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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

56<br />

no retorno, permitir que o discurso poético seja por eles contaminado. Veja-<br />

-se, no caso português, os ensaios sobre pintura de João Miguel Fernandes<br />

Jorge que poderão permitir desvendar, obliquamente, linhas de leitura para<br />

a sua poesia.<br />

Tanto na poesia americana como na poesia inglesa, a análise de um texto<br />

poético contemporâno pressupõe, portanto, nos seus momentos maiores,<br />

um olhar atento para as diferentes vanguardas estéticas; o poema revela-<br />

-se, afinal, enquanto espaço de queda de inovações várias que perturbam<br />

a sintaxe, evocam possibilidades de sentido, ou reproduzem estratégias<br />

visuais (perspectiva, cor, tonalidades, polifonias, ritmos...). Para a leitura do<br />

poema não importa apenas reconhecer uma sintaxe ou a articulação com<br />

tradições rítmicas e prosódicas que nos são estranhas (o pentâmetro jâmbico,<br />

por exemplo, não é de fácil percepção a um leitor português). Importa,<br />

também, estar atento à música que se vai fazendo (desde a mais erudita, à<br />

pop, passando pelas fusões várias; recorde-se o exemplo que dei há pouco<br />

de John Ashbery), a uma “qualquer” exposição de pintura, fotografia ou<br />

escultura, ao filme que escapa às convenções de leitura a que nos habituámos;<br />

às artes que emergem, como o já referido video-clip; importa estar<br />

atentos a todos estes aspectos, pois, em qualquer momento, podemos ser<br />

surpreendidos por um poema que exibe subtis diálogos com outras formas<br />

de expressão artística.<br />

A leitura de um poema pressupõe, deste modo, atenção à novidade, disponibilidade<br />

intelectual e capacidade para desvendar essa inovação e para<br />

saber distingui-la da mera reprodução ou do artifício. Ler significa, portanto,<br />

saber distinguir, saber escolher. Poder-se-á considerar que este pressuposto<br />

implica algo que o discurso dominante tem vindo a questionar, cultura e<br />

gosto; no entanto, a modernidade exige a sua recuperação e a sua reformulação,<br />

não de acordo com a caduca dicotomia “Alta Cultura” vs “Cultura<br />

Popular”, mas sim num vasto campo de interpenetrações e consequentes<br />

perturbações estéticas. Qual pesquisa arqueológica, a exploração do texto<br />

passará, assim, por diferentes níveis de leitura; pela superação de sucessivas<br />

camadas até ao contacto com um nível de profundidade. Este é um<br />

aspecto relevante para quem faz do seu quotidiano um constante encontro<br />

com os mais jovens. Estarão eles na posse dos instrumentos que lhes possibilitem<br />

penetrar nesse imenso espaço de diálogos tantas vezes insinuados<br />

apenas? Obviamente que não. Tão pouco estarão muitos daqueles que<br />

com eles trabalham. Tal não significa, porém, que não se possam conceber<br />

estratégias de convocação do texto que lhes permitam tomar consciência<br />

desses níveis vários de leitura. Aponto apenas dois exemplos de disser-

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