17.04.2013 Views

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

170<br />

A resposta dela foi extraordinária, tendo em conta que é uma estudante do<br />

terceiro ano de arquitectura, de uma família que pertence à classe média<br />

alta, que tem livros em casa, que já os avós eram formados. Se fosse uma<br />

aluna minha, ou noutras circunstâncias eu aprofundaria, porque tento sempre<br />

ir ao fundo das coisas procurando a verdade, que é muito difícil.<br />

Como professora, eles pensam sempre que se dizem o que pensam, se<br />

calhar, têm pior nota, portanto, é melhor dizer o que o professor quer ouvir.<br />

Mas eu tenho por hábito, conduzi-los a dizer a verdade, porque não os<br />

penalizo por isso e sempre fiz isto na vida. Não nasci com a capacidade de<br />

me iludir.<br />

Estou aqui a criar suspense sobre o que ela me disse do programa em que<br />

a Júlia Pinheiro fala com um burro, na Quinta das Celebridades. Disse-me<br />

assim: «sabe, ver esses programas é difícil, é preciso aprender a vê-los, não<br />

é uma coisa fácil, mas depois quando a pessoa aprende é muito interessante».<br />

Fiquei estupefacta e como vos digo gostaria de ter aprofundado o<br />

que ela me queria dizer com aquilo, porque ela não estava a brincar!<br />

Portanto, é óptimo estarmos aqui a falar de tudo isto e às vezes esquecermo-nos<br />

do mundo que está lá fora.<br />

Eu ponho sempre o problema: o que é que eu posso fazer, com estes alunos,<br />

para semear o desejo de ler para que eles, por sua alta recreação, seja<br />

qual for o seu percurso, cheguem a poder um dia apreciar uma obra de arte.<br />

Por exemplo, quem olha para os Jerónimos e não sabe nada de História,<br />

nunca ouviu falar nada da História da Arte, vê um edifício grande, branco<br />

e vai achar bonito, mas não vai muito além disso; quanto mais História da<br />

Arte souber, melhor vai apreciar tudo aquilo. Portanto, o que é que eu posso<br />

fazer com os meus alunos para que ainda que se tornem, por exemplo, funcionários<br />

de uma bomba de gasolina, tenham adquirido hábitos de leitura<br />

que lhes abram horizontes? O caminho não é um, o caminho é múltiplo,<br />

não há um percurso único. Se quisermos um percurso único, conseguimos<br />

cativar uma pequena faixa e os outros ficam todos de fora.<br />

E nisto volto à história da verdade.<br />

Tenho uma experiência que gosto de contar do que é procurar a verdade.<br />

Eu fui um dia ao Faial, estava na Cidade da Horta, e, por uma série de<br />

coincidências engraçadíssimas, o único leitor que tínhamos nessa altura,<br />

(agora temos muitos) na Cidade da Horta, era filho duma funcionária da TAP.<br />

Quando eu fui tratar do bilhete, ela chamou o filho para me ver. Fui dar um<br />

passeio com o miúdo para ele falar da sua terra. Quando íamos na marginal<br />

que tem aquelas casas antigas muito bonitas, o miúdo começa-me a dizer:<br />

“estas casas maravilhosas, antigas têm de ser preservadas, não se pode<br />

tocar em nada disto, não se pode nunca alterar…”<br />

Eu comecei a achar aquilo tão estranho, fui criando à-vontade, fomos conversando<br />

e depois disse: “olha lá, Pedro, se tu mandasses realmente, se

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!