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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

72<br />

o afastamento para Macau, mas também do desenraizamento de Pessanha<br />

em relação a Portugal metropolitano.<br />

Ana de Castro Osório veio viver cedo para Setúbal e fez uma trajectória<br />

muito diversa, mesmo do ponto de vista literário, do seu irmão Alberto<br />

Osório de Castro. Primeiro, opta por escrever sempre em prosa, em narrativa,<br />

o que levanta, por vezes, alguns problemas em relação à fronteira<br />

de ficcionalidade e à narrativa não ficcional. Sobretudo torna-se uma figura<br />

muito interessante do ponto de vista cívico-cultural, porque tem uma intervenção<br />

cívica muito importante mas que reveste sempre uma feição cultural,<br />

e tem uma feição cultural que nunca abdica da sua valência interventiva.<br />

Começa com essa intervenção cívico-cultural ainda no final do século<br />

XIX e, já no final da sua vida, já nos anos 30 do século XX, mantém uma<br />

actividade bastante intensa, mais notória por partir de uma mulher. Essa<br />

intervenção tem, pelo menos, uma tripla feição: uma claramnete política,<br />

através da imprensa, do livro, da palestra, de teor emancipalista, uma luta<br />

pela emancipação, quer da emancipação de classes desfavorecidas, não<br />

apenas economicamente, mas sócio-culturalmente, quer da emancipação,<br />

em particular, da mulher. A intervenção de teor emancipalista não abdica<br />

naturalmente da sua componente crítica, que conduz a uma finalidade mais<br />

pedagógica do que subversiva, e o estilo, a forma de conteúdo dos seus<br />

textos nunca é panfletária Ela evita a ênfase declamatória, os estereótipos<br />

estilísticos de grande eloquência.<br />

A orientação ideológica dela é claramente republicana e dentro desse campo<br />

republicano, (que ela partilhava, aliás, com o marido, um poeta secundário,<br />

Paulino de Oliveira, que, em tempos, David Mourão-Ferreira quis também<br />

arrancar do esquecimento e que eu contemplei também na minha tese de<br />

doutoramento em Coimbra) distingue-se por uma luta particular em favor,<br />

por um lado, da condição feminina, por outro lado, da educação, uma crença<br />

muito própria dessa geração e que vem na sequência do que foi a aposta<br />

dos grupos minoritários no campo intelectual português que tentaram uma<br />

introdução da modernidade de matriz iluminista e depois, em particular,<br />

com a geração de 70.<br />

Uma obra onde isso se reflete é Às Mulheres Portuguesas, mas eu referiria,<br />

de preferência, um outro livro que já faz a transição para a faceta da criadora<br />

literária, A Grande Aliança, que recolhe uma série de conferências feitas no<br />

Brasil no início dos anos 20. Aí ficam muito claros certos traços ideológicos<br />

que hoje se esquecem quando pensamos na oposição dessa altura entre o<br />

campo republicano/jacobino e o campo monárquico/tradicionalista. Estou

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