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Edição Especial do Centenário - Associação Brasileira de Imprensa

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Capital da República, centro <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r nacional,<br />

e <strong>de</strong>stino principal <strong>do</strong>s visitantes, o Rio tinha<br />

na ABI uma bela amostra <strong>do</strong> que o Brasil podia<br />

exibir, pela majesta<strong>de</strong> <strong>do</strong> edifício que Herbert<br />

Moses, então Presi<strong>de</strong>nte da Casa, conseguira<br />

erguer numa região da Cida<strong>de</strong> valorizada por<br />

magnífico conjunto <strong>de</strong> edificações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte<br />

e imponência: o Teatro Municipal, o Museu Nacional<br />

<strong>de</strong> Belas-Artes, a Biblioteca Nacional, o Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, as se<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Clube Naval e<br />

<strong>do</strong> Jóquei Clube Brasileiro; mais ao fun<strong>do</strong>, o Ministério<br />

da Educação, hoje Palácio Gustavo Capanema,<br />

tu<strong>do</strong> sem o fe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> xixi que hoje infesta a área.<br />

Na ABI realizavam-se as entrevistas coletivas<br />

<strong>do</strong>s visitantes, sempre ciceronea<strong>do</strong>s por um anfitrião<br />

poliglota – Moses. A Casa era uma espécie <strong>de</strong><br />

ante-sala <strong>do</strong> Itamarati, que tinha na Avenida<br />

Marechal Floriano uma se<strong>de</strong> belíssima, ao fun<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> bem cuida<strong>do</strong> jardim com árvores majestosas,<br />

mas afastada <strong>do</strong> Centro nevrálgico da Cida<strong>de</strong>, a<br />

área on<strong>de</strong> as coisas aconteciam.<br />

Além <strong>de</strong> Truman, a ABI recebeu o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Sukarno, cuja imagem era aureolada por sua atuação<br />

como condutor da in<strong>de</strong>pendência da In<strong>do</strong>nésia<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio japonês, em 1945, e como um <strong>do</strong>s<br />

lí<strong>de</strong>res <strong>do</strong> nascente Movimento <strong>do</strong>s Não-Alinha<strong>do</strong>s.<br />

Antes, o visitante foi o po<strong>de</strong>roso Secretário<br />

<strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> norte-americano Dean Acheson, que<br />

viera negociar com o Governo <strong>do</strong> Brasil a participação<br />

nos organismos e nas ações <strong>de</strong> enfrentamento<br />

com a União Soviética no começo da Guerra Fria.<br />

Nos anos 60, sob a ditadura militar que se instalara<br />

no País, outro <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> político norte-americano<br />

fez no saguão térreo <strong>do</strong> então já chama<strong>do</strong> Edificio<br />

Herbert Moses can<strong>de</strong>nte exaltação da liberda<strong>de</strong><br />

e das instituições <strong>de</strong>mocráticas: o Sena<strong>do</strong>r Robert<br />

Kennedy, candidato à Presidência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

que pouco <strong>de</strong>pois morreria assassina<strong>do</strong>.<br />

A visita <strong>de</strong> Acheson foi o <strong>de</strong>tona<strong>do</strong>r <strong>de</strong> grave<br />

crise interna na ABI. Em protesto contra o representante<br />

norte-americano e a missão belicosa que<br />

ele viera <strong>de</strong>senvolver, membros da União da Juventu<strong>de</strong><br />

Comunista-UJC, atuante braço <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />

Comunista Brasileiro, gravaram a piche na fachada<br />

<strong>do</strong> prédio a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m então lançada pelo<br />

PCB: Fora Acheson. A mutilação <strong>do</strong> prédio, a menina<br />

<strong>do</strong>s seus olhos, <strong>de</strong>ixou Moses extremamente<br />

irrita<strong>do</strong> com os sócios da ABI reconheci<strong>do</strong>s como<br />

comunistas. Ele man<strong>do</strong>u colocar um tapume para<br />

cobrir a inscrição, poupan<strong>do</strong> Acheson da contemplação<br />

da frase hostil, emitiu indignada <strong>de</strong>claração<br />

<strong>de</strong> repúdio, <strong>de</strong>nunciou o ato em sessão <strong>do</strong><br />

Conselho Administrativo da Casa e fechou a cara<br />

durante bom tempo a quantos consi<strong>de</strong>rou suspeitos<br />

<strong>de</strong> solidários com o ato.<br />

(Diga-se que o piche utiliza<strong>do</strong> nos protestos da<br />

época era <strong>de</strong> extrema a<strong>de</strong>rência: passa<strong>do</strong>s alguns<br />

anos, apesar <strong>do</strong> tratamento permanente para re-<br />

TRUMAN, SUKARNO, ACHESON, KENNEDY, O SEDUTOR FIDEL<br />

COM O PODER INSTALADO NO RIO, A ABI ERA<br />

UMA ESPÉCIE DE ANTE-SALA DO ITAMARATI<br />

A ABI acolheu nos anos 50 e 60 inúmeros visitantes ilustres que vinham ao Brasil para manter<br />

conversações sobre diferentes assuntos ou simplesmente para cultivar relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com o País.<br />

