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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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O GRÁFICO QUE TRANSFORMOU IMAGENS EM MANCHETES<br />

58<br />

Marinho. Já nessa época A<strong>do</strong>lpho era amigo <strong>de</strong><br />

artistas e políticos além <strong>de</strong> freqüenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s redutos<br />

da boêmia da cida<strong>de</strong>, como as rodas <strong>de</strong> gafieira<br />

<strong>do</strong> Grêmio Recreativo Familiar Kananga <strong>do</strong><br />

Japão, na Lapa. Esse lugar inspiraria a novela homônima<br />

da Re<strong>de</strong> Manchete, em 1989.<br />

No início <strong>do</strong>s anos 50 foram lançadas gran<strong>de</strong>s<br />

revistas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e A<strong>do</strong>lpho as acompanhava<br />

<strong>de</strong> perto. Costumava dizer que o princípio<br />

da felicida<strong>de</strong> consiste em se trabalhar naquilo que<br />

se gosta – e ele gostava <strong>de</strong> trabalhar naquele ramo.<br />

Em 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1952, lança o primeiro número<br />

da revista Manchete, realizan<strong>do</strong> o sonho <strong>de</strong> publicar<br />

um semanário nacional. A edição <strong>de</strong> estréia não<br />

o agra<strong>do</strong>u, fazen<strong>do</strong> com que ele mesmo lutasse pelo<br />

seu melhoramento. Só começou a compreen<strong>de</strong>r<br />

um pouco <strong>do</strong> jornalismo quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> suicídio <strong>de</strong><br />

Getúlio Vargas, em 1954. A capa já estava impressa,<br />

com o Briga<strong>de</strong>iro Eduar<strong>do</strong> Gomes, tradicional<br />

adversário <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte. Na manhã <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> agosto,<br />

uma terça-feira, quan<strong>do</strong> Lourival Fontes telefonou<br />

para A<strong>do</strong>lpho para informá-lo sobre o suicídio,<br />

este teve que imprimir nova capa com o<br />

Presi<strong>de</strong>nte Vargas. À tar<strong>de</strong>, a edição foi para as ruas<br />

e à noite já estava esgotada.<br />

Em 1955, outra corrida contra o tempo marcou,<br />

novamente, a trajetória da revista. A cantora Carmem<br />

Miranda morrera nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e seria<br />

sepultada no Brasil. O enterro foi num sába<strong>do</strong>, com<br />

gran<strong>de</strong> comoção popular. Neste contexto não restavam<br />

dúvidas. A capa da semana seria mesmo o<br />

sepultamento da Pequena Notável. Mas no <strong>do</strong>mingo<br />

à tar<strong>de</strong> a boate Vogue pegou fogo. Dois homens,<br />

em <strong>de</strong>sespero, atiraram-se <strong>do</strong> prédio. A tragédia<br />

abalou a cida<strong>de</strong> e A<strong>do</strong>lpho optou rapidamente pela<br />

mudança da capa, trocan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>staque <strong>do</strong> enterro<br />

<strong>de</strong> Carmem pelo incêndio. Como na experiência <strong>do</strong><br />

ano anterior, envolven<strong>do</strong> o suicídio <strong>de</strong> Getúlio Vargas,<br />

a edição se esgotou no mesmo dia.<br />

A imagem, aliás, possuía gran<strong>de</strong> força editorial.<br />

Para reforçar cada vez mais o andamento <strong>de</strong> sua revista,<br />

A<strong>do</strong>lpho Bloch fez contratos com agências <strong>de</strong><br />

fotografias no exterior e teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cobrir<br />

os fatos mundiais. A qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> material fotográfico<br />

da Manchete <strong>de</strong>u muita vida à publicação, que<br />

passou a ser conhecida internacionalmente. Nessa<br />

altura, o parque gráfico <strong>de</strong> Parada <strong>de</strong> Lucas ficara<br />

pronto, com aprimoramento da qualida<strong>de</strong> gráfica,<br />

aumentan<strong>do</strong>, assim, a produção <strong>do</strong> semanário.<br />

UMA GRANDE AMIZADE<br />

Após a morte <strong>de</strong> Vargas, vieram as crises políticas<br />

<strong>de</strong> 1955. O ex-Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

