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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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NOSSO SÓCIO ROBERTO MARINHO<br />

78<br />

Jornal da ABI<br />

Após um começo em que enfrentou o po<strong>de</strong>rio das <strong>do</strong>nas <strong>de</strong> audiência <strong>de</strong> televisão, a TV Tupi e a TV Excelsior, Marinho foi<br />

implantan<strong>do</strong> discretamente as bases que lhe permitiram criar e ampliar o Projac, o maior centro cenográfico da América Latina.<br />

Em sete décadas, um salto prodigioso<br />

Ao herdar O Globo em 1925, o jovem Roberto Marinho iniciava<br />

uma carreira sólida e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso, em que construiria<br />

um <strong>do</strong>s mais importantes complexos <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

POR PAULO CHICO<br />

Em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003, o Brasil per<strong>de</strong>u o mais<br />

influente jornalista <strong>de</strong> sua história. Roberto Pisani<br />

Marinho era também o proprietário <strong>do</strong> maior<br />

conglomera<strong>do</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> País, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

um <strong>do</strong>s maiores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Televisão, jornal,<br />

rádio, editora e internet. Em todas essas mídias,<br />

suas empresas somavam números expressivos <strong>de</strong><br />

audiência, tiragem e acessos, com gran<strong>de</strong> apelo<br />

junto ao merca<strong>do</strong> publicitário, sen<strong>do</strong> quase sempre<br />

lí<strong>de</strong>res em seus respectivos segmentos.<br />

A história das chamadas Organizações Globo<br />

teve início na ousadia <strong>de</strong> seu pai, Irineu Marinho,<br />

que em 1911 fun<strong>do</strong>u A Noite, o primeiro vespertino<br />

mo<strong>de</strong>rno no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>do</strong> qual era um<br />

<strong>do</strong>s sócios. Logo o jornal conquistou a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong><br />

vendas. Após ven<strong>de</strong>r A Noite, Irineu lançou em 29<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1925 O Globo, também vespertino.<br />

Nessa época, Roberto Marinho, com 20 anos, foi<br />

trabalhar com o pai, atuan<strong>do</strong> como repórter e secretário<br />

particular.<br />

Apenas 21 dias após o lançamento <strong>do</strong> jornal,<br />

Irineu Marinho morreu precocemente, aos 49 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Deu-se, então, o primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />

na vida <strong>do</strong> jovem Roberto. Aos 21 anos, assumiu<br />

a responsabilida<strong>de</strong> pela empresa, inicialmente<br />

com o auxílio <strong>do</strong> jornalista Euricles <strong>de</strong> Matos,<br />

amigo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> seu pai. Até a morte <strong>de</strong><br />

Euricles, ocorrida em 1931, quan<strong>do</strong> assumiu em<br />

<strong>de</strong>finitivo a direção <strong>de</strong> O Globo, Roberto Marinho<br />

<strong>de</strong>dicou-se a apren<strong>de</strong>r tu<strong>do</strong> sobre o jornal, fazen<strong>do</strong>-se<br />

presente da redação à oficina e passan<strong>do</strong>, é<br />

claro, pela parte administrativa.<br />

Com extrema perseverança, assumiu as ré<strong>de</strong>as<br />

<strong>de</strong> O Globo, mo<strong>de</strong>rnizan<strong>do</strong> o jornal em linguagem<br />

e tecnologia. Em oposição ao jornalismo partidário<br />

que ainda se praticava em outras mídias, o jornal<br />

firmou-se como um canal noticioso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> causas<br />

populares e a abertura <strong>do</strong> País ao capital estrangeiro.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser na época o principal meio <strong>de</strong> comunicação<br />

<strong>do</strong> grupo, o crescimento da empresa aconteceu<br />

com a venda <strong>de</strong> histórias em quadrinhos norte-americanas<br />

e <strong>de</strong> empreendimentos imobiliários.<br />

Tal tendência não significava dizer que O Globo<br />

não se posicionava politicamente. O jornal<br />

apoiou o governo provisório instituí<strong>do</strong> pela Revolução<br />

<strong>de</strong> 1930 e em 1932 também <strong>de</strong>u crédito à<br />

Revolução Constitucionalista <strong>de</strong>flagrada em São<br />

Paulo. Fez restrições ao golpe que gerou o Esta<strong>do</strong><br />

Novo (1937). Na Segunda Guerra Mundial, o jornal<br />

foi a favor <strong>do</strong> rompimento com a aliança da<br />

Alemanha, Itália e Japão; no fim da guerra, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

a <strong>de</strong>rrubada da ditadura <strong>de</strong> Getúlio Vargas,<br />

consumada em 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1945.<br />

Em 1944, Roberto Marinho <strong>de</strong>u um passo que<br />

é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o marco da construção <strong>do</strong> império<br />

