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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

36<br />

escrever qualquer coisa como este excerto final do livro de João Teixeira<br />

de Vasconcelos, de Amarante, irmão do poeta Teixeira de Pascoaes, que<br />

foi o maior caçador de elefantes de África. O livro chama-se: África vivida<br />

– Memórias de um caçador de elefantes. João Teixeira de Vasconcelos partiu<br />

com 20 e poucos anos, em 1914, para Angola; daí andou pelo Zaire e<br />

pelo norte de Angola, ao longo de mais de 20 anos, tendo morto mais de<br />

100 elefantes. Isto dito hoje, parece politicamente incorrecto, mas quem ler<br />

o livro vai ver que não havia aqui nada de fácil. Cito:<br />

Hoje, a meio caminho da vida, com meio mundo andado, desde a Holanda<br />

aos confins do continente africano; tendo destruído tanta caça, experimentado<br />

todos os climas, gozado todas as paisagens; não me palpitando mais<br />

novidades pela terra e não podendo ter nas mãos a Lua que, de longe,<br />

vejo rolar no espaço, o meu maior desejo seria ver-me novamente naquela<br />

idade, naquela força em que fracas eram as feras e pequenina a África para<br />

o poder extraordinário dum sonho, em tenros anos. Doutro modo, o que<br />

resulta da minha vida é apenas um homem vincado, pilado pelo sol tropical,<br />

quase palha pela força de tanto a trilhar nas calorentas planícies, arrumado<br />

ao canto duma lareira nortenha, martirizando-se no impossível de viver.<br />

“O impossível de viver”. O impossível de viver naturalmente, normalmente.<br />

Eis uma frase que só um grande viajante poderia ter escrito.<br />

Hoje, com todo o mundo calcorreado, já nenhum de nós poderá aspirar a<br />

semelhante vida. Mas podemos – devemos! – lê-los, ensiná-los, dá-los a ler<br />

aos que hoje se martirizam no impossível de sonhar.

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