Juscelino Kubitschek foi eleito Presi<strong>de</strong>nte da República.<br />

A<strong>do</strong>lpho Bloch tinha muita simpatia por<br />

ele, pelo projeto <strong>de</strong> transferência da capital fe<strong>de</strong>ral<br />

para o Planalto Central, mas não o conhecia<br />

ainda bem. O próprio slogan <strong>de</strong> JK – 50 anos em cinco<br />

– havia si<strong>do</strong> extraí<strong>do</strong>, por A<strong>do</strong>lpho, <strong>de</strong> um discurso<br />

<strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte em uma pequena cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> interior.<br />

Muito critica<strong>do</strong> pela imprensa, que fazia campanha<br />

contra os projetos <strong>de</strong> JK, o slogan foi reproduzi<strong>do</strong><br />

em 20 mil cartazes pelo Grupo Bloch.<br />

Certa vez, procuran<strong>do</strong> o Presi<strong>de</strong>nte para explicar-lhe<br />

a estratégia <strong>do</strong>s cartazes expostos nas principais<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> País, A<strong>do</strong>lpho o encontrou na<br />

cozinha <strong>do</strong> Catete, comen<strong>do</strong> uma marmita que<br />

viera <strong>do</strong> Palácio Laranjeiras. JK ficou feliz ao vêlo.<br />

A<strong>do</strong>lpho disse, então:<br />

“Presi<strong>de</strong>nte, esta campanha diária contra o senhor,<br />

feita pela imprensa, rádio e televisão, está sen<strong>do</strong><br />

causada pela minha confiança no seu Governo. Fui<br />

eu quem man<strong>de</strong>i imprimir e colocar cartazes”.<br />

JK <strong>de</strong>u uma gargalhada e respon<strong>de</strong>u:<br />

“Então, Bloch, você acha que nós vamos fazer<br />

o Brasil caminhar 50 anos em apenas cinco?”.<br />

Jornal da ABI<br />

As lembranças <strong>de</strong> Murilo Melo Filho<br />

O Conselho Empresarial <strong>de</strong> Cultura da <strong>Associação</strong><br />

Comercial <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, em parceria<br />

com o Conselho Diretor da instituição, realizou<br />

uma gran<strong>de</strong> homenagem em comemoração ao<br />

centenário <strong>do</strong> empresário A<strong>do</strong>lpho Bloch no dia<br />

22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2008. O empresário teria completa<strong>do</strong><br />

100 anos em 8 <strong>de</strong> outubro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />

Dentre os presentes ao evento, <strong>de</strong>stacaramse<br />

as palavras <strong>do</strong> membro da Aca<strong>de</strong>mia <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> Letras Murilo Melo Filho, um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s colabora<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Grupo Bloch.<br />

— Da Manchete guar<strong>do</strong> a imensa gratidão <strong>de</strong><br />

ter nela trabalha<strong>do</strong> durante mais <strong>de</strong> 40 anos,<br />

numa escola <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, correção, dignida<strong>de</strong>,<br />

confiança e otimismo, com exemplos muito importantes<br />

e úteis nestes anos que me restam <strong>de</strong><br />

vida, ensina<strong>do</strong>s a mim por um fabuloso e inesquecível<br />

homem chama<strong>do</strong> A<strong>do</strong>lpho Bloch, <strong>do</strong><br />

qual sinto hoje e sentirei sempre muita falta e<br />

sauda<strong>de</strong>s imensas.<br />

Murilo <strong>de</strong>stacou características da personalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> empresário: “Da enorme sabe<strong>do</strong>ria humana<br />

<strong>de</strong> A<strong>do</strong>lpho Bloch, lastreada nos milhares<br />

A partir daquele dia tornaram-se amigos inseparáveis.<br />

A<strong>do</strong>lpho tinha a convicção <strong>de</strong> que JK era um<br />

gran<strong>de</strong> homem e que seu lugar na História estava<br />

garanti<strong>do</strong>. Abraçou, quase que solitariamente, a<br />

campanha por Brasília. Editou as memórias <strong>do</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte, apesar das muitas dificulda<strong>de</strong>s que os<br />

governos <strong>de</strong> então colocaram no projeto. Nos anos<br />

70, após a experiência <strong>do</strong> auto-exílio, JK passou a<br />

freqüentar a redação <strong>de</strong> Manchete. Um <strong>do</strong>s editores<br />

pediu-lhe que escrevesse resenhas <strong>de</strong> livros. E,<br />

assim, os últimos cachês que JK recebeu foram os<br />

<strong>de</strong> colabora<strong>do</strong>r da revista. Assinou críticas <strong>de</strong> livros<br />

sobre economia, ensaios e romances. Na viagem<br />

em que per<strong>de</strong>u a vida, em 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1976,<br />

levava consigo um exemplar <strong>de</strong> Ó Jerusalém!, <strong>de</strong><br />

