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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

166<br />

estiveste até aos dezassete anos em Luanda e tiveste, muito seguramente,<br />

muitos colegas que vinham de muitas partes de Angola e a pergunta, como<br />

é evidente, é: o que é para um menino do Huambo, (que é aquela boutade<br />

habitual quando se fala destas coisas) ou para outro jovem ou outra pessoa<br />

qualquer de outra parte de Angola, (que são muitas nações dentro daquela<br />

nação), um Clássico em função do que tu observaste?<br />

Ondjaki<br />

Nós, os que somos de outras latitudes, normalmente a nossa presença é<br />

requisitada, mais por causa disso do que por causa…<br />

PMP<br />

Não, eu disse que estavas aqui como criador.<br />

Ondjaki<br />

Eu estou aqui como criador africano, mas não há problema nenhum.<br />

PMP<br />

Eu não disse africano.<br />

Eu disse como criador, mas, já agora, fala-nos sob esse ponto de vista.<br />

Ondjaki<br />

Só ia dizer que é curioso, a requisição normalmente é essa e está bem que<br />

seja, de vez em quando. Para mim também seria bom participar simplesmente<br />

porque escrevo ou porque sonho. Isto para começar a explicar que<br />

eu vou aqui fazer uma brevíssima reflexão que é, de facto, uma reflexão<br />

cultural e contextualizada. Sendo que eu não gosto muito, porque não sou<br />

estudioso da matéria, de falar de questões que acabam por generalizar,<br />

não posso falar daquilo que é o Clássico dos angolanos ou aquilo que os<br />

angolanos consideram Clássico, mas posso, eventualmente, passar a visão<br />

daquilo que eu apreendi.<br />

Eu fiz aqui um esquema breve, porque, de facto, nos últimos tempos e<br />

principalmente para as pessoas da minha geração, não é possível falar de<br />

Angola, das coisas de Angola e de coisas relacionadas com o nosso processo<br />

de maturação e crescimento, que não passem pela guerra. Essa é<br />

uma das coisas que me interessa e que eu vou observando, quer se fale<br />

de bicicletas, de literatura, de história, de qualquer tipo de criatividade, de<br />

criação; nas crianças, nos jovens há sempre o factor guerra presente. Agora<br />

é um factor guerra imanente, começa a ser ausente, mais como memória<br />

do que como prática.<br />

Isto divide basicamente a coisa em dois contextos: o rural e o urbano. Eu<br />

cresci num contexto urbano, tive contactos com pessoas que vieram de<br />

contextos rurais. Começo pela guerra, porque a guerra criou uma série de<br />

limitações, isto é, os sítios de apreensão daquilo que seriam os Clássicos,<br />

mesmo do ponto de vista literário, que se dividem, por exemplo, entre a<br />

casa, a escola e depois os processos individuais de cada um, em Angola,<br />

começa só na Escola.

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