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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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da<strong>do</strong> pela revista Visão para assumir a função <strong>de</strong><br />

repórter <strong>de</strong> assuntos culturais.<br />

A partir daí Dines aban<strong>do</strong>nou um pouco o cinema<br />

para se profissionalizar como jornalista:<br />

— Comecei na profissão em 1952 e o meu registro<br />

profissional no Ministério <strong>do</strong> Trabalho é <strong>do</strong><br />

dia 25 <strong>de</strong> agosto <strong>do</strong> mesmo ano. Naquele tempo<br />

para exercer a profissão <strong>de</strong> jornalista era imperioso<br />

ter o registro na carteira profissional, e antes<br />

<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> estar também registra<strong>do</strong> na ABI, e não no<br />

Sindicato <strong>do</strong>s Jornalistas Profissionais <strong>do</strong> então<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Dines consi<strong>de</strong>ra que esta é uma situação curiosa<br />

e dá a dimensão da representativida<strong>de</strong> da ABI<br />

em relação ao Sindicato naquele perío<strong>do</strong>. A tramitação<br />

<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> filiação <strong>de</strong> um jornalista na<br />

ABI era muito mais difícil <strong>do</strong> que no Sindicato:<br />

— Para obter o registro o profissional tinha que<br />

cumprir uma série <strong>de</strong> exigências, como carta <strong>de</strong><br />

recomendação <strong>de</strong> associa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>claração da empresa,<br />

ou seja, faziam-se exigências bem mais complicadas<br />

<strong>do</strong> que no Sindicato <strong>do</strong>s Jornalistas.<br />

Ele conta que o Sindicato não tinha o mesmo<br />

prestígio institucional da ABI “porque foi cria<strong>do</strong><br />

numa forma artificial, <strong>de</strong> cima para baixo, no perío<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo”. Ele ressalta que na esteira<br />

<strong>do</strong> paternalismo <strong>do</strong> Governo Vargas o Sindicato<br />

oferecia vantagens que faziam que fosse procura<strong>do</strong><br />

por gente que não tinha nada a ver com a<br />

imprensa, mas que acabava sen<strong>do</strong> aceita.<br />

Uma <strong>de</strong>ssas vantagens era o <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 50%<br />

em passagens aéreas. To<strong>do</strong> jornalista sindicaliza<strong>do</strong><br />

tinha direito a esse benefício nas companhias<br />

nacionais <strong>de</strong> aviação. Outra gran<strong>de</strong> vantagem que<br />

atraía muita gente para o Sindicato, inclusive quem<br />

não era jornalista, era a isenção <strong>do</strong> Imposto <strong>de</strong><br />

Transmissão na compra <strong>de</strong> um imóvel na capital:<br />

— Se o profissional estivesse vincula<strong>do</strong> ao Sindicato<br />

<strong>do</strong>s Jornalistas e quisesse comprar um imóvel<br />

era libera<strong>do</strong> <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong>sse imposto. Isso<br />

era uma gran<strong>de</strong> vantagem naquela época e atraía<br />

um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoas. Infelizmente, essa situação<br />

só foi corrigida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma intervenção no Sindicato,<br />

que acabou com esses benefícios in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s<br />

e que tinham si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s para atrair qualquer um<br />

visan<strong>do</strong> à arrecadação <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s.<br />

Na ABI o processo <strong>de</strong> associação era mais rigoroso.<br />

Qualquer pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> filiação tinha que passar<br />

por uma comissão <strong>de</strong> sindicância. O preten<strong>de</strong>nte<br />

a sócio tinha que apresentar uma carta <strong>de</strong> recomendação<br />

assinada por sócios efetivos.<br />

Como entida<strong>de</strong> representativa <strong>do</strong>s jornalistas<br />

<strong>de</strong> maneira geral, a ABI tinha um quadro social<br />

composto por <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> jornais e jornalistas profissionais<br />

<strong>de</strong> todas as categorias. Era então muito<br />

mais complica<strong>do</strong> se associar à ABI <strong>do</strong> que ao Sindicato<br />

<strong>do</strong>s Jornalistas. Neste último, no início <strong>do</strong>s<br />

anos 50, lembra Dines, “as exigências eram pro<br />

forma, ou seja, muito mais simples”.<br />

Em 1952, a ABI era a entida<strong>de</strong> que representava<br />

a imprensa brasileira no seu conjunto. Getúlio<br />

Vargas ocupava pela segunda vez o cargo <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República, e o País vivia um clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia.<br />

Não se tinha registro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s atenta<strong>do</strong>s<br />

contra a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, embora no<br />

Governo anterior, <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte Eurico Dutra, “tenham<br />

si<strong>do</strong> cometidas algumas violências políticas,<br />

legalizadas pelo Congresso, como o fechamento <strong>do</strong><br />

Parti<strong>do</strong> Comunista”.<br />

A IMPRENSA SE MODERNIZA<br />

O fim <strong>do</strong> Governo Dutra e o início <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

mandato <strong>de</strong> Getúlio Vargas coinci<strong>de</strong>m com a fase<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da imprensa <strong>do</strong> Rio. Em 1949<br />

houve a criação da Tribuna da <strong>Imprensa</strong>. Em 1951<br />

surgiu a Última Hora, jornais que, apesar da riva-<br />

Jornal da ABI<br />

Em seu segun<strong>do</strong> Governo, Vargas continuou a prestigiar Moses: a ABI representava o conjunto da imprensa, que iniciava<br />

experiências importantes, como a criação <strong>de</strong> Útima Hora e da revista Visão, a primeira no padrão norte-americano.<br />

lida<strong>de</strong> política, Dines consi<strong>de</strong>ra que eram revolucionários:<br />

