Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Isso é uma atitu<strong>de</strong> da História da Humanida<strong>de</strong>,<br />
fundamental para que se entenda por que <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />
prédios ou <strong>de</strong>terminadas partes da cida<strong>de</strong><br />
formam o que se chamaríamos <strong>de</strong> um quadro arquitetônico.<br />
Da forma em que hoje se preserva a cida<strong>de</strong><br />
histórica <strong>de</strong> Ouro Preto, um perímetro em que<br />
a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>va ser conservada sem ser mexida. Claro<br />
que não vai se fazer isso com tu<strong>do</strong> o que a Humanida<strong>de</strong><br />
fez, mas sim com algumas coisas que<br />
caracterizam a evolução cultural <strong>do</strong> povo.<br />
Apenas em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s casos a transformação<br />
<strong>de</strong> costumes da socieda<strong>de</strong>, <strong>do</strong> povo, exige uma<br />
transformação <strong>de</strong> uso; então, realmente, muitas<br />
vezes o prédio per<strong>de</strong> a sua finalida<strong>de</strong>. Cabe, porém,<br />
àquela cultura nova adaptar uma ativida<strong>de</strong>, darlhe<br />
uma transformação sem retirar as suas características<br />
fundamentais.<br />
No caso da ABI, isso nem seria preciso porque<br />
ela continua com a finalida<strong>de</strong> precípua para a qual<br />
foi criada, está absolutamente adaptada, integrada,<br />
o prédio continua vivo. Mas vamos dizer que<br />
daqui a muitos anos a sua função termine, ou <strong>de</strong>ixe<br />
<strong>de</strong> existir seu uso ou perca sua finalida<strong>de</strong>. Seria<br />
necessário então dar um uso para aquilo. Ás vezes,<br />
se uma mansão que é característica <strong>de</strong> uma época,<br />
que uma família particular não tem mais condições<br />
<strong>de</strong> manter, cabe exatamente ao Governo<br />
assumi-la e dar-lhe uma função pública, mas preservan<strong>do</strong>-a.<br />
Isto po<strong>de</strong> se fazer e tem si<strong>do</strong> feito às<br />
vezes, mas <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer inúmeras outras, para<br />
tristeza da nossa cultura, que vai per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> exatamente<br />
seu testemunho.<br />
Um aspecto que merece registro no prédio da<br />
ABI é justamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arquitetura, e aí<br />
esse predica<strong>do</strong> se junta às suas características <strong>de</strong><br />
centro da imprensa no Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong> o prédio<br />
estar localiza<strong>do</strong> no centro das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />
cida<strong>de</strong>. Mas a virtu<strong>de</strong> da arquitetura proporcionou<br />
também a realização da idéia <strong>de</strong> um restaurante<br />
no último pavimento - e um jardim -, um<br />
local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> reuniões políticas e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
reuniões <strong>de</strong>cisórias da evolução tanto <strong>de</strong>ssa política<br />
como da nossa cultura.<br />
Quer dizer: a ABI se tornou um centro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
importante, e isso, sem dúvida, é proporciona<strong>do</strong><br />
pela referida qualida<strong>de</strong> da arquitetura, por<br />
essa solução arquitetônica. Se fosse um prédio que<br />
não tivesse essas características, talvez colocasse<br />
mais dificulda<strong>de</strong>s, embora fosse um ponto <strong>de</strong> atração.<br />
Esse da<strong>do</strong> é importante.<br />
E fundamental, portanto a recuperação <strong>do</strong> jardim<br />
<strong>do</strong> último pavimento* e <strong>do</strong> restaurante, em<br />
que se fariam ativida<strong>de</strong>s não só <strong>de</strong> reunião on<strong>de</strong><br />
as pessoas po<strong>de</strong>riam tomar um drink, ter discussões,<br />
