PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian
PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian
PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ou é clássico ou não é. Porquê esta destrinça?<br />
Até porque eu tenho presente, do Encontro de há dois anos, que alguém<br />
levantou, pertinentemente a questão da Literatura para Infância ou para<br />
Crianças padecer sempre, como o Tribunal de Menores, de uma espécie<br />
de estatuto de menoridade e eu pergunto-me se a classificação, Clássicos<br />
Infantis, não poderá arrastar esse ónus, esse risco. Porque não dizer só<br />
clássicos?<br />
MM<br />
Pois, eu penso que é importante não confundir o estatuto de menoridade<br />
com uma especificidade.<br />
PMP<br />
Não, mas eu não estou a dizer que isso seria o adequado. Eu digo é que há<br />
esse risco, haverá?<br />
MM<br />
De facto, há referentes que pertencem a determinadas faixas etárias. O que<br />
não quer dizer que não se prolonguem para a vida toda.<br />
Provavelmente os clássicos da literatura para a infância são textos matriciais<br />
que organizam o nosso imaginário para toda a vida.<br />
PMP<br />
Isso também se pode dizer do Homero para quem o leu.<br />
MM<br />
Sim, mas repare, isso depende. Depende se leu Homero no texto original,<br />
se leu nas adaptações, se leu nas vulgatas dirigidas às crianças. Do que é<br />
que nós estamos a falar quando falamos desse tipo de referências?<br />
Eu penso que são textos que nos trouxeram temas e personagens que convivem<br />
connosco ao longo da vida e que nos fazem sentir uma reconfortante<br />
segurança numa comunidade cultural. Sentimos que temos elos de pertença<br />
a uma determinada comunidade. São essas referências básicas que nos<br />
permitem constituir uma identidade cultural, um sentido de pertença no espaço.<br />
Hoje, que tanto se fala em Europa, é importante perceber que o nosso<br />
imaginário, sobretudo na literatura para a infância, é comum, porque nós<br />
importámos os grandes autores europeus quando a nossa literatura para<br />
crianças ainda era muito incipiente e hoje, provavelmente, quando nós falamos<br />
em clássicos portugueses não nos apercebemos que os clássicos<br />
alemães, os franceses e os ingleses, já andam misturados com os clássicos<br />
portugueses, porque eles são tanto nossa pertença como são, obviamente,<br />
de outros países.<br />
PMP<br />
Eis um argumento que os federalistas iam adorar ouvir. É um óptimo e<br />
poderoso argumento sob o ponto de vista do comportamento das pessoas<br />
e das mentalidades.<br />
XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />
155