<strong>de</strong> comunicações Globo. Comprou a Rádio Transmissora,<br />

da RCA Victor, e inaugurou sua primeira<br />

emissora, a Rádio Globo, que em 1953 serviu <strong>de</strong><br />

canal para os ataques <strong>do</strong> jornalista Carlos Lacerda<br />

a Vargas. O suicídio <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte, em 24 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1954, provocou comoção e manifesta-<br />

olume<br />

2<br />

dição special <strong>do</strong> entenário<br />

ções populares, durante as quais duas caminhonetes<br />

da Rádio Globo e <strong>do</strong>is caminhões <strong>de</strong> O Globo<br />

foram incendia<strong>do</strong>s.<br />

Após a eleição <strong>de</strong> Juscelino Kubitschek para<br />

Presidência da República, em 1955, Marinho ganha<br />

a primeira estação <strong>de</strong> televisão, a TV Globo<br />

<strong>do</strong> Rio. Na eleição seguinte, apoiou Jânio Quadros,<br />

mas em seguida discor<strong>do</strong>u <strong>de</strong> sua política externa<br />

e se <strong>de</strong>cepcionou com a renúncia, em 1961. Do<br />

apoio inicial a João Goulart, <strong>de</strong> quem conseguiu a<br />

concessão <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> tv em São Paulo, Roberto<br />

Marinho acabou por fazer campanha contrária ao<br />

novo Presi<strong>de</strong>nte, visto como um representante da<br />

“ameaça comunista”, e fechou apoio ao golpe<br />

militar <strong>de</strong>sfecha<strong>do</strong> em 1° <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1964.<br />

A partir <strong>do</strong>s mea<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong> 60 a TV Globo<br />

se firmou rapidamente, graças a um acor<strong>do</strong> financeiro<br />

e operacional com o grupo norte-americano<br />

Time-Life e o <strong>de</strong>clínio das concorrentes Tupi,<br />

Record, e Excelsior, que enfrentavam sérios problemas<br />

administrativos. A TV Globo conquistou<br />

os cariocas no verão <strong>de</strong> 1966 quan<strong>do</strong> fez a cobertura<br />

ao vivo das enchentes que <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> mortos e feri<strong>do</strong>s no Rio. A partir <strong>de</strong>sta época,<br />

com a contratação <strong>de</strong> nomes como Walter Clark,<br />

passou a ter i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria, numa referência<br />

à qualida<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> sua programação, referendada<br />

como “Padrão Globo <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong>”.<br />

Outros profissionais importantes para a consolidação<br />

da emissora foram José Bonifácio <strong>de</strong> Oliveira<br />

Sobrinho, o Boni, Walter Avancini e Daniel Filho,<br />

que investiram pesa<strong>do</strong> na teledramaturgia, tornan<strong>do</strong><br />

as novelas brasileiras sucessos absolutos <strong>de</strong> audiência<br />

e produtos <strong>de</strong> exportação. Também nas décadas<br />

<strong>de</strong> 70 e 80 se firmou o jornalismo da emissora,<br />

com <strong>de</strong>staque para o Jornal Nacional – principal<br />

telejornal <strong>do</strong> País – e programas como Globo Repórter,<br />

Fantástico e Globo Rural – há décadas no ar.<br />

Apaixona<strong>do</strong> pela educação, e por seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

transformação, o jornalista criou em 1977 a Fundação<br />

Roberto Marinho, num momento em que<br />

ainda existiam poucas ações <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

social no Brasil. Ao reunir um grupo <strong>de</strong> parceiros em<br />

torno <strong>de</strong> programas culturais e <strong>de</strong> uma causa social<br />

bem <strong>de</strong>finida – levar educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> a milhões<br />

<strong>de</strong> pessoas – a Fundação tornou-se um <strong>do</strong>s em-<br />

Irineu legou a Roberto Marinho não apenas o jornal que criara dias antes <strong>de</strong> morrer, mas também uma imagem <strong>de</strong> respeito.<br />

Aqui ele aparece com os luminares <strong>do</strong> jornalismo da época, à frente, com seu bigo<strong>de</strong> vasto, Raul Pe<strong>de</strong>rneiras, Presi<strong>de</strong>nte da ABI.

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