Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

More documents

Recommendations

Info

As aulas de dança contemporânea observadas revelam a grande mistura de linguagens presentes no Projeto , como: elementos de solo da dança moderna com ênfase nos movimentos de contração e expansão e alongamento, elementos de força da dança contemporânea e gestos influenciados pela dança de rua e pela dança afro-brasileira. Na vivência corporal, outros imaginários são resgatados, proporcionando um distanciamento de aspectos mais ligados ao utilitarismo e uma aproximação da dimensão artística e lúdica. Essa corporeidade, desprendida de um discurso racional, permite que os mitos e os deuses da mitologia negra sejam evocados no palco. Há nos espetáculos um resgate das origens étnicas, ao mesmo tempo em que o cotidiano atual do morro também é coreografado. Essa tendência de levar o morro para o palco se assemelha à corrente bauschiana, que transporta gestos cotidianos para a cena, dando-lhes uma dimensão estética. O próprio fato de levar a pobreza dos gestos cotidianos contemporâneos para o palco ou algumas danças socialmente consagradas já é uma forma de denunciá-los, de mostrar seus limites e interdições e a partir daí transformá-los. A improvisação, a retórica urbana e os objetos ordinários que compõem o cenário das favelas, como sacos de lixos, ganham uma dimensão estética e toda uma outra rede de sentidos quando postos em cena. Essa ideia de transformação abre espaço para uma plasticidade semântica, em que a ação de dar uma nova forma pode ser vivida de várias maneiras. Dar nova forma ao cotidiano pode significar que a rotina será alterada, que novas relações serão formadas, que outros mitos e crenças serão reavivados, que os desejos podem mudar, enfim, que outras formações simbólicas permearão o cotidiano desses jovens, criando novos sentidos a partir das novas experiências vividas. Diferentemente da cristalização de sentidos do discurso social mostrado nos jornais, transformar não passa só pela ideia de abandonar a favela e ser incorporado no universo do asfalto, ou deixar de ser desviante, ocioso, mundano, ou de se perder na vida optando pelo espaço da rua. O verbo transformar é polissêmico, é vivido por cada bailarino de forma singular e única. Não existe um modelo de transformação quando se pensa em uma experiência artística, lúdica, criativa. Cada um se transfigura de modo diferente a partir da arte. SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011 121
3.3 A AULA DE CIDADANIA Logo colocaram a professora de cidadania para conversar comigo. Ela me explicou o que fazia, fiquei pensando a razão da inserção daquela aula em um projeto de dança. Diário de campo (14 de março de 2003) Entre as muitas aulas de dança, os bailarinos também têm, semanalmente, aulas de cidadania, compondo o conteúdo curricular do Projeto . A aula de cidadania é dada por uma jornalista, que utiliza primordialmente jornais como material didático para gerar temas para discussões. “Eu não fico falando sobre coisas que estão fora do universo deles, eu lido com fatos diários, abordando questões que vão desde a economia do país e os direitos do cidadão a dicas de saúde, alimentação, cuidados com o corpo, sexualidade”, disse a professora. E revelou que muitas vezes precisa iniciar o tema de cidadania falando da necessidade de existir para a sociedade, “e o primeiro passo está na certidão de nascimento, que muitos não têm”. É interessante pensar nos dados populacionais oferecidos pelo IBGE e a quantidade de pessoas que não possuem sequer registro de nascimento; ou seja, existe uma camada da população invisível aos olhos do Estado, cuja cidadania é prematuramente inviabilizada. A professora conta que é solicitada pelos alunos e suas famílias, que a consultam sobre situações como falta de luz, cobrança indevida das contas de telefone, como tirar documentos ou como cozinhar de forma saudável 6 . Analisando com mais rigor essa questão, indaga-se o porquê da inserção diária de aulas sobre “cidadania” em um projeto artístico. Existem algumas construções imaginárias que estariam regendo o programa curricular do Projeto? É possível que a aula de cidadania seja usada para lhes dar legitimidade, justificando sua “relevância social”, reproduzindo o imaginário que circula na sociedade de que, para um projeto ter importância, valor e patrocínio, deve estar vinculado a uma 6 A professora diz que ensina como preparar comida macrobiótica, e anda o tempo todo com uma foto que a mostra com 40 quilos a mais. “Acho que isso impressiona os alunos, eles aderem à dieta rapidinho”, diz ela. 122 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011
