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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

138<br />

a toda a informação. Penso que estamos a perder uma noção táctil do que<br />

é que nos constrói e de qual é a nossa posição, porque a identidade de<br />

cada um de nós, como pessoa, como grupo, tem também a ver com uma<br />

cartografia, um lugar no mundo em relação aos outros.<br />

Isso é uma noção que, noutros sítios do planeta, as pessoas têm de uma<br />

forma muito aguda.<br />

Estive recentemente, no início do Verão, a trabalhar várias semanas em<br />

Timor num novo livro, que vai sair antes do Natal, com um autor que os<br />

meus colegas de mesa conhecem bem, que é o Alain Corbel. Não é por<br />

gostar dele, por ter uma relação de amizade, por termos feito dois livros<br />

juntos, mas o Alain é precisamente das pessoas que eu conheço que consegue<br />

melhor funcionar num registo “infantil”, em termos de uma pureza<br />

poética e de uma abertura total para uma espécie de originalidade pura de<br />

estímulos ao que o rodeia.<br />

Nós juntámo-nos para este projecto, para uma grande reportagem ilustrada<br />

sobre Timor, e tivemos o privilégio de um dia sermos convidados para uma<br />

cerimónia muito rara, apesar de este tipo de cerimónias acontecer agora<br />

um pouco por todo o território, que foi a cerimónia de reconstrução de<br />

uma casa ludic, que durante uma geração, quase duas gerações não pôde<br />

acontecer.<br />

“Ludic” é sagrado em tétum, portanto, é uma casa totémica, casa onde<br />

habitam os antepassados da tribo, no sentido em que os antepassados são<br />

toda a linhagem, desde o primeiro fundador da linhagem até cada um dos<br />

membros dessa tribo, desse clã. A maior parte destas casas foram abandonadas<br />

ou destruídas no tempo indonésio. Timor, na independência, consegue<br />

voltar a formas muito fortes de religiosidade, sincrética e animista,<br />

muito mais poderosas que o catolicismo romano que foi adquirido, pela<br />

maior parte da população, sob o regime indonésio, algo que nós, aqui em<br />

Portugal, costumamos ignorar.<br />

Nós fomos convidados para ir à montanha, mais de dois mil metros de altitude,<br />

já acima das nuvens, numa cerimónia que começou às seis da tarde e<br />

quando nós saímos, ao meio-dia do dia seguinte, ainda continuava.<br />

Aquela cerimónia teve lugar nos contrafortes do Tatamailau, que é o pico<br />

mais alto de Timor. Era a montanha mais alta de todo o império português!<br />

Três mil metros de altitude! Nós estávamos num dos contrafortes. Vêm pes-

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