17.04.2013 Views

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

30<br />

são estranhas, mas porque isso faz parte do contrato ético entre o viajante<br />

e os seus hospedeiros. O mundo seria infinitamente melhor – não tenho<br />

dúvidas – se fosse governado por antigos viajantes ou, ao menos, por dirigentes<br />

que tivessem viajado. O mundo seria infinitamente mais seguro se,<br />

por exemplo, quando chegou ao poder, Bush conhecesse mais qualquer<br />

coisa para além do México, do Texas e de Paris. Porque o viajante não tem<br />

leis, nem credos universais. Ele sabe que o mundo é demasiado vasto para<br />

a nossa capacidade de compreensão, que o mundo é demasiado diferente<br />

e complexo para ser reduzido a verdades pretensamente universais. Por<br />

isso, o verdadeiro viajante não parte com ideias-feitas nem sai de casa com<br />

o catálogo dos locais a visitar nem a programação detalhada da viagem.<br />

Como eu gosto de dizer, quando se viaja, não se procura, encontra-se. Ou,<br />

dito por outras palavras que já usei algures, não se encontra o que se procura,<br />

mas o que se encontra.<br />

Nos tempos que correm ( e vocês que me estão a ouvir devem estar a<br />

pensar nisso mesmo), é difícil, todavia, distinguir um viajante de um turista.<br />

Durante dez anos, à frente da Revista “Grande Reportagem”, que inaugurou<br />

em Portugal uma secção editorial de viagem, eu tentei – subtilmente umas<br />

vezes, irritadamente outras – explicar aos leitores a diferença entre uma<br />

e outra coisa. Porque, na altura, eu sempre vi o turismo de massas como<br />

a morte da viagem, a antítese da viagem. No meu conceito romântico e,<br />

talvez elitista, de viagem ela deve conter necessariamente uma dose q.b.<br />

de solidão, de desconforto e de desnorte. Exactamente, o oposto do turismo<br />

organizado, que é mais fácil, mais seguro, mais barato e onde, acima<br />

de tudo, o que valoriza a viagem é o “convívio” e não a solidão. Hoje, sei<br />

que esta é uma causa perdida. O turismo de massas tem aspectos sociais<br />

que não são neglicenciáveis. As excursões de grupo, fazendo baixar os<br />

preços, abriram um horizonte novo a milhões de pessoas que, de outra<br />

forma, nunca teriam viajado. De acordo com a regra democrática essencial,<br />

o direito da maioria triunfa sobre o da minoria. E não há nada a dizer, não há<br />

razão para protestos. Apenas um leve reparo: acho que os programas das<br />

agências de viagens deviam deixar mais tempo livre para os seus clientes<br />

descobrirem os países por si próprios, em lugar de terem a papinha toda<br />

feita e programada ao minuto: pequeno-almoço no hotel às 9:00h, saída<br />

em autopulmann para visita às Pirâmides de Gizé, às 10:00h, com possibilidade<br />

de passeio a cavalo à roda das pirâmides, partida para Luxor às<br />

12:00h, com paragem para almoço no Oásis de Nefrit, no Hotel 4 estrelas<br />

Ramsés II, chegada a Luxor às 17:00h e visita ao templo de Hatshepsut e<br />

ao túmulo de Tutankhamon, alojamento no navio-cruzeiro Song of Nile, 4<br />

estrelas, com jantar a bordo e espectáculo de danças tradicionais com par-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!