Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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NOSSO SÓCIO ROBERTO MARINHO<br />
76<br />
Jornal da ABI<br />
O jovem Roberto Marinho (ao centro) teve como mestre em O Globo o secretário Euricles <strong>de</strong> Matos (E), que suce<strong>de</strong>u a Irineu<br />
Marinho na direção <strong>do</strong> jornal. Outro <strong>de</strong> seus preceptores foi Moses (D), que, vinte anos mais velho, o tratava como filho.<br />
receu à ABI, Casa que disse lhe ser familiar, a ponto<br />
<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-la como uma extensão <strong>de</strong> sua sala <strong>de</strong><br />
trabalho, afirmação com evi<strong>de</strong>nte arrebatamento<br />
<strong>de</strong> cortesia. De que lhe era familiar, porém, não<br />
havia dúvida: admiti<strong>do</strong> no quadro social em 1 <strong>de</strong><br />
abril <strong>de</strong> 1924, pouco meses após fazer 19 anos, ele<br />
tinha como seu diretor-tesoureiro em O Globo o<br />
jornalista que dirigiu a AB I por mais largo tempo,<br />
Herbert Moses, que a presidiu <strong>de</strong> 1931 a 1964.<br />
Naquele 1º <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1976, contava, portanto,<br />
com mais <strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong> vinculação à ABI, com<br />
a qual manteve sempre intensa e, com freqüência,<br />
generosa colaboração, expressa em <strong>do</strong>ações, presença<br />
em seminários, publicação <strong>de</strong> comunica<strong>do</strong>s<br />
da Casa, apoio às festas <strong>de</strong> Natal <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s e<br />
funcionários. Foi ele, em 1942, o primeiro sócio a<br />
figurar na categoria Remi<strong>do</strong>, certamente em retribuição<br />
a contribuição financeira <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> que<br />
não se tem registro.<br />
Ao ingressar na ABI, com proposta <strong>de</strong> filiação<br />
en<strong>do</strong>ssada pelo associa<strong>do</strong> João A. Pereira Rego, <strong>de</strong><br />
Moses, já a<strong>do</strong>enta<strong>do</strong> e no final da vida, recebe o carinho<br />
<strong>do</strong> amigo Roberto num <strong>do</strong>s seus últimos aniversários.<br />
quem pouco se conhece, o jovem Roberto já encontrou<br />
no quadro social outro jornalista igualmente<br />
jovem, Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho,<br />
um pernambucano que se radicou no Rio no fim <strong>do</strong>s<br />
anos 10 e que se associara à Casa em 27 <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 1922, dias após completar 25 anos.<br />
Companheiro <strong>de</strong> Barbosa Lima na ABI e, mais<br />
tar<strong>de</strong>, na Aca<strong>de</strong>mia <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Letras, Marinho<br />
acabaria por vencer uma competição não <strong>de</strong>clarada<br />
entre ambos: a <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>les seria associa<strong>do</strong> da<br />
Casa por mais tempo. Ao falecer, em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
2000, Barbosa contava 78 anos, cinco meses e 20 dias<br />
<strong>de</strong> filiação à ABI. Quan<strong>do</strong> morreu, em 6 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 2003, Marinho tinha completa<strong>do</strong> 79 anos, quatro<br />
meses e quatro dias <strong>de</strong> permanência no quadro<br />
social. Apaixona<strong>do</strong> por hipismo (bem como por caça<br />
submarina), Marinho ganhou por quase um ano <strong>de</strong><br />
vantagem, estabelecen<strong>do</strong> uma marca que dificilmente<br />
será superada: outro longevo sócio da ABI,<br />
o ex-Presi<strong>de</strong>nte Fernan<strong>do</strong> Segismun<strong>do</strong>, que fará 94<br />
anos em 5 <strong>de</strong> julho, contará em 11 <strong>de</strong> maio com 73<br />
anos <strong>de</strong> vinculação à Casa, na<br />
qual ingressou em 1936.<br />
Vinte anos mais novo que Herbert<br />
Moses, que contava mais <strong>de</strong><br />
40 anos quan<strong>do</strong> faleceu Irineu<br />
Marinho, Roberto mantinha uma<br />
relação carinhosa com seu diretor-tesoureiro<br />
e Presi<strong>de</strong>nte da ABI,<br />
ainda que um biógrafo <strong>de</strong> Marinho,<br />
o jornalista Pedro Bial, tenha<br />
atribuí<strong>do</strong> a Moses um comportamento<br />
“com rigor <strong>de</strong> pai tirânico”<br />
ou um “paternalismo autoritário”.*<br />
Reverente, tratan<strong>do</strong>-o respeitosamente<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>utor, Marinho<br />
<strong>de</strong>ixou transparente seu carinho<br />
por Moses, faleci<strong>do</strong> três anos antes,<br />
na saudação com que abriu<br />
sua conferência, cuja íntegra foi<br />
publicada em página inteira <strong>de</strong> O<br />
Globo na edição <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
1976. Disse o diretor-redator-chefe<br />
<strong>de</strong> O Globo, como era cita<strong>do</strong> no<br />
jornal, no qual se fazia mencionar<br />
sempre como “o nosso companheiro<br />
Roberto Marinho”:<br />
“Quero iniciar as minhas palavras<br />
prestan<strong>do</strong> homenagem<br />
aos antigos profissionais da imprensa<br />
