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PDF - Leitura Gulbenkian - Fundação Calouste Gulbenkian

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XVI Encontro de Literatura para Crianças<br />

172<br />

que os pode fazer aderir.<br />

Isto para quê? Para que, a partir de certa altura, sigam sozinhos. Um professor<br />

pode fazer muito, mas não pode fazer tudo; quantos livros pode ler<br />

com os seus alunos num ano? Tem é que lhes criar o gosto, o desejo, a<br />

ansiedade, o vício pela leitura.<br />

Se eu der aos meus alunos um livro que eles achem uma maçada, provavelmente<br />

não o lêem, fingem que o lêem. Copiam fichas de trabalho dos<br />

colegas.<br />

Aliás, eu pertenço a uma família de quinze irmãos e tive um irmão que odiava<br />

ler e então, em pequenos, ensaiámos tudo o que é possível para enganar<br />

os professores.<br />

Eu lia os livros e combinava com ele o que é que ele dizia para fazer um<br />

vistão nas aulas e fomos sempre bem sucedidos. Ele nunca foi apanhado!<br />

Portanto, eu digo sempre aos meus alunos que não me conseguem enganar,<br />

porque eu fiz tudo o que é possível para enganar um professor!<br />

Se eu der um livro maçador eles levam para casa, começam, acham uma<br />

chatice, fecham o livro e vão ver a Júlia Pinheiro a falar com um burro.<br />

Se lhes der um livro que, de facto, os arrebate, se calhar, eles reagem ao<br />

contrário e acham estúpido um programa com uma mulher a falar com um<br />

burro! E então eles é que vão encontrar o seu caminho. Como eu encontrei<br />

o meu. Mas eu sou, para já, privilegiada. Nasci a gostar de ler. Fui para a<br />

escola em Outubro, analfabeta e, no Natal, já só pedi livros. Aos dez anos,<br />

por exemplo, em férias, na quinta, eu podia ler Os Cinco e depois ia à biblioteca<br />

do meu avô e lia O Jogador do Dostoievski; portanto fui misturando<br />

tudo num entusiasmo, numa alegria, numa felicidade, numa descoberta.<br />

Depois podia falar sobre Os Cinco com os meus irmãos mais novos, mas<br />

sobre o Dostoievski, tinha que esperar que o meu avô estivesse disponível<br />

para falar comigo.<br />

Portanto, sou privilegiada, como todos os que estão aqui, porque todos<br />

provavelmente nasceram a gostar de livros, mas os outros temos de os<br />

puxar para que eles partilhem deste gosto e se lhes impusermos um caminho<br />

que foi o nosso, se eu puser alunos de dez anos a ler Dostoievski afasto-os<br />

definitivamente da leitura, porque acham aquilo uma seca e vão concluir<br />

o quê? “Isto da leitura não é para mim”. E está o assunto arrumado.<br />

PMP<br />

O assunto não está arrumado. Vamos tomar um café, e quem vai assumir<br />

a palavra imediatamente a seguir ao intervalo é a Marta. Eu já ouvi a Olga a<br />

dizer que não.<br />

Portanto, isto promete para a segunda parte, pois vamos também abrir o<br />

debate à sala e falaremos sobre as adaptações e construções de elencos<br />

e das experiências de criação de bibliotecas singulares. Até daqui a dez<br />

minutos.

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