— A Tribuna era um jornal muito bem escrito,<br />

muito inteligente, e a Última Hora um jornal mo<strong>de</strong>rno<br />

nos padrões <strong>do</strong>s vespertinos franceses, com<br />

<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> pagina<strong>do</strong>res argentinos trazi<strong>do</strong>s pelo Samuel<br />

Wainer. Em 1952, o Diário Carioca fez a sua<br />

famosa reforma, que instituiu não apenas o li<strong>de</strong> como<br />

inovação, mas criou também um jornalismo muito<br />

mais qualifica<strong>do</strong>, com textos bem escritos, inteligentes<br />

e instigantes. No mesmo ano foi lançada a revista<br />

Manchete para concorrer com a O Cruzeiro.<br />

O diretor <strong>do</strong> Observatório da <strong>Imprensa</strong> consi<strong>de</strong>ra<br />

que a primeira década <strong>do</strong>s anos 50 foi um perío<strong>do</strong><br />

muito rico da imprensa. Ele mesmo participou<br />

<strong>de</strong> uma experiência importante, que foi o lançamento<br />

da revista Visão, a primeira revista editada<br />

no padrão americano, no formato da Time,<br />

<strong>de</strong>pois a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por todas as revistas brasileiras<br />

(Veja, IstoÉ, CartaCapital, entre outras).<br />

“Tu<strong>do</strong> isso aconteceu em 1952. Foi uma época<br />

<strong>de</strong> ouro da imprensa brasileira, capitaneada <strong>de</strong> forma<br />

majestosa pela ABI”, diz.<br />

Alberto Dines acha que o Rio <strong>de</strong> Janeiro per<strong>de</strong>u<br />

um pouco da sua importância nacional, mas tem<br />

boas recordações <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> glorioso <strong>do</strong> então<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, no qual a ABI se <strong>de</strong>staca, por estar<br />

inserida no polígono <strong>de</strong> cultura mais importante<br />

da cida<strong>de</strong>.<br />

— Além da se<strong>de</strong> da ABI, projeto mo<strong>de</strong>rníssimo<br />

<strong>do</strong>s arquitetos irmãos Roberto, nesse Polígono<br />

Cultural encontram-se o Ministério da Educação,<br />

obra-prima da arquitetura mo<strong>de</strong>rna, com projeto<br />

<strong>de</strong> Oscar Niemeyer e Lúcio Costa e <strong>de</strong>senho inicial<br />

<strong>de</strong> Le Corbusier; o Museu Nacional <strong>de</strong> Belas-<br />

Artes, construção <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX, no estilo<br />

clássico; e mais adiante o Teatro Municipal, fac-<br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

Volume<br />

2<br />

Um <strong>de</strong>talhe que para Alberto Dines <strong>de</strong>ve sempre<br />

ser <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> sobre esse perío<strong>do</strong> é que enquanto<br />

nas redações <strong>do</strong>s jornais o clima era <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong><br />

e criativida<strong>de</strong> e com alto índice <strong>de</strong> produção<br />

qualitativa <strong>de</strong> notícias, o<br />

Governo era <strong>de</strong>mocrático<br />

e não criava ameaças<br />

ao exercício profissional:<br />

— Sen<strong>do</strong> assim a ABI<br />

quase não tinha trabalho,<br />

lidava apenas com episódios<br />

restritos. Problemas<br />

mesmo a entida<strong>de</strong> passou<br />

a ter em 1954 com a<br />

morte <strong>de</strong> Getúlio, quan<strong>do</strong><br />

houve alguns empastelamentos<br />

e tentativas<br />

<strong>de</strong> censura. Afora isso, vivemos<br />

um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

ouro no qual o jornalismo explodiu, e a ABI aparece<br />

soberana como a gran<strong>de</strong> casa da imprensa brasileira<br />

e sobretu<strong>do</strong> da cultura. Não se po<strong>de</strong> falar em<br />

imprensa sem falar <strong>de</strong> cultura.<br />

O Polígono Cultural mais badala<strong>do</strong><br />

Circulavam nesse espaço <strong>do</strong> Centro <strong>do</strong> Rio Drummond, Ban<strong>de</strong>ira, Nássara, Eneida, Austregésilo,<br />

Vinícíus, Antônio Maria, Lúcio Rangel, Vila-Lobos, habituê <strong>do</strong> bilhar-francês da ABI.<br />

símile da Ópera <strong>de</strong> Paris e um prédio lindíssimo,<br />

muito mais bonito que o <strong>de</strong> São Paulo.<br />

No aspecto da beleza, Dines compara o Municipal<br />

ao Teatro Colón, <strong>de</strong> Buenos Aires e ressalta<br />

a importância da Biblioteca Nacional, como integrante<br />

<strong>do</strong> polígono <strong>de</strong> cultura, “por causa <strong>do</strong> seu<br />

fantástico acervo <strong>de</strong> livros, trazi<strong>do</strong> pela Corte <strong>de</strong><br />

Dom João quan<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nou Portugal”.<br />

Na avaliação <strong>de</strong> Dines, outro fator extremamente<br />

significativo é que bem próximo <strong>de</strong>sse importante<br />

pólo da cultura brasileira estavam sedia<strong>do</strong>s<br />

gran<strong>de</strong>s jornais, como o Jornal <strong>do</strong> Brasil, na Avenida<br />

Rio Branco, e a Tribuna <strong>de</strong> <strong>Imprensa</strong>, na Rua<br />

<strong>do</strong> Lavradio, na Lapa.<br />

AGÊNCIA O GLOBO<br />

UMA FASE DE OURO DA IMPRENSA E DA CULTURA<br />

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