que não só criaram esta<br />
<strong>Associação</strong> como também lhe <strong>de</strong>-<br />
ram uma alma perene e a instalaram<br />
numa se<strong>de</strong> condigna.<br />
olume<br />
2<br />
dição special <strong>do</strong> entenário<br />
“Entre tantos nomes ilustres <strong>de</strong> que é formada<br />
a nossa profissão, <strong>de</strong>sejo isolar e <strong>de</strong>stacar a figura<br />
<strong>do</strong> meu queri<strong>do</strong> companheiro <strong>de</strong> tantas lutas e <strong>de</strong><br />
tantos anos – o Dr. Herbert Moses.<br />
“O Dr. Moses foi, em momentos <strong>de</strong>cisivos, um<br />
colabora<strong>do</strong>r insubstituível, como meu colega na<br />
direção <strong>do</strong> O Globo. Homem <strong>de</strong> energia inexcedível,<br />
multiplican<strong>do</strong> a sua ativida<strong>de</strong> até a onipresença,<br />
o Dr. Moses <strong>de</strong>dicava à ABI o melhor <strong>do</strong> seu esforço<br />
e da sua imaginação cria<strong>do</strong>ra. Conhecen<strong>do</strong>o<br />
como o conheci, estou convenci<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, assim<br />
agin<strong>do</strong>, ele queria e perseguia, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, a valorização<br />
da então precária e duvi<strong>do</strong>sa profissão<br />
<strong>de</strong> jornalista.”<br />
Após dizer que se apresentava no Seminário<br />
como jornalista profissional, como homem <strong>de</strong> imprensa,<br />
“que se honra <strong>de</strong> ser filho <strong>de</strong> outro homem<br />
<strong>de</strong> imprensa, hoje incorpora<strong>do</strong> à história da nossa<br />
profissão”, para “uma conversa informal e extremamente<br />
cordial”, “apenas como um colega entre tantos<br />
que freqüentam esta Casa”, Marinho <strong>de</strong>clarouse<br />
“avesso a confissões ou explicações <strong>de</strong> público”.<br />
“Chego mesmo a sustentar que os homens <strong>de</strong> comunicação<br />
<strong>de</strong>vem <strong>de</strong> preferência manter-se numa<br />
discreta penumbra. Tanto quanto possível <strong>de</strong>vemos<br />
não ser notícia. Cumpre-nos, isto sim, servir ao <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> buscar com objetivida<strong>de</strong> e divulgar com honestida<strong>de</strong><br />
as notícias”,<br />
acrescentou, para em<br />
seguida ressaltar a sua<br />
ligação com a ABI:<br />
“Exatamente por estar<br />
nesta Casa que me<br />
é tão familiar – e que<br />
consi<strong>de</strong>ro uma extensão<br />
da minha sala <strong>de</strong><br />
trabalho —, <strong>de</strong>sejo expressar-me,<br />
na intimida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> oficiais <strong>do</strong> mesmo<br />
ofício, <strong>de</strong> uma maneira<br />
que, não sen<strong>do</strong><br />
nova, é, todavia, profundamente<br />
sincera e<br />
verda<strong>de</strong>ira.”<br />
Ao encerrar a conferência<br />
– que, por preservar<br />
a atualida<strong>de</strong> nos<br />
conceitos então emiti<strong>do</strong>s,<br />
será disponibiliza-<br />
Funda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> A Noite e <strong>de</strong><br />
O Globo, Irineu Marinho<br />
foi a gran<strong>de</strong> inspiração<br />
<strong>de</strong> seus filhos Roberto,<br />
Ricar<strong>do</strong> e Rogério.<br />
da no Site da ABI (www.abi.org.br) –, Marinho fez<br />
a apologia da ABI, <strong>do</strong>s jornalistas e da imprensa,<br />
dizen<strong>do</strong>:<br />
“Desejo encerrar esta minha conversa <strong>de</strong>spretensiosa<br />
com uma palavra <strong>de</strong> fé na profissão e nos<br />
profissionais que fundaram, ergueram e mantêm<br />
prestigiosa e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a <strong>Associação</strong> <strong>Brasileira</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Imprensa</strong>.<br />
‘O jornal está mais vivo <strong>do</strong> que nunca. A <strong>Imprensa</strong><br />
é hoje tão necessária quanto o foi ontem. O jornalismo<br />
será insubstituível numa socieda<strong>de</strong> que se<br />
pretenda mais livre, mais humana e mais justa.<br />
“Um mun<strong>do</strong> que dispense a missão <strong>do</strong> jornalista<br />
estará mutila<strong>do</strong>. Uma época que cerceie, enfraqueça<br />
ou anule a ação <strong>do</strong> profissional <strong>de</strong> imprensa estará<br />
por si mesma historicamente con<strong>de</strong>nada. Enquanto<br />
houver civilização, enquanto permanecer no homem<br />
a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação, nós, jornalistas, po<strong>de</strong>mos<br />
estar certos <strong>de</strong> que teremos funções especiais.<br />
“Não é outro o motivo que nos impõe a consciência<br />
da nossa responsabilida<strong>de</strong> social e nos compromete<br />
com <strong>de</strong>veres inalienáveis, na medida que<br />
se i<strong>de</strong>ntificam com a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta nobre profissão<br />
<strong>de</strong> homens esclareci<strong>do</strong>s e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.”<br />
*BIAL, Pedro. Roberto Marinho. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2004,<br />
il. (Memória Globo), páginas 147 e 148.