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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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CHATEAUBRIAND, DR. ASSIS OU CHATÔ<br />

56<br />

terceira vez, que ia casar-se. Desta vez a eleita era<br />

Maria Henriqueta Barroso <strong>do</strong> Amaral, uma jovem<br />

muito bonita, <strong>de</strong> 21 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, filha <strong>do</strong> juiz<br />

Zózimo Barroso <strong>do</strong> Amaral. O casamento, na<br />

maior simplicida<strong>de</strong>, aconteceu realmente na data<br />

marcada. Em 1927 Maria Henriqueta ficou grávida<br />

e <strong>de</strong>u à luz um menino, batiza<strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong>, filho<br />

<strong>de</strong> seu único casamento oficial.<br />

Assis Chateaubriand nunca foi fiel às suas<br />

mulheres, pulan<strong>do</strong> como um garanhão <strong>de</strong> uma para<br />

outra. Até que um dia <strong>de</strong>u <strong>de</strong> cara com uma linda<br />

a<strong>do</strong>lescente, por quem se apaixonou <strong>de</strong> imediato.<br />

Ela chamava-se Cora Acuña e tinha 15 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>! Embora estivesse com 41, Chatô não levou<br />

isso em conta. Cora, que era uma atriz em início<br />

<strong>de</strong> carreira, chegara <strong>de</strong> Buenos Aires em companhia<br />

da avó, Cláudia Montenegro, dançarina <strong>de</strong> boates<br />

<strong>de</strong> segunda categoria. Chatô cobriu-a <strong>de</strong> custosos<br />

presentes e retirou-a da humil<strong>de</strong> moradia em que<br />

vivia, colocan<strong>do</strong>-a com a avó num imenso casarão<br />

da Avenida Briga<strong>de</strong>iro Luís Antônio, São Paulo.<br />

Cora engravi<strong>do</strong>u e <strong>de</strong>u-lhe uma filha, batizada<br />

Teresa. A maioria <strong>do</strong>s biógrafos <strong>de</strong> Chateaubriand<br />

acredita que ele nunca amou verda<strong>de</strong>iramente,<br />

possuin<strong>do</strong> apenas um incrível <strong>de</strong>sejo sexual. Tanto<br />

que, no dia 11 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1934, quan<strong>do</strong> soube que<br />

Corita – como a chamava – <strong>de</strong>ra à luz em casa a uma<br />

linda menina, nem se abalou. Como não fossem<br />

casa<strong>do</strong>s, Teresa foi batizada como “Teresa Acunha,<br />

filha <strong>de</strong> Cora Acunha”. O Acunha aportuguesa<strong>do</strong>.<br />

Chateaubriand, ao contrário <strong>do</strong> que acontecera<br />

com os seus <strong>do</strong>is filhos varões, apegou-se a Teresa,<br />

toman<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> amores pela filha. E aí contase<br />

uma história digna <strong>de</strong> um romance policial.<br />

Certo dia, quan<strong>do</strong> ele chegou à sua residência em<br />

Copacabana – conhecida como Vila Normanda –,<br />

encontrou-a vazia: Corita se mandara com Teresa,<br />

então com sete anos, e um homem que Chatô<br />

<strong>de</strong>sconfiava ser amante <strong>de</strong> sua mulher.<br />

Acompanha<strong>do</strong> por seu segurança particular –<br />

um bruta homem, chama<strong>do</strong> Amâncio <strong>do</strong>s Santos<br />

– e vários cabras, convoca<strong>do</strong>s para aquela ilegal façanha,<br />

to<strong>do</strong>s bem arma<strong>do</strong>s, Chatô invadiu o sítio<br />

on<strong>de</strong> Corita estava escondida. Além <strong>de</strong> Amâncio<br />

e os cabras, à frente <strong>do</strong> grupo seguia Leão Gondim<br />

<strong>de</strong> Oliveira, primo <strong>de</strong> Chateaubriand, que viera <strong>de</strong><br />

