
tinha os cabelos pretos. Quan<strong>do</strong> chegou a Kiev, os<br />
seus cabelos estavam totalmente brancos. A tensão<br />
da viagem e o cuida<strong>do</strong> em proteger os filhos a<br />
haviam marca<strong>do</strong> para sempre. Em 1921, <strong>de</strong>ixou a<br />
Ucrânia <strong>de</strong>finitivamente, chegan<strong>do</strong> a morar em<br />
Nápoles, na Itália, on<strong>de</strong> já era possível perceber os<br />
primeiros presságios <strong>do</strong> que seria a futura era<br />
Mussolini. Somente em 1922 os Bloch <strong>de</strong>sembarcaram<br />
ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />
Volume<br />
2<br />
ADOLPHO<br />
BLOCH<br />
O gráfico que transformou<br />
imagens em manchetes<br />
Chegan<strong>do</strong> ao Brasil, no início <strong>de</strong> 1922, a família<br />
trazia na bagagem apenas a saú<strong>de</strong>. Como riqueza,<br />
um pilão. Foram morar no Andaraí. Achavam<br />
a cida<strong>de</strong> muito interessante. Vendia-se <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> na<br />
rua: peixeiros com suas varas e caçambas repletas<br />
<strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>s que pareciam ter saí<strong>do</strong> naquele instante<br />
<strong>do</strong> mar. O <strong>do</strong>no <strong>do</strong> armazém logo oferecia o seu<br />
ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> fia<strong>do</strong> e as amostras <strong>de</strong> sardinhas, bacalhau<br />
e manteiga enchiam os olhos. E acalmavam<br />
o estômago. Para quem acabara <strong>de</strong> sobreviver a tantas<br />
adversida<strong>de</strong>s numa Europa em conflitos, aquela<br />
era uma vida bastante diferente. O pa<strong>de</strong>iro, o homem<br />
<strong>do</strong> botequim, to<strong>do</strong>s queriam ajudar.<br />
Os Bloch investiram a pequena economia no<br />
mesmo ramo com o qual trabalhavam quan<strong>do</strong><br />
moravam na Rússia: o gráfico. Já em 1923, com<br />
muito sacrifício, conseguiram comprar uma pequena<br />
impressora manual e começam rodan<strong>do</strong> folhas<br />
numeradas para o hoje ilegal jogo <strong>do</strong> bicho. Esta<br />
era a primeira tipografia na vida <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lpho Bloch.<br />
Durante a década <strong>de</strong> 40, trabalhou com muito<br />
sucesso na editora Rio Gráfica, <strong>de</strong> Roberto