PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian
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MCS<br />
Era mais isto: «nós perdemos imenso tempo, mas agora damos este presente<br />
à humanidade». É quase dar uma prenda à humanidade.<br />
Agora não sei se todas as pessoas que fazem um Clássico têm a noção de<br />
dar…<br />
PMP<br />
Eu acho que a novidade, nesse caso, é precisamente a consciência disso.<br />
Eu diria quase o desplante.<br />
MCS<br />
Penso que Shakespeare tinha essa noção. Não sei há outros autores, não<br />
só na literatura, mas noutras formas artísticas, que tenham a perfeita noção;<br />
pelo menos têm a aspiração. Depois pode não passar o teste do tempo.<br />
(Não sei se saí muito da pergunta e isso é um conflito que eu tenho)<br />
A noção de Clássico é uma coisa que não muda, é um padrão que vai ficar<br />
para sempre, mas talvez eu não tenha razão e isto seja um argumento sentimental.<br />
Eu acho que os Clássicos, muitas vezes, vêm por ruptura. Uma pessoa que<br />
consegue estabelecer um Clássico não vem propriamente no seguimento<br />
de tudo o que foi feito. Muitas vezes vêm por ruptura; por exemplo, neste<br />
caso da descoberta do ADN, ninguém a podia prever e aquilo era uma ruptura<br />
com tudo o que estava para trás.<br />
PMP<br />
É engraçado que isto, de alguma forma, seja o contrário do que foi dito. É<br />
a inscrição numa cadeia, é uma espécie de passagem de testemunho, não<br />
é?<br />
Estamos a falar da ciência, precisamente, mas também se inscreve numa<br />
história.<br />
Eu queria aferir com o Miguel isto: estamos a falar de ciência, não é? Mas<br />
haverá assim uma diferença tão grande? Porque, de facto, para se ter chegado<br />
a essa página da (qual era a revista?) The Nature, para se ter chegado a<br />
essa página sobre o ADN e a essa frase há toda uma história para trás.<br />
Portanto, a pergunta que eu faço é (agora sim, vou usar uma expressão<br />
completamente sentimental): que carinho é que os cientistas, os investigadores<br />
têm pela história que os precede e que precede os seus trabalhos?<br />
Interessam-se? Cultivam a consciência do lugar que ocupam numa cadeia<br />
ou estão absolutamente tomados pela experiência imediata? É porque isto<br />
remete para a ideia da consciência, da pertença a uma comunidade e eu<br />
tinha curiosidade de espreitar para dentro de um laboratório, dos vossos<br />
laboratórios e saber como é que vocês se colocam.<br />
MCS<br />
A resposta é sim.<br />
Nós não nos podemos posicionar como um satélite que acabou de apa-<br />
XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />
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