Page 1 and 2:
www.sesc.com.br 16 SESC | Serviço
Page 3 and 4:
SESC | Serviço Social do Comércio
Page 6:
APRESENTAÇÃO A revista Sinais Soc
Page 9 and 10:
SOBRE OS AUTORES Cristina Cuiabáli
Page 11 and 12:
REPERCUSSÕES DO ICMS ECOLÓGICO NA
Page 13 and 14:
INTRODUÇÃO 1 É fato notável que
Page 15 and 16:
mente sobre os mesmos (BERKES et al
Page 17 and 18:
Assim, foram coletadas informaçõe
Page 19 and 20:
var ou preservar os recursos ambien
Page 21 and 22:
aplicação do ICMS Ecológico em M
Page 23 and 24:
FCM = Σ FCUCsTIs O Fator de Conser
Page 25 and 26:
Tabela 4 Fatores de Correção de T
Page 27 and 28:
Tabela 5 ICMS Ecológico arrecadado
Page 29 and 30:
(Continuação Tabela 5) Município
Page 31 and 32:
em outros setores da administraçã
Page 33 and 34:
ambiental, ecoturismo, democratiza
Page 35 and 36:
Portanto, o ICMS Ecológico tem apr
Page 37 and 38:
MATO GROSSO. Secretaria de Estado d
Page 39 and 40:
A HORA DE IR PARA A ESCOLA Daniel S
Page 41 and 42:
INTRODUÇÃO 1 A atenção à prime
Page 43 and 44:
Fonte: Thompson e Nelson, 2001 Figu
Page 45 and 46:
aos 36 meses. Interessante notar qu
Page 47 and 48:
0 a 3 anos 3 , e a pré-escola, dos
Page 49 and 50:
Tabela 1 Proporção de crianças f
Page 51 and 52:
3 ESTIMATIVAS DE IMPACTO DE FREQUÊ
Page 53 and 54:
Os demais artigos mencionados na ta
Page 55 and 56:
Estudo Base de dados Barros e Mendo
Page 57 and 58:
validade das estimativas ou interpr
Page 59 and 60:
são não observacionalmente distin
Page 61 and 62:
O terceiro grupo de determinantes d
Page 63 and 64:
idades muito pequenas. Não parece,
Page 65 and 66:
HETEROGENEIDADE DE IMPACTOS A terce
Page 67 and 68:
Fonte: Campbell et al., 2001. Figur
Page 69 and 70:
o nível educacional da mãe (tido
Page 71 and 72: Proporção de crianças Figura 8 P
Page 73 and 74: víduos. A primeira é o questionam
Page 75 and 76: Em outro estudo, Barnett (2004) mos
Page 77 and 78: Uma possível explicação para iss
Page 79 and 80: A essas características, pode-se a
Page 81 and 82: 37, 2009. Anais do…[S.l.: s.n.],
Page 83 and 84: GUIMARÃES, C.; PINTO, C.; SANTOS,
Page 85 and 86: e o segundo ciclos do ensino fundam
Page 87 and 88: CRIATIVIDADE Marsyl Bulkool Mettrau
Page 89 and 90: INTRODUÇÃO A história intelectua
Page 91 and 92: considerada como capacidade de cons
Page 93 and 94: Ainda descrevendo a pessoa criativa
Page 95 and 96: Ostrower (1989) e Rodari (1982) sus
Page 97 and 98: e, talvez por isso, faz pouco uso d
Page 99 and 100: tumamos de tal maneira a produtos e
Page 101 and 102: única ideia sob ângulos diferente
Page 103 and 104: mesmo tempo original e de valor”
Page 105 and 106: e BRAGOTTO, 2009) o exemplo de uma
Page 107 and 108: Actas do I Seminário Internacional
Page 109 and 110: ENTRE O DRAMA E A TRAGÉDIA: PENSAN
Page 111 and 112: INTRODUÇÃO A Proclamação da Rep
Page 113 and 114: 1 A DANÇA ARTÍSTICA SOBE O MORRO
Page 115 and 116: ) Explicitar as construções imagi
Page 117 and 118: Essa homogeneização do discurso f
Page 119 and 120: 3.1 AS VISITAS O primeiro contato d
Page 121: estou muito emocionada, achei o tra
Page 125 and 126: projeto social 7 , o próprio estil
Page 127 and 128: os bailes funk da minha comunidade
Page 129 and 130: novos códigos a serem compartilhad
Page 131 and 132: A expressão “canetar”, utiliza
Page 133 and 134: enquanto são crianças. Qualquer t
Page 135 and 136: 4.3 OS ALUNOS Os professores eram o
Page 137 and 138: A dança bastava-se por si mesma, r
Page 139 and 140: morador da favela em um bailarino o
Page 141 and 142: REFERÊNCIAS ANSART, P. Ideologia,
Page 143 and 144: GINÁSTICA ESCOLAR COMO DISPOSITIVO
Page 145 and 146: INTRODUÇÃO A relação histórica
Page 147 and 148: 1 EIXOS DO IMPERATIVO DA SAÚDE COM
Page 149 and 150: considerando-se todas as condiçõe
Page 151 and 152: medicina no século XIX, que é, po
Page 153 and 154: e práticas, sobretudo médicos, qu
Page 155 and 156: segue servindo de fundamento para q
Page 157 and 158: congestionando o cérebro, ativando
Page 159 and 160: de Azevedo se insere na lógica da
Page 161 and 162: REFERÊNCIAS AZEVEDO, F. A educaç
Page 163 and 164: NÚMEROS ANTERIORES EDIÇÃO 11 EDI
Page 165 and 166: EDIÇÃO 14 EDIÇÃO 15 164 EDUCAÇ
Page 167: Esta revista foi composta nas tipol
show all

Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?