Larry Collins e Dominique Lapierre, que estava<br />

len<strong>do</strong> para redigir um <strong>de</strong>sses artigos.<br />

Em 1958 foi edita<strong>do</strong> um número especial <strong>de</strong><br />

Manchete, com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> fotos da construção da<br />

Volume<br />

2<br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

A<strong>do</strong>lpho Bloch chega à<br />

Brasília em abril <strong>de</strong> 1962<br />

acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Murilo<br />

Melo Filho, repórter da<br />

revista Manchete.<br />

<strong>de</strong> anos <strong>do</strong> seu gran<strong>de</strong> povo ju<strong>de</strong>u, recebi, entre<br />

outras, as lições <strong>de</strong> que <strong>de</strong> nada vale ser, ter ou<br />

parecer. O que vale na vida é fazer, construir e<br />

<strong>de</strong>senvolver. E ela só vale a pena ser vivida quan<strong>do</strong><br />

se faz algo pela vida, em vida. Para ele, também,<br />

só uma coisa valia: o trabalho. Porque,<br />

segun<strong>do</strong> garantia, as riquezas passam. E só com<br />

o trabalho você po<strong>de</strong> reconstruí-las. Ele próprio<br />

foi um exemplo disto: per<strong>de</strong>ra tu<strong>do</strong> na revolução<br />

comunista da Rússia e tu<strong>do</strong> reconstruiria no<br />

Brasil: um gran<strong>de</strong> império jornalístico”.<br />

Afinal, lembrou Murilo Melo Filho em seu discurso,<br />

o Grupo chegou a contar com uma ca<strong>de</strong>ia<br />

nacional <strong>de</strong> televisão, com cinco emissoras próprias,<br />

no Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte<br />

e Recife, e 49 afiliadas, cobrin<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o território<br />

brasileiro; uma ca<strong>de</strong>ia nacional <strong>de</strong> rádio, com<br />

seis estações próprias e 28 associadas, além <strong>de</strong><br />

15 revistas <strong>de</strong> circulação nacional, sen<strong>do</strong> três semanais<br />

e <strong>do</strong>ze mensais, com anúncios e vendas<br />

nas bancas, impressas no seu parque gráfico <strong>de</strong><br />

Parada <strong>de</strong> Lucas, com 40 mil metros quadra<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> área construída.<br />

nova capital, que esgotou 200 mil exemplares em<br />

apenas 24 horas. Foi assim que Brasília e Manchete<br />

cresceram juntas. Ainda durante a construção da<br />

cida<strong>de</strong>, A<strong>do</strong>lpho fez questão <strong>de</strong> inaugurar o primeiro<br />

escritório jornalístico da nova capital. Quan<strong>do</strong> o lago<br />

artificial encheu, Bloch man<strong>do</strong>u para Murilo Melo<br />

Filho, diretor local <strong>de</strong> Manchete, uma lancha com o<br />

bilhete: “Não faça economia. Por falta <strong>de</strong> relações<br />

públicas, os ju<strong>de</strong>us per<strong>de</strong>ram Jesus Cristo. E um<br />

homem <strong>de</strong>sses não se per<strong>de</strong>”, recomen<strong>do</strong>u, numa<br />

referência clara ao Presi<strong>de</strong>nte bossa-nova.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte João Goulart era também amigo<br />

e conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lpho Bloch. Moravam no Edifício<br />

Chopin, em Copacabana. Oscar Niemeyer<br />

havia trazi<strong>do</strong> a maquete da futura se<strong>de</strong> da Manchete<br />

no Russel. Bloch a havia apresenta<strong>do</strong> a Jango,<br />

que lhe perguntou se dispunha <strong>de</strong> recursos para<br />

a obra. O empresário, então, respon<strong>de</strong>u. “Presi<strong>de</strong>nte,<br />

no momento estou preocupa<strong>do</strong> em arranjar<br />

dinheiro para comprar as estampilhas da escritu-<br />

ACERVO MURILO MELO FILHO

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