Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa
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O sucesso na Transaco fez Frias arriscar em<br />
outros empreendimentos. Em 1954, ele comprou<br />
um pequeno sítio próximo a São José <strong>do</strong>s Campos,<br />
SP, e o transformou na Granja Itambi, que se tornou<br />
uma das maiores <strong>do</strong> País. Com Carlos Cal<strong>de</strong>ira<br />
Filho, construiu a primeira Estação Ro<strong>do</strong>viária <strong>de</strong><br />
São Paulo, na Luz, para organizar a bagunça que<br />
eram o embarque e o <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> ônibus intermunicipais<br />
nas ruas e calçadas <strong>do</strong> centro da capital<br />
paulista. Mas a gran<strong>de</strong> cartada viria a seguir,<br />
com a compra da Folha, em 1962.<br />
Era inegável a mão <strong>de</strong> Nabantino na empresa.<br />
De diários poucos expressivos, ele criou um jornal<br />
mo<strong>de</strong>rno. Em 1960, reuniu os três títulos, o carro-chefe<br />
Folha da Manhã, a Folha da Tar<strong>de</strong> e a Folha<br />
da Noite, transforman<strong>do</strong>-os num só jornal, a<br />
Folha <strong>de</strong> S. Paulo, que brigava pelo segun<strong>do</strong> lugar<br />
com o Diário <strong>de</strong> S. Paulo, com uma tiragem <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> 170 mil exemplares. Ainda assim, a empresa<br />
sofria com dívidas e <strong>de</strong>ixava Nabantino cada vez<br />
mais <strong>de</strong>sanima<strong>do</strong>. Depois <strong>de</strong> uma greve em 1961,<br />
ele per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> vez a paciência e ofereceu o jornal a<br />
Frias e Cal<strong>de</strong>ira. Os novos <strong>do</strong>nos até estranharam<br />
a posição <strong>de</strong> Nabantino; afinal, ele aceitou até<br />
cheque sem fun<strong>do</strong> pela Folha.<br />
“Era uma sexta-feira e disse a ele que só <strong>de</strong>positasse<br />
o cheque na segunda, senão voltaria. O resto<br />
pagamos em 24 prestações. Depois entendi o<br />
Nabantino, pois já na primeira semana me arrependi.<br />
O passivo era enorme e não sabia para quem<br />
empurrar o jornal”, diz Frias em A Trajetória <strong>de</strong><br />
Octavio Frias <strong>de</strong> Oliveira.<br />
Jornal da ABI OCTÁVIO FRIAS, O EMPRESÁRIO COM ALMA DE REPÓRTER<br />
Um encontro histórico em 1979: na frente, Ferna<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, Boris Casoy, Severo Gomes e Octávio<br />
Frias. Conversam atrás Dalmo Dallari, Franco Montoro (encoberto), Joelmir Beting e Eduar<strong>do</strong> Suplicy.<br />
Cláudio Abramo (D), o jornalista responsável pela mais importante reformulação da Folha <strong>de</strong> S.Paulo –<br />
realizada no final da década <strong>de</strong> 70–, conversa com Wan<strong>de</strong>rley <strong>de</strong> Araujo Moura e Octávio Frias durante a<br />
comemoração <strong>do</strong>s 60 anos <strong>do</strong> jornal, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1981. Ao fun<strong>do</strong>, Luís Frias observa o trio <strong>de</strong> feras.<br />
Como Cal<strong>de</strong>ira não queria aparecer, Frias tornou-se<br />
o presi<strong>de</strong>nte. Era o início <strong>de</strong> um périplo.<br />
To<strong>do</strong> dia, ele ia ao jornal pedir ou reformar empréstimos<br />
junto aos bancos. Tu<strong>do</strong> que entrava era reinvesti<strong>do</strong><br />
na empresa.<br />
“Creio que um <strong>do</strong>s motivos <strong>do</strong> sucesso <strong>de</strong> meu<br />
pai é que ele vivia uma vida muito espartana.<br />
Dinheiro nunca representou luxo para ele nem<br />
coisas supérfluas. No começo, não saía um tostão<br />
<strong>do</strong> jornal”, conta a filha Maria Cristina, em <strong>de</strong>poimento<br />
no livro sobre a trajetória <strong>de</strong> seu pai. Nem<br />
para comprar papel a Folha recorria aos bancos,<br />
sempre buscan<strong>do</strong> soli<strong>de</strong>z financeira para praticar<br />
um jornalismo mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
“À semelhança <strong>de</strong> Roberto Marinho e Victor<br />
Civita, meu pai aju<strong>do</strong>u a trazer uma mentalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> empresa ao ambiente senhorial, pré-capitalista,<br />
da imprensa da época. As empresas jornalísticas<br />
passaram a ser menos um instrumento <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r político e prestígio mundano – quan<strong>do</strong> não<br />
dição special <strong>do</strong> entenário<br />
olume<br />
2<br />
<strong>de</strong> negociatas – para se tornarem efetivamente<br />
empresas: voltadas a aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong><br />
público consumi<strong>do</strong>r a fim <strong>de</strong> ampliar seus merca<strong>do</strong>s<br />
e margens <strong>de</strong> lucro. Empresas mais profissionais<br />
propiciaram a profissionalização <strong>do</strong> jornalismo,<br />
até então um trabalho irregular caracteriza<strong>do</strong><br />
por ‘bicos’, duplo ou triplo emprego e diletantismo”,<br />
afirma o filho Otávio Frias Filho.<br />
Foi essa mesma mentalida<strong>de</strong> que levou Frias e<br />
Cal<strong>de</strong>ira a investirem na compra <strong>de</strong> outros jornais<br />
para baratear a distribuição. Compraram a Última<br />
Hora paulista e o Notícias Populares. Em seguida,<br />
investiram em tecnologia. Em 1968, a Folha tornou-se<br />
o primeiro jornal da AméricaLatina a ser<br />
impresso no sistema ofsete. Em 1971, a<strong>do</strong>tava a<br />
fotocomposição ou composição a frio no lugar <strong>do</strong>s<br />
tradicionais mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> chumbo. No final <strong>do</strong>s anos<br />
60, Frias chegou a organizar o embrião <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong><br />
nacional <strong>de</strong> televisão, juntan<strong>do</strong> a TV Excelsior <strong>de</strong><br />
São Paulo, cujo controle adquiriu em 1967, com<br />
U.DETTMAR<br />
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