ACERVO ABI/BIBLIOTECA BASTOS TIGRE<br />

<br />

Moses ficou encanta<strong>do</strong> com Fi<strong>de</strong>l Castro ao recebê-lo em 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1959. Fi<strong>de</strong>l foi o visitante da ABI mais festeja<strong>do</strong>.<br />

moção <strong>de</strong> vestígios <strong>do</strong> protesto, ainda era possível<br />

ver a sombra das letras <strong>do</strong> Fora Acheson.)<br />

A mais rui<strong>do</strong>sa das visitas <strong>de</strong>u-se em maio <strong>de</strong><br />

1959, quan<strong>do</strong> a ABI recebeu os revolucionários que<br />

meses antes haviam <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong> o sanguinário regime<br />

<strong>de</strong> Fulgencio Baptista, dita<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Cuba: Fi<strong>de</strong>l Castro,<br />

o lí<strong>de</strong>r da guerrilha <strong>de</strong> Sierra Maestra, e vários<br />

<strong>de</strong> seus indômitos companheiros, entre eles os legendários<br />

Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara.<br />

Recobertos pela aura <strong>de</strong> heróis, Fi<strong>de</strong>l e seus camaradas<br />

<strong>de</strong>ixaram em festa o coração <strong>de</strong> Herbert<br />

Moses, que não disfarçou seu <strong>de</strong>slumbramento<br />

diante <strong>de</strong> visitantes tão especiais. Moses (1884-<br />

1972) contava então com 75 anos e remoçou uns<br />

bons pares <strong>de</strong>les diante <strong>do</strong> sedutor Fi<strong>de</strong>l Castro Ruz,<br />

um gigante <strong>de</strong> quase <strong>do</strong>is metros que ele tomou pelo<br />

braço e conduziu pela Casa com os olhos brilhan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> alegria, a exibi-lo como ambiciona<strong>do</strong> troféu.<br />

Quase 50 anos <strong>de</strong>pois da visita <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l ao Brasil<br />

o jornalista Nilo Dante relembrou em bela reportagem<br />

(O dia em que Fi<strong>de</strong>l abalou o Rio, O Dia, 24 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 2008, página 29) aquilo que ele classificou<br />

como “uma jornada inesquecivel”. Em 6 <strong>de</strong><br />

maio, véspera <strong>do</strong> retorno da <strong>de</strong>legação a Cuba, Fi<strong>de</strong>l<br />

madrugou no Batalhão <strong>de</strong> Guardas Presi<strong>de</strong>ncial,<br />

que programou exercícios militares em sua homenagem;<br />

almoçou com o Presi<strong>de</strong>nte Juscelino<br />

<strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong> <strong>do</strong> <strong>Centenário</strong><br />

Volume<br />

2<br />

Kubitschek no Palácio das Laranjeiras; visitou o<br />

então Ministro da Guerra General Henrique Teixeira<br />

Lott em seu Gabinete; participou <strong>de</strong> um comício na<br />

Esplanada <strong>do</strong> Castelo e, por fim, foi homenagea<strong>do</strong><br />

com um almoço por famoso advoga<strong>do</strong>, José Nabuco,<br />

com a participação da alta socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio.<br />

“Ali – contou Nilo Dante com visível maledicência<br />

—, acabou (Fi<strong>de</strong>l) enfeitiça<strong>do</strong> pelos encantos <strong>de</strong><br />

formosa dama, com quem viveu um discreto e ‘torrencial<br />

love affair’ – no dizer <strong>do</strong> colunista Ibrahim<br />

Sued, que, como bom repórter, jamais revelou nome<br />

e sobrenome, que, aliás, eram a própria fonte...”<br />

Dante, que cobriu a visita como repórter <strong>do</strong><br />

Diário <strong>de</strong> Notícias, dá idéia <strong>do</strong> impacto jornalístico<br />

da vinda <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l ao arrolar os colegas que participavam<br />

da cobertura:<br />

“A meu la<strong>do</strong>, outros jovens repórteres como<br />

Cícero Sandroni, Murilo Melo Filho (hoje imortal<br />

da ABL), Márcio Moreira Alves, Walter Fontoura,<br />

Pedro Gomes, Francisco Pedro <strong>do</strong> Coutto e outros<br />

em que a memória não me socorrre. Sem falar nos<br />

inumeráveis repórteres-fotográficos, uma seleta <strong>de</strong><br />

craques <strong>do</strong> ramo como José Me<strong>de</strong>iros, Adyr Vieira,<br />

Campanella Neto, Alberto Ferreira, Luigi Mamprim,<br />

Luís Carlos Barreto, Gervásio Batista e outros,<br />

que seguiam os barbu<strong>do</strong>s para to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>.”<br />

(Maurício Azê<strong>do</strong>)

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