encontros com música, sessões <strong>de</strong> modinhas,<br />
serenatas, chorinhos, para que isso fosse inerente<br />
à cultura da cida<strong>de</strong>.<br />
Um verda<strong>de</strong>iro local carioca nesses termos, já<br />
que seria uma ativida<strong>de</strong> muito característica <strong>de</strong>sta<br />
cida<strong>de</strong> que está-se per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>. Um ponto <strong>de</strong> encontro<br />
on<strong>de</strong> as pessoas po<strong>de</strong>rão trocar idéias com<br />
a maior liberda<strong>de</strong>.<br />
* O jardim <strong>do</strong> terraço foi restaura<strong>do</strong> pela atual<br />
Diretoria da ABI. A instalação <strong>de</strong> um restaurante<br />
nessa área, ou <strong>de</strong> um bar-restaurante, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />
existência <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong> que a ABI atualmente<br />
não dispõe.<br />
Entrevista publicada na edição <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1978 <strong>do</strong> antigo Boletim<br />
ABI. A anotação constante <strong>do</strong> final da matéria carece <strong>de</strong> atualização: a)<br />
o jardim <strong>do</strong> terraço, projeta<strong>do</strong> originalmente por Roberto Burle Marx e<br />
restaura<strong>do</strong> nos anos 70, não existe mais; b) a instalação e funcionamento<br />
<strong>do</strong> restaurante comercial no 13° andar, aprova<strong>do</strong>s nos anos 80,<br />
revelaram-se economicamente inviáveis nos anos seguintes, em razão<br />
da multiplicação <strong>de</strong> restaurantes e lanchonetes no entorno da ABI,<br />
graças à difusão <strong>do</strong> vale-refeição por empresas e órgãos públicos.<br />
O subtítulo da matéria original foi atualiza<strong>do</strong> e amplia<strong>do</strong> para publicação<br />
nesta <strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong>, Volume 2.<br />
Jornal da ABI<br />
A casa <strong>do</strong>s sonhos <strong>de</strong> Moses<br />
O atual Edifício Herbert Moses, se<strong>de</strong><br />
da ABI, foi inaugura<strong>do</strong> parcialmente<br />
em 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1938, em ato que<br />
prece<strong>de</strong>u à inauguração oficial, programada<br />
para 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1939.<br />
Principal matutino <strong>do</strong> Rio na época,<br />
o Correio da Manhã anunciou a<br />
inauguração em extensa matéria, sob<br />
o título O “Dia da <strong>Imprensa</strong>” – Mudase<br />
hoje a se<strong>de</strong> da ABI para a esplanada<br />
<strong>do</strong> Castelo, na qual reproduziu sob o intertítulo<br />
Uma saudação da ABI a to<strong>do</strong>s<br />
os jornais a seguinte mensagem firmada<br />
pelo Presi<strong>de</strong>nte Herbert Moses:<br />
“Por intermédio <strong>do</strong>s jornais <strong>de</strong> to<strong>do</strong><br />
o Brasil, das instituições publicitárias,<br />
<strong>do</strong>s broadcastigs nacionais e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
veículos <strong>de</strong> propaganda <strong>do</strong> País, a ABI,<br />
comemoran<strong>do</strong> o Dia da <strong>Imprensa</strong>, este<br />
ano, que coinci<strong>de</strong> com a instalação provisória<br />
<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> administração<br />
no Palácio da <strong>Imprensa</strong>, em construção<br />
na Esplanada <strong>do</strong> Castelo, lançou a seguinte<br />
proclamação:<br />
“Transferin<strong>do</strong> a sua se<strong>de</strong> na data <strong>de</strong><br />
hoje – tão expressiva na história <strong>do</strong> jornalismo<br />
brasileiro para um <strong>do</strong>s andares<br />
<strong>do</strong> seu edifício em construção, a <strong>Associação</strong><br />
<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Imprensa</strong> congratula-se<br />
com to<strong>do</strong>s os seus confra<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />
Brasil inteiro, para os quais a Casa <strong>do</strong><br />
Jornalista terá sempre as portas abertas<br />
<strong>de</strong> par em par.<br />
Não basta, porém, assinalar o júbilo <strong>de</strong> nos<br />
acharmos a partir <strong>de</strong> hoje instala<strong>do</strong>s, em posse<br />
<strong>de</strong>finitiva, em nossa se<strong>de</strong> própria e <strong>de</strong> vê-la<br />
crescer e rematar-se ao ritmo <strong>do</strong> nosso próprio<br />
trabalho mistura<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>s outros operários emprega<strong>do</strong>s<br />
em suas obras, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos a<br />
13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1939 – outra das duas gran<strong>de</strong>s<br />
datas da imprensa – realizar com a máxima<br />
solenida<strong>de</strong> a inauguração oficial da Casa <strong>do</strong><br />
Jornalista, completamente concluída.<br />
Não bastará a alegria <strong>de</strong> hoje se não a temperarmos<br />
nos sentimentos sinceros <strong>de</strong> um preito<br />
<strong>de</strong> gratidão e <strong>de</strong> justiça aos pioneiros e aos<br />
seus continua<strong>do</strong>res na obra comum <strong>de</strong> criar e<br />
manter a nossa instituição <strong>de</strong> classe.<br />
Esses é que <strong>de</strong>ram à ABI alicerces bem mais<br />
profun<strong>do</strong>s e mais sóli<strong>do</strong>s que o embasamento<br />
<strong>de</strong> concreto previsto pela técnica para sustentação<br />
<strong>do</strong> seu arcabouço.<br />
Ela foi <strong>de</strong>lineada e enraizada na própria alma<br />
<strong>do</strong>s pioneiros da nossa vida associativa. Con-<br />
<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />
Volume<br />
2<br />
soli<strong>do</strong>u-se e adquiriu substância, alimentan<strong>do</strong>se<br />
da seiva <strong>de</strong> uma fé robusta e tenaz.<br />
É, pois, para eles que se <strong>de</strong>vem voltar neste<br />
monumento os nossos olhos, porque eles foram<br />
os verda<strong>de</strong>iros construtores <strong>de</strong>sse palácio que<br />
era um sonho em 1908 e hoje é uma realida<strong>de</strong>.<br />
Manten<strong>do</strong> o sonho, como os fiéis preservam<br />
a chama votiva nos altares, e fazen<strong>do</strong> viver e<br />
prestigiar-se a ABI através todas e quaisquer vicissitu<strong>de</strong>s,<br />
eles nos asseguraram os alicerces, sem<br />
os quais o monumento não po<strong>de</strong>ria ser erigi<strong>do</strong>.<br />
A to<strong>do</strong>s vós, meus confra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje, envio<br />
um festivo abraço e peço um pensamento <strong>de</strong><br />
gratidão para os colegas que nos prece<strong>de</strong>ram e<br />
aos quais <strong>de</strong>vemos em primeiro lugar as glórias<br />
da conquista atual.<br />
A ABI está em sua casa. Estais, portanto,<br />
também em vossa casa.<br />
Sê<strong>de</strong> sempre bem-vin<strong>do</strong>s. Herbert Moses,<br />
presi<strong>de</strong>nte.”<br />
O CONVITE, NO “CORREIO”<br />
A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA, por<br />
intermédio <strong>do</strong> “Correio da Manhã”, convida a to<strong>do</strong>s<br />
os associa<strong>do</strong>s, coopera<strong>do</strong>res e amigos da nossa instituição<br />
para assistirem à cerimônia <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong><br />
seus serviços administrativos na nova se<strong>de</strong>, no Palácio<br />
da <strong>Imprensa</strong>, à Rua Araújo Porto Alegre, esquina<br />
<strong>de</strong> Rua México, Esplanada <strong>do</strong> Castelo.<br />
Essa cerimônia, que se efetuará sem solenida<strong>de</strong>,<br />
terá lugar às 16 horas <strong>do</strong> próximo dia 10, data<br />
em que se comemora, em to<strong>do</strong> o País, o “Dia da<br />
<strong>Imprensa</strong>”.<br />
Não haverá convites especiais.<br />
A CASA DE MOSES: UM EDIFÍCIO SETENTÃO E AINDA MODERNO<br />
35