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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

34<br />

Todos estes estiveram no deserto arábico, no Sahara que, apesar de tudo,<br />

é o deserto dos desertos. O principal terá sido Charles de Foulcaud, o Père<br />

Foulcaud, que era um aristocrata francês, que se juntou ao exército e, depois<br />

foi padre e que, além do mais, era um extraordinário desenhador e<br />

navegador. Há um livro dele, de 1885, de desenhos, lindíssimo, chamado<br />

“Esquisses sahariennes”, com legendas. Foi o primeiro homem a fazer um<br />

dicionário de tarki/francês (tarki é a língua dos tuaregues). Foi misteriosamente<br />

assassinado pelos tuaregues, de quem era amigo.<br />

Nas Américas, temos o nosso Pedro Teixeira, que fez o relato da descida do<br />

rio Amazonas para o Rei Português; o alemão Alexander de Humbold, que<br />

esteve, em 1800, a viajar pela amazónia e pela América Central e do Sul; o<br />

inglês naturalista Charles Watterton, que viajou pela Guiana no princípio do<br />

século XIX e, já nossos contemporâneos, Chatwin e Luís Sepúlveda, que<br />

viajaram pela Patagónia.<br />

Na América do Norte, temos, entre muitos, o clássico Kerouac (mais pela<br />

literatura do que pela viagem) e, para acabar, temos os grandes viajantes<br />

escritores dos extremos da Terra:<br />

Charles Willdes, o primeiro na Antártida. E os homens dos Pólos: Schackletton,<br />

Scott, Edmund Hillary (Everest e Pólo Sul) e Richard Byrd que sobrevoou<br />

o Pólo Norte, em 1926, e lá hibernou.<br />

E eis uma lista que, por muito que vos possa ter parecido aborrecida, eu<br />

fiz questão de citar – porque eles são, verdadeiramente, os indispensáveis<br />

–ao falar de viagens e de literatura de viagens, são autêntico Património da<br />

Humanidade. Ao ler os seus livros ou relatos de viagem, um leitor desconhecedor<br />

ou desatento poderá ser levado a pensar que eles viveram coisas<br />

extraordinárias, num mundo deslumbrante, que hoje já não existe. E, em<br />

parte é verdade. Só que a outra parte, que muitas vezes não é evidente<br />

por si, é o tremendo esforço físico e psíquico, os sacrifícios inenarráveis<br />

que penaram, a obstinação, a coragem e a loucura de que tiveram de dar<br />

mostras para levar a cabo as suas viagens. Quando, por exemplo, lemos<br />

na escrita depurada, quase humilde, de Wilfred Thesiger, a sua descrição<br />

da travessia das Areias Ocidentais do Deserto Arábico, não conseguimos<br />

imaginar o que significa andar 16 dias sem encontrar água, sabendo que<br />

a vida está suspensa de dois acontecimentos: encontrar o próximo poço<br />

naquela imensidão vazia e que o poço não esteja seco. E, todavia, nesses<br />

dias em que se jogava a sua própria vida, Thesiger foi capaz de escrever<br />

páginas exaltantes sobre a grandiosidade do que via e sentia e de tirar

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