Recife para administrar a revista O Cruzeiro, pertencente<br />

às Emissoras e Diários Associa<strong>do</strong>s.<br />

O grupo, para amedrontar os que estavam <strong>de</strong>ntro<br />

da casa <strong>do</strong> sítio, fez vários disparos <strong>de</strong> arma <strong>de</strong><br />

fogo. Chatô entrou na casa com seus capangas, arrancou<br />

Teresa <strong>do</strong>s braços da mãe e a colocou no<br />

banco traseiro <strong>do</strong> seu Cadillac, entre ele e Amâncio.<br />

Cora quis segui-lo, mas os cabras a dissuadiram,<br />

dan<strong>do</strong> alguns tiros em sua direção.<br />

Do sítio foram para a pista da Ponta <strong>do</strong> Calabouço<br />

– on<strong>de</strong>, mais tar<strong>de</strong>, seria construí<strong>do</strong> o Aeroporto<br />

Santos Dumont – e entraram no avião Raposo Tavares,<br />

<strong>de</strong> Chateaubriand, com <strong>de</strong>stino a São Paulo.<br />

A batalha pela posse <strong>de</strong> Teresa, no entanto, levou<br />

tempo na Justiça. Chateaubriand acusava a<br />

mulher <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassa – o que ela não era –, argumentan<strong>do</strong><br />

que uma pessoa leviana como Corita não<br />

podia criar sua filha.<br />

Em 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1942, no artigo primeiro<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto assina<strong>do</strong> por Getúlio Vargas,<br />

admitia-se que “o filho havi<strong>do</strong> pelo cônjuge fora<br />

<strong>do</strong> matrimônio po<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> <strong>de</strong>squite, ser reconheci<strong>do</strong><br />

ou <strong>de</strong>mandar que se <strong>de</strong>clare sua filiação”.<br />

Chateaubriand, entusiasma<strong>do</strong>, contratou um<br />

bom advoga<strong>do</strong> e conseguiu <strong>de</strong>squitar-se <strong>de</strong> Maria<br />

Henriqueta. Com isso, ele registrou novamente a<br />

filha, <strong>de</strong>sta vez colocan<strong>do</strong> na certidão <strong>de</strong> nascimento:<br />

“Pai: Francisco <strong>de</strong> Assis Chateaubriand Ban<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> Melo; mãe: Cora Acuña”. Graças novamente a<br />

Getúlio Vargas, Chatô conseguiu que, em 21 <strong>de</strong><br />

Jornal da ABI<br />

janeiro <strong>de</strong> 1943, o Presi<strong>de</strong>nte assinasse um novo<br />

<strong>de</strong>creto.Em seu artigo 1º dizia: “O filho natural,<br />

enquanto menor, ficará sob o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> progenitor<br />

que o reconheceu e, se ambos o reconheceram, sob<br />

o <strong>do</strong> pai, salvo se o juiz enten<strong>de</strong>r <strong>do</strong>utro mo<strong>do</strong>, no<br />

interesse <strong>do</strong> menor.”<br />

Volume<br />

2<br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

FOTOS: JORNAL DO COMMERCIO DO RIO DE JANEIRO<br />

Chateaubriand<br />

manteve uma<br />

relação<br />

aci<strong>de</strong>ntada com<br />

o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Getúlio Vargas<br />

(no alto, com o<br />

seu Ministro da<br />

Guerra Eurico<br />

Dutra quase<br />

escondi<strong>do</strong>), ora<br />

apoian<strong>do</strong>-o, ora<br />

combaten<strong>do</strong>-o<br />

com virulência.<br />

Por uma ironia<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>stino,<br />

coube-lhe<br />

substituir<br />

Vargas na<br />

Aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

Letras.<br />

Essa ilegalida<strong>de</strong> jurídica ficou conhecida como<br />

Lei Teresoca. Chatô requereu e obteve o pátrio po<strong>de</strong>r<br />

e a guarda <strong>de</strong> Teresa, conseguin<strong>do</strong> que a Justiça <strong>de</strong>terminasse<br />

um tutor permanente para ela, o seu<br />

amigo e juiz Orozimbo Nonato, em cuja casa Teresa<br />

viveu até os 18 anos.

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